O forte avanço da produção industrial e do comércio entre março e abril, sustentado por incentivos ao setor automotivo e aos investimentos, contribuíram para manutenção do ritmo de crescimento no período.Após alta de 0,7% em março, a média das projeções de 13 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data é de avanço de 0,6% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em abril, na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As estimativas para o indicador, que procura reproduzir o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e será divulgado hoje pela autoridade monetária, variam entre queda de 0,3% a avanço de 1,2% no período.
Para Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, a alta de 1,8% da produção industrial deu o principal impulso para o avanço de 0,8% esperado para o indicador do BC entre março e abril. “Ainda que gradualmente, o setor industrial mostra tendência positiva, apesar das altas e baixas mensais, principalmente em função do desempenho melhor da indústria de transformação.” Para o economista, são os estímulos já concedidos pelo governo, principalmente o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) menor para automóveis e a redução de juros para compra de caminhões e de máquinas e equipamentos que explicam a retomada. Outros setores, diz, também estão crescendo, mas são esses dois segmentos que estão dando a principal contribuição para a alta recente da indústria, explica.
“No curto prazo, os estímulos dão algum fôlego para a atividade”, diz. O segundo trimestre deve ser de crescimento maior do que o primeiro, quando a economia avançou 0,6%, na avaliação da Tendências. As estimativas preliminares da consultoria indicam que entre abril e junho a atividade deve ganhar ritmo e avançar algo como 0,9%.
Em relatório, o Itaú Unibanco faz avaliação parecida. O banco projeta alta de 0,7% do IBC-Br no quarto mês do ano, em linha com o avanço de 0,8% do PIB mensal calculado pela instituição, que também procura reproduzir o comportamento da economia no período. O crescimento, segundo a equipe econômica do banco, foi puxado pela indústria de transformação. A segunda maior contribuição veio da alta de 1,9% das vendas no comércio varejista ampliado (que considera o comércio de automóveis e material de construção). Do lado negativo, ressaltam os economistas, o consumo de energia elétrica e gás recuou 0,3% no período.
O banco observa que em maio os indicadores preliminares apontam para recuo de 0,7% do PIB mensal do Itaú, na comparação com abril, por causa da expectativa de fraco desempenho do setor industrial. Ainda assim, a perspectiva é de aceleração da atividade no segundo trimestre, com alta de 0,8% em relação ao período entre janeiro e março, com ajuste sazonal.
Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, também avalia que o segundo trimestre será o de maior crescimento do ano, apesar da perspectiva de dados mais fracos em maio. “A volatilidade dos indicadores é característica de uma recuperação lenta. Quanto mais vagarosa a retomada, mais intensas são as oscilações”, diz.
Igor Velecico, economista do Bradesco, também afirma que o segundo trimestre será melhor que o primeiro, mas tem visão cautelosa em relação à retomada da economia. “A atividade continua muito instável e o setor industrial está praticamente parado desde o segundo trimestre do ano passado, se a produção de automóveis e caminhões não for levada em conta”, diz. O problema, afirma, é que a demanda por veículos está cedendo e parte dos incentivos para caminhões irá expirar no segundo semestre, o que pode diminuir as encomendas nesse setor. “Depois disso, não vemos nenhum outro segmento que possa puxar a indústria”, afirma o economista.
A notícia positiva neste início de segundo trimestre, segundo Velecico, vem dos dados de investimento. Após um primeiro trimestre forte, quando a formação bruta de capital fixo (medida do que se investe em máquinas e equipamentos e na construção civil) subiu 4,6% em relação ao trimestre anterior, a produção de bens de capital avançou 3,2% em abril. Para Velecico, no entanto, ainda não é possível afirmar que há um ciclo de retomada dos investimentos em curso.
Na opinião do economista, a valorização recente do dólar pode inibir compra de máquinas e equipamentos, dificultando investimentos. Por outro lado, a desvalorização do real pode em alguma medida ajudar a indústria, ao torná-la mais competitiva com o produto importado, que fica mais caro. O efeito líquido desses dois movimentos, contudo, é incerto. “A desvalorização do real tende a diminuir investimentos e também inibir importações. Como a demanda externa segue fraca, é possível que o efeito desse movimento no PIB seja negativo”, afirma, ainda que a “qualidade” do crescimento, com maior expansão da indústria, melhore.
Thaís, da Rosenberg, também afirma que, para a indústria, a desvalorização do real pode ajudar setores exportadores, mas afetar negativamente segmentos em que insumos importados são parcela importante dos custos.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo