O e-commerce brasileiro fechou 2013 com 37 mil lojas virtuais e a expectativa é alcançar 45 mil em 2014. No entanto, 70% delas fazem menos de dez vendas por mês e são consideradas inoperantes, indica um levantamento feito pela ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).

“As pessoas se entusiasmam e não entendem que somente abrir uma loja virtual e colocar os produtos no ar é diferente de gerenciar um e-commerce, com infraestrutura de operação, entregas, reposição etc.”, afirma Mauricio Salvador, presidente da associação –a pesquisa leva em conta informações de 282 sites de venda de produtos.

A ABComm prevê que o setor vá faturar R$ 39,5 bilhões neste ano. As dez maiores lojas devem ser responsáveis por metade das vendas, diz Alexandre Soncini, 32, diretor de marketing da Vtex, uma empresa de tecnologia para comércio virtual.

Soncini conta que 30 mil pessoas entraram no site da companhia e se disseram interessadas em montar um e-commerce desde maio do ano passado. “Mais ou menos 10% realmente montaram a loja, e 5% têm vendas por mês”, conta.

Danielle Lasman, 31, ainda mantém a sua loja na web, a Bolsa Store, mas diz que já não dá mais tanta atenção à empreitada como no começo, em 2011.

Depois de um ano se dedicando ao comércio na web, ela começou a trabalhar com o marido em um restaurante. Passou-se mais um tempo e ela foi contratada para ser gerente de e-commerce de uma marca de lingerie.

A essa altura, o site ficou em segundo plano. Hoje, em um bom mês, ela vende 20 bolsas. Ela afirma que, entre outros motivos, mantêm o site vivo por gostar do trabalho.

“O lucro é o equivalente a metade do meu salário. E no emprego sofro mais cobrança por meta. No meu site também, mas se eu não atingi-las, não vou ser demitida.”

Marcel Werdesheim da Profite, afirma que manter um site como bico é uma tendência. “Isso é ruim? Não, é ótimo. Quem vende está feliz”, ele afirma.

Segundo Werdesheim, as barreiras de entrada para começar um e-commerce são muito baixas: o investimento inicial é baixo, e não é preciso conhecimento avançado em tecnologia.

Mas isso significa, também, que muita gente entrou e, por isso, a concorrência é grande. Para ter bons resultados, é preciso investir muito em marketing e construir uma marca.

E isso está ficando cada vez mais caro, diz Netto Rocha, 31, gerente geral de uma escola de negócios na web chamada Internet Innovation.

Ele exemplifica: há cerca de quatro anos, o preço pago por cada internauta que chegava ao site do curso por meio de um link no Google custava algo em torno de R$ 0,30.

Esse mecanismo do site de buscas funciona como um leilão, e hoje paga-se cerca de R$ 6 pelo mesmo resultado.

Além disso, diz Rocha, aumentaram também os custos de projetos de SEO (técnicas para fazer com que uma página seja mais evidente em sites de buscas).

Ele diz que os empreendedores, muitas vezes, só procuram aulas depois de um ano “batendo cabeça”. Rocha diz por experiência própria: ele mesmo fez isso depois que a loja dele não teve o sucesso que esperava.

A Biowear, que vende toucas cirúrgicas coloridas, ainda existe porque os custos de manutenção são baixas e ele, eventualmente, faz alguma venda, mas já não é a prioridade dele.

MUNDO REAL

“Quando um empreendimento físico vai mal, o empreendedor logo fecha as portas para não ter mais prejuízo. Como o custo de manter uma loja virtual no ar é baixo, muitas pessoas não se dão o trabalho de fechá-las”, explica Fred Ferreira, fundador da Ligue Site, rede de franquias de serviços digitais.

O número de lojas inoperantes na internet contrasta com a taxa de sobrevivência de novos comerciantes convencionais.

Entre as novas empresas de comércio, 22,3% morrem antes dos dois primeiros anos, segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O comércio de vinhos Varietal sobrevive com uma loja física, mas ainda pena no mundo virtual –lançado há quatro meses, o site tem enfrentado dificuldades.

“Temos uma média de cem visitas semanais, mas não fizemos nenhuma venda”, explica o gerente financeiro Antônio Carlos de Freitas, 32.

Para ele, o principal obstáculo é o meio de pagamento. “É preciso fazer um cadastro muito demorado. Isso carrega o site e as pessoas perdem a paciência.”

Ainda assim, ele não pretende desistir. “Vamos conversar com a empresa que montou a página e reformular algumas coisas”, diz.

 

(Fonte: Folha ) Varejo, Núcleo de Estudos do Varejo, Retail Lab