Enquanto o PIB brasileiro caiu 4,5% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2015, o o setor de franquias mostrou crescimento de 7,6%, segundo dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising) na mesma comparação.
A disparidade ilustra um fenômeno sistemático: mesmo com a economia encolhendo, o franchising brasileiro cresce.
O índice traz alento, mas gera também desconfiança: por que só as franquias crescem? Isso é sustentável? Pode haver uma bolha?
Especialistas ouvidos pela folha asseguram que não há motivo para pânico. E, entre as razões que listam para explicar o crescimento do setor está, inclusive, a recessão.
Com desemprego em alta, as pessoas têm optado por abrir negócios próprios, diz Antônio Sá, professor de varejo da FAAP.
A tese faz sentido. No primeiro trimestre de 2016, nasceram 516.201 novas empresas – um recorde desde 2010, segundo indicadores da Serasa Experian. O número é 7,5% maior que o de 2015.
Na hora de escolher, o aspirante a empreendedor vê na franquia mais segurança, por tratar-se de um negócio já testado, que não começa do zero e já tem uma reputação, diz Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper.
“Não há risco de bolha porque os setores de varejo e serviços ainda têm muitas lacunas no Brasil”, diz.
A consultora Claudia Bittencourt, diretora do Grupo Bittencourt, também refuta a possibilidade de tal risco.
“As franqueadoras exigem até recursos para investimento no capital de giro antes de aceitar o franqueado”, diz.
Segundo a ABF, existem atualmente 138 mil pontos de venda, ligados a 1.019 franqueadores associados à entidade. Parte deles vai estar na 25a ABF Expo, feira que acontece em São Paulo entre os dias 15 e 18 deste mês.
Claudio Tieghi, diretor de inteligência de mercado da ABF, diz que o contínuo crescimento do setor é fruto também de prevenção.
“Trabalhamos na redução de custos e em formatos mais baratos de franquia, como aquelas em que o franqueado trabalha de casa”, diz.
Outro plano da ABF para os associados seguirem crescendo foi incentivar as redes a abrirem pontos de venda fora dos grandes centros.
GARGALOS
Mas abrir uma franquia não é para todo mundo e demanda investimento.
Se por um lado o empreendedor não gasta com pesquisa de mercado e criação de processos, paga taxa de franquia para comprar a metodologia padronizada e o direito de usar a marca. Também desembolsa repasses mensais (royalties), que variam de acordo com os contratos.
“A pessoa tem de entender que está comprando uma ocupação, quase um emprego”, diz Antônio Sá, da FAAP.
O franqueado vai ser praticamente um funcionário de uma rede. Vai usar uniforme e obedecer normas, diz Marcelo Nakawaga, do Insper.
Ana Vechi, da consultoria Vecchi Ancona, alerta ainda que é preciso cuidado ao se apostar em franquias jovens, cujos modelos de negócios não forma testados, além de evitar os modismos.
A derrocada das franquias de paletas é citada como exemplo a não ser seguido.
Juliana Waniarka, 35, e Leandro de Freitas, 36, sentiram na pele o preço de apostar em algo novo demais.
Em novembro de 2014, o casal abriu uma franquia da paleteria Los Ticos na região da Granja Viana, zona oeste de São Paulo. Mas, passado o verão, viram o movimento despencar. Já há um ano, a loja deixou de vender só paletas, com anuência da rede franqueadora, que também não cobra mais royalties.
“Eles também estavam começando e concordaram que não dava mais”, diz Freitas.
CATEGORIAS
O setor de franquias oferece diversos tamanhos e segmentos de negócio. E caminhar na ABF Franchising Expo, feira do setor, pode ser um bom guia pelas possibilidades. O evento também terá palestras.
Dentre os segmentos de franquias com maior crescimento no primeiro trimestre de 2016, os líderes são “acessórios pessoais e calçados” e “lavanderia, limpeza e conservação”.
A rede de lavanderias de origem francesa 5àSec é a maior do setor, com cerca de 400 lojas. Segundo seu diretor de expansão Sérgio Carvalho, a previsão da rede é manter o mesmo patamar de 2015 e faturar R$ 200 milhões neste ano.
A Lava e Leva, do Mato Grosso do Sul, com menos de dois anos de vida, espera ter 300 lojas até o fim do ano. Parte desse crescimento deve vir da feira, da qual a rede participa pela primeira vez.
Cassiano Oliveira, da Easy Charge, de Ribeirão Preto, irá à feira com sua franquia de carregadores de celular com display para exibição publicitária. Com dois anos de atuação, a empresa quer se expandir no Sul e Sudeste.
A Limpidus, fundada em 1980, de limpeza de escritórios, volta à feira da ABF depois de 15 anos para alavancar seu crescimento e chegar a 120 franquias até o fim do ano.
Com só cinco meses de operação, a help!, do mesmo grupo que controla o banco BMG, já tem 250 lojas focadas em crédito para as classes C, D e E. Segundo o diretor Fernando Perreli, o plano é fechar 2016 com 600 lojas.
De olho no mercado do Brasil, a Jetro, entidade de fomento à internacionalização de negócios do Governo do Japão, mandará à feira uma comitiva de 13 pessoas. Duas franquias japonesas de restaurantes de Lámen (macarrão típico), a YS Foods e a Tentakaku, terão estandes.
(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM