A gigante das farmácias americana CVS quer pedir revisão do valor pago aos antigos donos da Drogaria Onofre, segundo apurou o jornal O Estado de S.Paulo.

A redução do valor a ser pago pela empresa, que foi comprada por cerca de R$ 600 milhões em fevereiro de 2013, estaria prevista em contrato e poderia ser resolvida sem necessidade de recorrer a tribunais, por arbitragem. Mas, caso não haja acordo, a discussão pode acabar na Justiça.

Segundo fontes de mercado, o acordo entre a CVS e a Onofre previa alguns “tetos” para obrigações trabalhistas e fiscais que resultassem em ônus para a rede de drogarias depois da venda – limites esses que já teriam sido ultrapassados.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o valor a ser abatido da compra ainda não estaria definido, mas fontes disseram que as possíveis obrigações estariam entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões somente em processos trabalhistas.

Haveria também pendências fiscais e questões de eficiência operacional a serem adicionadas à conta.

Segundo fontes próximas ao assunto, a revisão do pagamento pela Onofre não envolveria a devolução de valores, já que uma parcela da aquisição ainda não teria sido paga aos antigos sócios. A diferença seria abatida deste resíduo.

A reportagem apurou que a rediscussão do valor pago pela Onofre só iria à Justiça caso não haja acordo administrativo entre as partes. A Onofre, agora sob administração da CVS, não quis comentar o assunto.

Ex-sócio da Onofre, Ricardo Arede não respondeu os contatos da reportagem. Uma fonte próxima à família dos fundadores disse, no entanto, que os antigos proprietários não veem motivo para a revisão de valores.

Webjet

A revisão de valores pagos em processos de aquisição de negócios costumam estar contemplados nos contratos, justamente para evitar uma longa briga na Justiça brasileira. Mudanças nos valores pagos não são um fato inédito. Ao anunciar a compra da Webjet, em 2011, a Gol originalmente anunciou um valor de R$ 311 milhões, sendo R$ 96 milhões em dinheiro.

O valor total da aquisição, no entanto, acabou sendo posteriormente reduzido e a Gol acabou pagando cerca de R$ 70 milhões em dinheiro. A companhia aérea optou, no fim das contas, por desativar a Webjet e abandonar a marca.

Aposta

Ao comprar a Onofre, a gigante CVS – que opera quase 8 mil lojas nos EUA – esperava formar uma plataforma para ganhar escala no Brasil. Prestes a completar três anos, o negócio continua praticamente do mesmo tamanho.

São 47 lojas, com forte concentração em São Paulo. Trata-se da única operação da varejista americana fora de sua terra natal.

A CVS, no entanto, só assumiu de fato o comando da empresa neste ano, quando nomeou o executivo Mário Ramos para presidir o negócio (ele entrou originalmente na rede de farmácias como diretor financeiro, no início de 2014).

O contrato original, intermediado pelo banco Barclays e pelos escritórios Pinheiro Neto (do lado da rede americana) e Mattos Filho (representando a Onofre), previa a permanência dos ex-proprietários no comando por dois anos.

Apesar de terem vendido 100% do negócio, ambos terão assento no conselho de administração até 2018, segundo fontes.

A Onofre foi fundada em Nilópolis, no Rio de Janeiro, na década de 1920. Posteriormente, o negócio foi transferido para São Paulo por Armindo, pai de Marcos e Ricardo Arede, que deram escala para o negócio e fecharam a venda para a CVS.

Segundo fontes, os irmãos impressionaram a rede americana à época pelo rápido crescimento do negócio, pela qualidade dos pontos de venda e pela operação de vendas pela internet.

No entanto, após assumir a rede de drogarias, a CVS teria se deparado com despesas extras que justificariam a revisão do valor. O Estado apurou que a gigante americana só pretende crescer de forma relevante no Brasil após deixar a operação da Onofre redonda.

Segundo fontes, a CVS chegou a olhar outras redes de maior porte – entre elas a Drogaria São Paulo-Pacheco, mas as conversas não foram adiante.

(Por Exame) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM