A desaceleração do comércio varejista no primeiro semestre se deve à combinação entre diminuição no ritmo de expansão dos indicadores relacionados ao mercado de trabalho, como renda, inflação e maior seletividade na concessão de crédito por bancos e financeiras. Essa é a avaliação de Aleciana Gusmão, especialista da coordenação de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No acumulado do ano até junho, as vendas do comércio varejista  resceram 3%. É o pior desempenho para qualquer semestre desde a segunda metade de 2005, quando houve queda de 1,9%.

Entre janeiro e junho de 2013, o comércio varejista ampliado, que inclui as vendas de veículos, motos, partes e peças, e material de construção, subiram 3,7%.

“A renda do trabalhador continua crescendo, mas em um ritmo inferior, enquanto os preços continuam subindo”, disse ela. “Se antes não havia restrição ao crédito, hoje há. Concessionárias de automóveis que não pediam entrada, agora pedem, devido ao aumento de juros. O crédito está mais restritivo, embora isso não tenha impactado os juros para o consumidor ainda”, completou a especialista do IBGE.

Na passagem de maio para junho, as vendas do comércio varejista restrito subiram 0,5%, descontados os efeitos sazonais. Na comparação com junho do ano passado, o setor teve alta de 1,7%. O setor de combustíveis e lubrificantes respondeu por 48,2% da taxa interanual do comércio. O segmento teve alta de 8,2% na comparação com junho de 2012 e crescimento de 0,9% frente a maio, na série dessazonalizada.

“A metodologia da pesquisa não nos indica a composição da taxa mensal com ajuste sazonal. Mas, o peso interanual, nos serve de estimativa para afirmar que combustíveis e lubrificantes explicam grande parte da alta de 0,5% do co mércio entre maio e junho [feitos os ajustes sazonais”, disse a especialista do IBGE.

De acordo com Aleciana, as vendas de combustíveis e lubrificantes crescem em razão de os preços do setor aumentarem abaixo da inflação. “Por ser administrado, o setor vem crescendo”, afirmou ela.

No acumulado do ano, as vendas de combustíveis e lubrificantes subiram 6,2%, ao passo que, em 12 meses, o crescimento foi de 7,5%.

O ritmo de crescimento das vendas no varejo está menor. Em 12 meses desacelerou pelo sétimo mês consecutivo, mas o setor teve um desempenho melhor no segundo trimestre do que no primeiro, quando registrou pequena queda.

No varejo ampliado, que inclui aqueles dois setores, as vendas passaram de estabilidade no primeiro trimestre para alta de 1,4% no segundo.

Os setores que puxaram o crescimento do varejo no segundo trimestre foram o de móveis e eletrodomésticos, com alta de 2,2%, após queda de 1,1% no primeiro, e veículos, motos, partes e peças, com incremento de 1,2%, após recuo de 0,3%. São ambos segmentos que necessitam de crédito.

Combustíveis e lubrificantes também se recuperaram: de queda de 0,4% no primeiro trimestre, para alta de 5,4% no segundo.

Compras menos dependentes de crédito e mais afetados pela inflação, como as de hiper e supermercados, que tem grande peso no varejo, recuaram e impediram desempenho melhor do varejo. Nesse segmento, as vendas no segundo trimestre caíram (1,1%) mais que no primeiro (0,2%).

As vendas de vestuário e calçados registraram queda de 1,3%, após alta de 1,7% nos três primeiros meses do ano. Material de construção foi pelo mesmo caminho, com queda de 0,6%, após alta de 3,2%.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo