O Carrefour, segunda maior rede de supermercados do mundo, vai cortar investimentos na Argentina, mas no Brasil, a expansão das lojas, principalmente da rede Atacadão, vai continuar. A estratégia foi informada ontem pelo presidente mundial da varejista, Georges Plassat.
A performance do Carrefour no primeiro semestre foi puxada principalmente pela América Latina, onde foi registrado o maior índice de crescimento das vendas (16,8%, considerando-se taxas de câmbio constantes). O faturamento na região somou € 6,5 bilhões. O Carrefour também registrou o maior aumento do lucro operacional na América Latina, de 33,2%, se descontada a variação cambial. O valor de € 247 milhões obtido nas unidades latino-americanas representa quase um terço do lucro operacional total, de € 833 milhões, que subiu 7,9%. A região ainda teve a melhor rentabilidade, de 3,8%, da varejista francesa.
No Brasil, onde as vendas cresceram 9,3%, o grupo irá continuar sua expansão, principalmente das lojas Atacadão, que tiveram “performance excelente” e irá renovar seus hipermercados.
Plassat preferiu não dar detalhes sobre a oferta inicial de ações (IPO) do Carrefour no Brasil, que será realizada no próximo ano. “Mantemos o projeto de IPO [abertura de capital] com um parceiro no país, que pode ser uma holding familiar, ou também reunir diferentes investidores. Plassat se recusou a falar sobre o empresário Abilio Diniz. Disse que no Brasil “há inúmeras holdings familiares”.
Plassat também disse que o grupo está “vigilante” em relação à economia brasileira. “Ela está em compasso de espera, aguardando as eleições presidenciais. É preciso ver se após a Copa do Mundo e por trás da desaceleração existiria algo mais profundo”, disse. Ou seja, o grupo vai observar se existe um “clima de pessimismo” que influenciaria o nível de consumo.
O faturamento global do Carrefour no primeiro semestre, de € 35,9 bilhões, recuou 1,6% em razão do impacto cambial negativo nos mercados emergentes. Sem contar a variação monetária, a receita cresceu 3,4% na comparação com igual período do ano passado. Descontada a gasolina, o aumento foi de 4,3%, o melhor obtido nesse período nos últimos cinco anos.
Na França, a receita cresceu 1,9% de janeiro a junho. Nos demais países europeus, as vendas ficaram estáveis. Plassat demonstrou prudência em relação à economia mundial, com taxas de crescimento ainda baixas e desemprego que continua elevado em vários países, como a França. Apesar disso, o Carrefour irá manter os investimentos globais previstos em 2014, de cerca de € 2,5 bilhões. A varejista adquiriu 500 lojas no primeiro semestre.
“Vamos continuar nosso plano de três anos, lançado em setembro de 2012, para recuperar o grupo, baseado principalmente na redução de preços, um posicionamento internacional estratégico, na renovação de lojas e controle dos custos operacionais”, disse o CEO.
Os mercados, no entanto, não perdoaram: as ações do Carrefour fecharam ontem em queda de 4,77% na bolsa de Paris, uma das maiores reduções. Segundo analistas, a Argentina pesou na cotação, apesar da exposição limitada em relação ao país. Investidores também teriam demonstrado reticência em relação à possibilidade de manter o ritmo de expansão na França. Segundo Plassat, o desempenho no semestre foi “adequado e apreciável, mas não há motivos para se autocongratular”.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM