Depois que a hidroxicloroquina passou a ser citada como substância em potencial para o combate da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a procura disparou nas farmácias.
Novo levantamento mostra que, em parte das farmácias online, a terceira semana de março (entre os dias 16 e 20) teve alta de 17.000% na busca por medicamentos com a substância em relação à semana anterior.
O número é da base de clientes da startup curitibana Consulta Remédios, que oferece um serviço de marketplace para consulta de preços de medicamentos e compras. A startup tem 20 milhões de clientes por mês e 108 farmácias cadastradas nas cidades de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Segundo a Consulta Remédios, as cidades em sua plataforma com maior alta foram Curitiba e Rio de Janeiro. Nesses lugares, a procura por remédios à base de hidroxicloroquina cresceu mais de 11.300% e mais de 17.900%, respectivamente.
O estudo tem uma base restrita, mas é reflexo do movimento que tomou as farmácias, físicas e digitais, em meados de março. A procura pela substância começou sobretudo a partir do dia 19 de março, quando o presidente americano, Donald Trump, pediu para que a Food and Drug Administration, agência responsável por aprovar medicamentos nos EUA, adiantasse o processo de testes e a validação da hidroxicloroquina para o coronavírus.
Depois, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro postou vídeo dizendo que o Exército brasileiro ampliaria a produção da substância, e, em outros discursos, falou diversas vezes sobre o potencial medicamento.
Com a repercussão, pipocaram nas redes sociais diversos relatos de medicamentos com base na substância em falta nas farmácias. A farmacêutica Apsen, que fabrica o Requinol, um dos medicamentos com hidroxicloroquina, precisou triplicar a produção.
Ainda não há eficácia comprovada do tratamento com a substância contra a covid-19. A Anvisa, agência reguladora no Brasil, passou a proibir que remédios com hidroxicloroquina fossem vendidos sem receita.
Em entrevista recente à EXAME, o diretor do hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap, disse que os pacientes não devem tomar o medicamento sem recomendação médica ou de forma preventiva ao coronavírus. Além de desencorajarem a automedicação, especialistas apontam que a própria eficácia do remédio contra o coronavírus ainda está em debate e não é confirmada.
“Efeito Pugliesi” e ivermectina
Além da hidroxicloroquina, saltou a busca por outros itens de saúde na plataforma digital da Consulta Remédios. A procura por álcool em gel subiu 1.500%, enquanto as máscaras registraram crescimento de 758%.
Um dos itens mais buscados do período foi influenciado por outra personalidade, desta vez não políticos. A busca pelo Oscillococcinum, medicamento usado na prevenção e tratamento de estados gripais, subiu 314% entre 9 e 13 de março.
A alta aconteceu depois de o remédio ser citado pela influenciadora Gabriela Pugliesi. A blogueira, que contraiu coronavírus em uma festa que deixou outras dezenas de pessoas infectadas, postou em seu perfil no Instagram que estava tomando o medicamento durante seu tratamento contra a covid-19.
Agora, a bola da vez é a substância ivermectina, um antiparasita que apareceu em estudo da Monash University, na Austrália, e ganhou notoriedade no fim de semana. No teste feito pelos pesquisadores, o remédio foi capaz de inibir o crescimento do novo coronavírus em cultura de células, controlando o microorganismo em 48 horas.
A busca pelos medicamentos com a substância cresceu 558% na Consulta Remédios no sábado, 4, em relação ao dia anterior, quando o estudo australiano foi publicado.Veja também
Uma pesquisa do Conselho Federal de Farmácias (CFF) em parceria com o Instituto Datafolha, realizada em 2019, mostrou que, dentre os brasileiros que haviam feito uso de um medicamento nos últimos seis meses, a automedicação era prática comum a 77%. Dentre os entrevistados, 47% se automedicava ao menos uma vez por mês e 25% o fazia todos os dias ou ao menos uma vez por semana.
Em levantamento da Consulta Remédios com 5.000 usuários feito nesta semana, 73% também respondeu que costuma se automedicar.
“Em casos de pandemia, é muito importante que qualquer orientação de saúde seja dada por um profissional da área”, diz, em nota, a farmacêutica responsável pela plataforma da Consulta Remédios, Francielle Mathias, afirmando que a startup não incentiva a automedicação ou a busca pelas substâncias sem recomendação médica.Veja também
Ao todo, a receita da Consulta Remédios subiu 18%, e o número de pedidos, 41%, na terceira semana de março. A operação da startup reflete a própria alta no segmento de saúde no comércio eletrônico nas últimas semanas.
Levantamento da empresa de inteligência de e-commerce Compre&Confie, que monitora mais de 80% das compras online no Brasil, apontou que o faturamento de pedidos no segmento de saúde mais que dobrou, crescendo 110%. Em número de pedidos, a alta na saúde foi de 67%.
(Por Exame – Carolina Riveira )
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