Dirigentes de entidades do varejo alertam: o pacote de medidas anunciado na segunda-feira pelo Ministério da Fazenda deverá afetar negativamente a saúde financeira do setor. Preços elevados nas prateleiras, menor procura por crédito e queda nas vendas são algumas das possíveis (e já esperadas) consequências dos aumentos de impostos. O argumento da equipe econômica do governo de arrecadar R$ 20,6 bilhões com as alterações – dando fôlego aos cofres públicos – não convence os lojistas de que este é o melhor caminho.
“Essas medidas tendem a tornar o crédito ao consumidor mais caro. Além disso, encarecerão fretes e influenciarão em uma menor competitividade dos produtos importados, tirando ainda a possibilidade dos lojistas de reduzirem custos de produtos internos”, dispara o presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV), Vilson Noer. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Gustavo Schifino, o setor varejista está “decepcionado” com a notícia. “Havia um compromisso de campanha de que isso não aconteceria. Uma das questões que mais preocupam é que, com todos estes aumentos, haverá impacto imediato no consumo.”
De acordo com a estimativa da CDL-POA, o avanço de 9,25% para 11,75% nas alíquotas de PIS e Cofins nas importações deve gerar – de saída – um incremento de 4% a 5% nos preços fixados nas prateleiras do comércio. “Isso deixa o Rio Grande do Sul em uma situação difícil em relação aos importados, piorando um cenário que já não era bom.” Schifino admite que o acréscimo em torno de 5% nos preços das mercadorias não só terá impacto de redução de vendas – já calculado em torno de 10% – mas também de oferta destes produtos.
O crédito ao consumidor, que seria uma alavanca para vendas, em tempos de massa salarial “não crescente”, será ainda mais reprimido, aponta o presidente da CDL-POA. “Com menos recursos, haverá menos dinheiro circulando no comércio, e isso deve afetar também o emprego. Certamente, haverá contenção nas contratações.”
A questão do crédito é complexa e complicada em função dos aumentos que já vinham acontecendo nas taxas de juros, completa Noer. O aumento de 1,5% para 3% ao ano da alíquota de IOF para pessoas físicas sobre operações do gênero é visto pela AGV como um complicador para os financiamentos futuros. “Se já está difícil, com os bancos encarecendo taxas de juros nos empréstimos (em vista do endividamento das famílias), vai piorar, prejudicando também o consumidor.”
O orçamento familiar será o mais pressionado, concorda o consultor empresarial Vinicius Piazzeta, presidente da Pactum. “As pessoas vão ter que escolher entre comprar produtos no supermercado ou ir ao cinema, por exemplo, pois haverá menos dinheiro. A família terá que revisar seu orçamento”, alerta o especialista, advertindo que tudo que é produzido no País ficará mais caro. “Além do pacote de aumento de tributos, ainda há a questão da Lei N º 12.973 de 2014 (inclusão do ICMS no PIS e Cofins), que vai impactar no preço de produtos e serviços produzidos internamente. “Além disso, muitos insumos da indústria tem que ser importados, encarecendo tudo, inclusive o que é produzido aqui”, ressalta.
“Dobrando a alíquota do IOF, se encarece o crédito, o dinheiro fica mais caro, e os critérios de liberação de empréstimos mais rígidos. A consequência é menos capital circulando na economia”, conclui o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado (FCDL-RS), Vitor Augusto Koch. “Em resumo, este conjunto de medidas vai refletir em inflação mais alta e empobrecimento das famílias, o que é lamentável.”
(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM