Dentro de um shopping center na cidade chinesa de Xangai, um escorregador gigante que desce serpenteando do quinto andar arranca gritos e uivos das pessoas que estão testando o brinquedo.

“Depois de um tempo já não deu tanto medo”, diz Song Yucheng, um menino de dez anos que foi um dos primeiros a testar o escorregador. “Vou dizer para meus amigos experimentarem também.”

Os donos dos principais shopping centers da China estão testando uma variedade de estratégias para combater o excesso de oferta e a queda no tráfego de clientes. A segunda maior economia global abriga cerca de dois terços dos shopping centers em construção no mundo. E muitos projetos, principalmente nos subúrbios e novas áreas urbanas, já estão tendo dificuldades para alugar seus espaços e atrair consumidores.

A situação da China é um exemplo extremo dos problemas enfrentados por proprietários de shoppings centers ao redor do mundo, à medida que as compras on-line e a desaceleração do crescimento econômico corroem as vendas das lojas físicas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os shoppings estão transformando lojas vazias em espaços verdes e playgrounds para fomentar comunidades e aumentar o movimento. Na Índia, partes dos shoppings estão sendo convertidas em áreas de escritórios ou residenciais. E, em Cingapura, proprietários estão testando tecnologias para reduzir o congestionamento nas áreas de entrega e acelerar o trânsito dos produtos entre os fornecedores e as lojas.

“É uma tendência global oferecer mais experiências”, diz Joel Stephen, diretor sênior de varejo na Ásia da CBRE, uma consultoria do setor. “Isso é mais prevalecente na China porque há mais shopping centers, daí uma necessidade ainda maior de se diferenciar.”

O “Escorregador Feliz”, que tem 19 metros de altura e 54 metros de comprimento, foi instalado recentemente no shopping Ba Li Chun Tian (“Primavera de Paris”), em Xangai, pela sua administradora, aNew World Department Store China Ltd. Depois de pronto, o brinquedo poderá ser usado de graça por clientes de 7 a 50 anos que estejam bem de saúde, afirmou a administradora do shopping.

“O escorregador gigante é uma das grandes iniciativas” feitas “para aprimorar a experiência dos clientes no shopping”, diz uma porta-voz da New World. Para atrair mais famílias com crianças, o Ba Li Chun Tian também alugou a cobertura a um agricultor que organiza aulas para ensinar as crianças a cultivar seus próprios alfaces, repolhos e rabanetes e fazer suas próprias saladas.

Embora a economia chinesa esteja perdendo força, a enorme classe média do país ainda está impulsionando as vendas de varejo. Só que muitos consumidores agora compram seus produtos na internet, no exterior ou em outlets, tornando as compras nos shoppings tradicionais cada vez mais obsoletas.

Para agravar a situação, há uma concentração de shoppings centers e lojas de departamento semelhantes nas mesmas áreas.

A New World, cujas ações são negociadas na bolsa de Hong Kong, é dona de 38 lojas de departamento e administra outras quatro em 21 cidades da China. A empresa foi particularmente atingida pela desaceleração e a migração dos consumidores para a internet.

Muitas cidades chinesas menores estão sofrendo com um excesso de imóveis, inclusive shopping centers, depois que uma abundância de crédito provocou uma onda de construções a partir de 2009. Nos últimos anos, o incentivo que autoridades locais deram a projetos de uso misto também levou muitos incorporadores sem experiência com shopping centers a administrar um, com resultados variados. A China tem hoje o maior número de shopping centers em construção no mundo, ou cerca de 60% de um total de 41 milhões de metros quadrados.

Nos EUA, por exemplo, lojas âncoras e subâncoras se comprometem a alugar o espaço antes da construção do shopping. Mas, na China, as negociações de aluguel só começam faltando um ano para o shopping ser concluído, diz Steven McCord, chefe de pesquisa de varejo da consultoria JLL, em Pequim.

Shoppings centers fora das 30 maiores cidades chinesas e das áreas centrais de suas cidades estão sendo particularmente afetados. O total de lojas vazias em cidades de menor porte no norte da China, como Qingdao, Shenyang e Tianjin, chega a mais de 10%, com shoppings e lojas com desempenho ruim fechando ao redor do país, segundo relatório recente da CBRE.

Mas shoppings em cidades maiores também não foram poupados. Alguns estão promovendo eventos como desfiles de moda, instalações de arte e exposições de animais, enquanto outros estão melhorando as opções de comida e desenvolvendo mais plataformas para internet a aparelhos móveis.

Os estratagemas às vezes funcionam, chamando a atenção de lojistas e compradores.

Em Chengdu, uma cidade litorânea no sudoeste da China que tem uma população de 14,4 milhões de pessoas e vários shopping centers, o New Century Global Mall está atraindo famílias e turistas nos fins de semana devido a uma vantagem. Ele está localizado no maior prédio do mundo por área: cerca de 1,8 milhão de metros quadrados. Inaugurado em 2013, o shopping center conta com uma praia artificial e um parque aquático. Todas as suas lojas estão alugadas e os inquilinos incluem marcas como Nike, H&M, Etam e Toys R Us.

Em janeiro, a administradora Zheng Jia Group gastou US$ 104,7 milhões para reformar o Grandview Mall, em Cantão, no sul da China. O shopping de 11 anos ganhou um aquário de cerca de 91 mil metros quadrados e recintos para abrigar animais do Polo Ártico e da Antártida, incluindo belugas, raposas, pinguins e um urso polar, além de uma estátua gigantesca do deus grego Poseidon.

(Por The Wall Street Journal) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM