A varejista de comércio eletrônico de móveis MadeiraMadeira inaugura nesta quarta-feira, 4, sua primeira loja física. O espaço fica localizado em uma das principais regiões comerciais de Curitiba, no Paraná, onde já está a sede administrativa da empresa.
A companhia não divulga o tamanho exato da loja ou o investimento no local. O movimento faz parte de uma estratégia de expansão e novos serviços da Madeira, que recebeu no ano passado um aporte de 110 milhões de dólares do grupo japonês Softbank (o Softbank investe em outras brasileiras como a startup de entregas Loggi, o serviço de planos de academia Gympass e o banco Inter).
A loja não terá estoque por ora, nem opções de retirar no espaço físico um produto comprado online. Há diversos ambientes decorados e, caso se interesse por um móvel à mostra, o cliente terá aparelhos para fazer a compra online na própria loja, com a ajuda de vendedores. O consumidor também pode navegar pelos mais de 1 milhão de itens já disponíveis no portfólio online da MadeiraMadeira. O espaço seguirá o modelo conhecido como guide shop, uma loja com uma pequena parte do catálogo à mostra e “compras guiadas” feitas online.
Fundada em 2010 pelos irmãos Marcelo e Daniel Scandian, a MadeiraMadeira faturou 515 milhões de reais em 2018, e a estimativa mais recente era fechar 2019 com 1 bilhão de reais. Em seu site, a empresa tem tanto produtos vendidos e entregues por seu próprio sistema quanto itens vindos de outras lojas, no sistema de marketplace.
Daniel, que é presidente da companhia, afirma que a ideia de montar a loja físico veio para “reforçar nosso relacionamento e o vínculo de confiança com o consumidor”. “Começamos a olhar para as lojas offline quando percebemos que precisávamos estar onde o cliente estava e queria ser atendido – tanto no online quanto no offline”, disse em comunicado sobre o novo empreendimento.
A empresa também vai apresentar na loja alguns itens de sua nova linha própria de móveis. A coleção própria foi outro dos projetos realizados com o aporte do Softbank e vinha sendo elaborada nos últimos meses por uma equipe da Madeira com a opinião de clientes, conforme antecipado pela EXAME em janeiro.
A ideia é que os móveis sejam fáceis de montar, com modelagem inteligente e ainda relativamente baratos, um tipo de eficiência que, na opinião da Madeira, ainda não é vista na indústria de móveis brasileira.
Loja da Madeira: móveis ficarão em exibição em espaços decorados, mas compras ainda precisam ser feitas online (MadeiraMadeira/Divulgação)
Para os móveis, confiança é essencial
Outra varejista que apostou nos espaços físicos recentemente foi a concorrente Mobly, que abriu em julho do ano passado em São Paulo capital sua primeira loja física. O espaço, visitado pela EXAME, funciona em modelo parecido à nova loja da Madeira, com itens para exibição e que podem ser encomendados online. Contudo, meses após o lançamento da loja, a Mobly começou a disponbilizar no local um pequeno estoque de mais de 200 produtos, a maioria de pequeno porte como itens de decoração, para que consumidores também pudessem ter a opção de levar algumas mercadorias na hora da compra.
Ao ter um espaço físico, as varejistas podem ganhar em marketing, já que a fachada da loja está exposta o tempo todo, e em confiança, com os vendedores dispostos a ajudar o comprador e fazer recomendações. Segundo os fundadores da Mobly, o ticket médio dos consumidores que vão à loja física aumenta, e, mesmo antes da abertura do espaço, 7% dos clientes já ligava na central de atendimento da empresa perguntando onde era a loja para que pudessem visitá-la.
Grandes varejistas vêm investindo na abertura de lojas físicas em plena era digital. O Magazine Luiza, elogiado por acionistas por mais de 40% de suas vendas virem do comércio eletrônico, inaugurou em 2019 mais de 200 novas lojas, chegando a estados onde não tinha presença física.
Além do Magalu, concorrentes como Via Varejo e B2W estão reforçando seus projetos de retirada do produto comprado online na loja, agilizando a entrega. A Multilaser, que vende sobretudo eletrônicos, abriu uma loja em São Paulo no ano passado para aproximar os clientes de seus produtos. Nos Estados Unidos, a Amazon, que nasceu 100% no comércio eletrônico, inaugurou nos últimos anos mais de 50 unidades da loja modelo Amazon Go, com alguns produtos em estoque e uso de tecnologia nos espaços físicos.
Móveis: a loja nova da Madeira terá também itens de sua linha própria de móveis, criada neste ano (MadeiraMadeira/Divulgação)
No caso do segmento de móveis, as iniciativas fazem parte de um objetivo ainda maior, que é tornar o processo de compra dessa categoria pela internet mais fluida e confiável. O prazo médio de entrega no e-commerce brasileiro é de cerca de 13 dias, segundo a empresa de inteligência Compre&Confie, mas a entrega de um móvel pode demorar mais de um mês em alguns casos.
Ainda assim, os guide shops, como operam sem estoque, ficam no meio termo entre uma loja física tradicional, onde é possível levar o móvel na hora, e a própria compra online, que tem a comodidade de não fazer o cliente sair de casa. Sozinha, a loja sem estoque não resolve um dos principais entraves do segmento de varejo de móveis, que são os longos prazos de entrega e altos custos de frete.
Não à toa, da lista de iniciativas recentes, a Madeira também lançou no ano passado seu braço própria de entregas, a Bulky Log, que promete reduzir o prazo de entrega dos móveis de 15 para 5 dias. Na mesma linha, a Mobly também possui a Mobly Log, que entrega parte dos pedidos feitos na plataforma da empresa. Além de melhorar o prazo e os custos da entrega, o objetivo é fazer um rastreamento mais preciso, avisando o cliente sobre a data de entrega do produto, por exemplo.
Móveis e outros artigos de casa e decoração geraram 7 bilhões de reais em faturamento no e-commerce em 2019, segundo a Compre&Confie. A fatia vem crescendo, mas ainda é pequena perto dos 16 bilhões de eletrodomésticos ou 19 bilhões de telefonia, categorias mais consolidadas no e-commerce. De entregas mais rápidas aos bons e velhos espaços físicos como apoio, as startups de venda de móveis tentam superar a desconfiança do consumidor.
(Por Exame – Carolina Riveira)
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