O zigue-zague no ritmo da atividade econômica ao longo deste ano provocou um descompasso entre o consumo e a produção industrial. Esse descasamento fez com que a indústria começasse o segundo semestre estocada, o que coloca em dúvida o crescimento do setor no curto prazo.
Pesquisas realizadas com indústria e comércio indicam o aumento do encalhe de produtos. Isoladamente, porém, nenhuma empresa admite o mico dos estoques. Esse acúmulo de produtos indesejados, no entanto, fica claro quando se observa as promoções inusitadas anunciadas nas últimas semanas no varejo sob mote de “mês de aniversário”. Os descontos vão até 60% e há empresas que fazem ofertas casadas com companhias aéreas. Outras sorteiam entre os clientes 10 anos de compras grátis no supermercado. Há construtoras até que dão vale-compra de mobiliário se o comprador adquirir um imóvel.
O tamanho do descompasso entre a produção e as vendas levou os estoques da indústria para o maior nível em quase dois anos. Em agosto, a sondagem industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que 9,4% das indústrias acumulavam estoques excessivos no mês passado, o maior nível desde dezembro de 2011 (10,2%). O encalhe está concentrado nos bens duráveis, especialmente em eletrônicos, eletrodomésticos, imóveis e automóveis – os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontaram uma alta no estoque do setor de 35 dias em julho para 36 dias em agosto.
“Houve uma desaceleração mais forte da indústria em julho, e em agosto o cenário econômico não sinalizou uma retomada para as empresas”, afirma Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do IBRE/FGV.
O último dado da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também revelou um erro nas projeções de venda. Em julho, o estoque efetivo em relação ao planejado estava em 51,7 pontos – acima de 50 pontos indica acúmulo de produtos. O problema é que esse quadro é mais grave nas grandes empresas, responsáveis por ditar o ritmo da economia. Desde abril, está próximo dos 54 pontos. “As grandes empresas passaram 2012 com estoque elevado e conseguiram ajustá-lo em novembro. Mas, a partir de abril, houve um movimento das companhias apostando num aumento de vendas que não ocorreu”, afirma Renato da Fonseca, gerente de Pesquisa e Competitividade da CNI.
Varejo. O comércio tem tido um desempenho abaixo do esperado. E, se as recentes promoções para desovar o estoque não forem bem-sucedidas, há risco de que o volume de novos pedidos para a indústria seja limitado. Segundo a pesquisa da Serasa Experian de Atividade do Comércio, o movimento dos consumidores nas lojas em agosto cresceu 0,2% sobre julho, descontadas as influências sazonais. Foi o segundo mês seguido que houve crescimento fraco. Em julho, a alta também havia sido de 0,2% ante junho.
“Como o movimento do varejo em agosto não foi lá essas coisas, vai demorar um pouco para desovar estoque e isso pode deprimir a produção industrial dos próximos meses”, diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. Ele destaca que, pela primeira vez em três meses, houve queda de cerca de 5% nas vendas do varejo em agosto em relação ao mesmo mês de 2012 de segmentos importantes e dependentes de crédito: móveis, eletroeletrônicos e informática; e veículos, motos e peças.
O estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC), com base na Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, revela que o setor passa por um momento de ajuste. Os estoques indesejados crescem desde o segundo semestre de 2012.
“Ao longo do primeiro semestre de 2013, o estoque involuntário do comércio cresceu menos do que o fim do ano passado não porque o empresário tenha vendido mais, mas porque encomendou menos à indústria”, afirma Fabio Bentes, economistai sênior da CNC.
(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo