>Espera-se que as redes adotem também estratégias de segmentação de formatos para atender a vários públicos

O crescimento contínuo do mercado interno impulsionou o varejo nacional para um novo patamar. Nos últimos dois anos, o setor supermercadista passou a representar 5,6% de toda a produção da economia nacional (PIB). A expectativa é de que o setor continue a crescer acima da média da economia e supere a marca de 6% do PIB na próxima década.

Essa expectativa se baseia em projeções: o faturamento do varejo de alimentos deverá crescer a uma taxa média de 10,3% ao ano no período entre 2008 e 2013. Se considerado apenas o volume de vendas das bebidas e dos alimentos mais procurados nos supermercados, o número é ainda mais impressionante, superando a casa dos 50%.

O aumento da demanda trará um desafio para o supermercadista, que deverá estabelecer relacionamento de maior proximidade com consumidores de perfil multifacetado. O aumento desta diversidade de compradores deverá requerer atendimento especial, mix diferenciado de mercadorias e uma gama de facilitadores da compra. Portanto, espera-se que as redes adotem também estratégias de segmentação de formatos para atender a esses vários públicos.

Os investimentos indicam que as lojas começam a se adaptar para se tornarem mais compactas e cada vez mais focadas em preferências e hábitos de consumo de sua vizinhança. Serão as peculiaridades do consumidor cativo do pequeno supermercado que deverão apontar a necessidade dos produtos a serem oferecidos nas gôndolas. Segundo o estudo, a escassez de espaços nas grandes cidades acaba contribuindo para esta regionalização supermercadista, causando redução do tamanho dos hipermercados e das lojas de grande porte.

Impulsionados pelo aumento da concorrência no varejo, os pequenos estabelecimentos deverão ampliar a procura pelo conceito de centrais de negócios, que agrupam lojas e redes menores com interesses em comum. Reunidos, estes grupos ganham força de negociação com fornecedores e podem obter preços mais acessíveis para seus clientes. O modelo, iniciado há 30 anos, ganhou impulso na última década, e hoje soma 3 mil lojas com faturamento anual de R$ 20 bilhões.

Além de todas as ações setoriais e mercadológicas, o supermercadista também não pode esquecer os fatores relacionados à experiência do consumidor. A valorização do ato de compra passa pela importância da ‘sensorialidade’ e do prazer durante a compra. Por isso cada vez mais o supermercadista passará a acompanhar de perto aspectos como entretenimento, lazer, ambientação, design, layout, comunicação visual e recursos que estimulam a interatividade no ponto-de-venda.

Segundo estudo de tendências do setor, até 2020 a interatividade entre cadeia industrial, supermercadistas e consumidor no ponto-de-venda deve acontecer por meio do produto, possibilitando alterações nos processos produtivos para adequação às demandas. Para que a integração ocorra instantaneamente, as empresas farão amplo uso das tecnologias de interação digital, como mídias sociais, com o objetivo de personalizar produtos.

Esta personalização deverá ser acompanhada por outras demandas deste novo consumidor, como é o caso da prestação de informações sobre os alimentos – valor nutricional, funcionalidades e propriedades relacionadas à saúde. Este deverá ser um serviço agregado à cadeia e que impacta diretamente os supermercados, no sentido de orientar a compra do consumidor final.

Além de oferecer produtos frescos e prontos para o consumo, o estabelecimento deverá se preocupar em oferecer um leque de produtos, visando a uma alimentação saudável, por exemplo. Certificados que garantam origem, rastreabilidade, qualidade e sustentabilidade vão ganhar cada vez mais espaço.

O consumidor também deverá definir o tipo de canal de vendas de alimentos que mais atende às suas demandas diárias, em função da conveniência, da praticidade e da variedade de produtos e serviços oferecidos em cada canal. Como já observamos hoje, o predomínio não será de um formato único, mas de uma série de modelos de características diversas para atender à multiplicidade de estilos de vida que a sociedade contemporânea comporta.

As soluções virtuais deverão tornar a proximidade do ponto-de-venda um fator de menor importância na hora da compra. Ainda assim, a compra virtual na loja de bairro deverá chegar mais rápido e com frete menor do que aquela feita em uma loja distante. Cada vez mais, o consumidor é quem vai decidir o que as lojas vão oferecer.

João Carlos Galassi é presidente eleito da APAS e diretor da rede Galassi, de Campinas.


Fonte: DCI – 20/08/2010