A família Klein, fundadora da Casas Bahia e sócia do Pão de Açúcar na rede de eletroeletrônicos Viavarejo, comunicou na sexta-feira que pretende vender suas ações.
A carta foi assinada por Michael Klein e endereçada às diretorias do Pão de Açúcar e da Viavarejo. Klein pede que a empresa tome “todas as atitudes necessárias” para a venda de 53.781.298 ações da família – e chega a indicar o banco coordenador da oferta, o Bradesco BBI.
Os Klein são sócios do Pão de Açúcar na Viavarejo. Eles são donos de 47% das ações. O Pão de Açúcar tem o controle e os 53% restantes.
O pedido da família Klein é um desfecho surpreendente para as negociações sobre o futuro da Viavarejo. Há cerca de um ano, os Klein e o Casino (controlador do Pão de Açúcar) negociam uma troca no controle da empresa. Nessas negociações, os Klein sempre se diziam compradores. O Casino aguardava uma oferta firme, que nunca veio.
Nas últimas semanas, porém, os Klein finalmente avançaram em sua proposta. O Bradesco se comprometeu a emprestar 2 bilhões de reais para a compra da participação de 53% do Pão de Açucar na Viavarejo. A família e um eventual sócio financeiro entrariam com mais um bilhão de reais. A proposta, portanto, avaliava a Viavarejo em cerca de 6 bilhões de reais.
Mas surgiu um problema para que as negociações avançassem: os resultados da Viavarejo começaram a melhorar muito. Segundo executivos próximos à empresa, o mês de abril foi “espetacular”. Os sócios começaram a especular – quanto uma Viavarejo revigorada valeria na bolsa?
No início de maio, os possíveis coordenadores de uma oferta de ações da Viavarejo fizeram os cálculos e deram sua resposta – entre 9 e 12 bilhões de reais. Muito mais, portanto, que o valor que os Klein estavam dispostos a pagar.
No fim da semana passada, agendava-se uma reunião entre Michael Klein e a cúpula do Casino. A esperança dos envolvidos é que eles fossem concordar nos termos gerais da proposta e partir para a negociação dos detalhes. Mas, na quinta-feira, os dois lados perceberam que a distância entre o preço que um estava disposto a pagar e o que o outro estava querendo receber não era tão pequena quanto se imaginava.
O pedido de uma oferta pública de ações pode ser lido de duas formas. Na primeira, é isso mesmo que os Klein querem. Ou seja, se a Viavarejo vale mesmo tanto quanto os bancos acham que vale, não há por que não vender. Mas a carta da sexta-feira também pode ser a última cartada dos Klein para forçar uma negociação de venda.
Tanto os Klein quanto Abilio Diniz sempre basearam sua estratégia de negociação na percepção de que o Casino, embora diga o contrário, está na verdade doido para se livrar da Viavarejo – os franceses não têm outra operação de eletroeletrônicos no mundo, o negócio sofre com a concorrência do comércio eletrônico e as margens do financiamento de produtos encolhem há anos.
Mas, até agora, quem apostou no contrário ganhou. O Casino se manteve firme e Abilio acabou desistindo: vendeu suas ações preferenciais do Pão de Açúcar, adquiriu ações da BrF e, com isso, deixou de ser um potencial comprador da Viavarejo. Sobraram os Klein.
E, se eles venderem suas ações numa oferta pública, não sobrará ninguém. Como o Casino reagirá? Qual a real intenção dos Klein? É o que se descobrirá nas próximas semanas.
A carta dos Klein deve ser comunicada ao mercado amanhã.
(Por Exame) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo