O grupo Ultra fechou ontem, por R$ 1 bilhão, a compra da rede paraense de drogarias Extrafarma, a 8ª maior do país em número de lojas e a 9ª em faturamento. A operação foi realizada por meio de uma troca de ações: o Ultra passou a deter 100% das ações da Imifarma Produtos Farmacêuticos e Cosméticos, empresa dona da marca Extrafarma, enquanto os atuais sócios da Imifarma receberam 2,9% das ações da Ultrapar.
A Extrafarma, cuja sede é em Belém, possui 186 farmácias nas regiões Norte e Nordeste. A expectativa é que apure este ano receita bruta de R$ 1 bilhão e Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) de R$ 77 milhões. Em 31 de dezembro do ano passado, a empresa tinha dívida líquida de R$ 106 milhões, valor que será assumido pelo Ultra.
Com a compra, o Ultra pretende usar parte de seus pontos de revenda – mais de 10 mil, distribuídos entre 6,5 mil postos de gasolina Ipiranga e 4 mil de revenda de gás de cozinha da Ultragaz – para expandir em todo país a rede da Extrafarma, cuja marca será mantida. Apenas neste ano, o Ultra está abrindo 450 novos postos de gasolina, 250 lojas de conveniência AmPm (presentes na rede Ipiranga) e 300 lojas da Ultragaz. A marca Extrafarma será mantida.
A compra da rede paraense representa a entrada do Ultra em sua quinta área de negócios – a de varejo farmacêutico. A companhia, que faturou R$ 54 bilhões em 2012 e contabilizou Ebitda de R$ 2,405 bilhões, está presente nos segmentos de distribuição de combustíveis (por meio da rede Ipiranga) e de GLP (Ultragaz), além de atuar com logística (Ultracargo) e no setor químico (Oxiteno).
A opção pelo varejo é justificada pelo fato de o setor ser o que mais cresce na economia brasileira há vários anos. No caso do segmento de farmácias, o avanço, em termos reais, tem sido superior a 10% ao ano. O faturamento do setor superou R$ 60 bilhões em 2012, segundo estimativa da IMS Health e da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria da Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).
O Ultra acredita que o varejo farmacêutico deve continuar crescendo de forma significativa nos próximos anos graças ao envelhecimento da população, ao aumento da renda, ao maior acesso dos brasileiros a medicamentos – principalmente por causa da disseminação dos remédios genéricos – e à crescente demanda por produtos de higiene e limpeza.
“É um setor que está alinhado com o vento”, disse em entrevista ao Valor o presidente do conselho de administração do Ultra, Paulo Cunha. Ele lembrou que as farmácias passam por processo de consolidação e formalização, o que abre boa oportunidade de negócios para empresas como o Ultra. “A nossa entrada ajuda na formalização do setor.”
A consolidação está apenas no início. As dez maiores redes de drogarias do país detêm apenas 35% do mercado. A vantagem do Ultra é justamente dispor de mais de 10 mil pontos de revenda. A companhia acredita que a instalação de farmácias na rede Ipiranga aumentará o número de clientes em seus postos. “Cada loja da AmPm aumenta em 18%, em média, o movimento nos postos”, comparou Thilo Mannhardt, presidente do Ultra.
A entrada das farmácias nos postos de gasolina é uma operação “trabalhosa”, diz Cunha. Os postos não pertencem ao Ipiranga, mas aos franqueados, ao contrário das drogarias. O Ultra terá que alugar espaços nos postos para colocar suas farmácias. De qualquer forma, como as drogarias tendem a aumentar o movimento nos postos, os franqueados terão interesse no novo negócio. Além da AmPm, postos da rede Ipiranga abrigam outra franquia do Ultra – a Jet Oil, para serviços de troca de óleo.
A Extrafarma é uma empresa familiar, com 50 anos de atuação em distribuição de medicamentos. Dos sete sócios irmãos, apenas um, Paulo Lazera, dirige a companhia. Ele seguirá tocando o negócio, como diretor-superintendente, responsável pelo varejo farmacêutico. Também integrará a diretoria-executiva do Ultra.
Segundo André Covre, diretor financeiro e de relações com investidores do Ultra, a Extrafarma chamou a atenção também por seus padrões de governança. “É uma empresa-irmã do Ultra”, disse ele. O acordo de acionistas da Extrafarma tem, por exemplo, uma cláusula que impede os donos de ostentar riqueza. “Eles são muito ‘low-key’ [discretos]. A articulação dos sócios só pode ser feita em benefício da empresa”, diz Mannhardt.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo