O grupo Walmart está considerando um plano radical para conseguir que os clientes de suas lojas físicas entreguem pacotes para os consumidores que fazem compras via internet. O novo modelo pode agilizar a entrega e dar condições de a rede competir melhor com a Amazon.com. Conseguir que seus clientes entreguem mercadorias colocaria a maior varejista do mundo diretamente no cerne de um novo fenômeno conhecido como “crowd-sourcing”, ou “economia de compartilhamento”.

Um grande número de empresas iniciantes ajuda as pessoas a ganhar dinheiro alugando um quarto, um carro ou até mesmo um vestido de noite ociosos. Agora, o Walmart quer convidar seus consumidores a “alugar” espaço em seu carros e testar sua disposição para fazer entregas a terceiros. Mas esse sistema enfrentará numerosos obstáculos legais, regulamentares e de privacidade, e a varejista diz estar em fase inicial de planejamento.

O Walmart está firmemente empenhado em despachar os pedidos dos consumidores virtuais diretamente de suas lojas físicas, visando reduzir os custos de transporte e ganhar uma vantagem sobre a Amazon e outras varejistas on-line, que não operam lojas.

O grupo já está praticando o novo esquema em 25 lojas e pretende dobrar esse número para 50 ainda neste ano.

O Walmart usa atualmente transportadoras como a FedEx para entregar produtos originados de suas lojas ou, no caso de serviços de entrega no mesmo dia – denominado “Walmart To Go”, que está sendo testado em cinco áreas metropolitanas -, utiliza seus próprios caminhões de entregas.

“Eu vejo um caminho por meio do qual [as entregas] sejam “terceirizadas pulverizadamente”, disse Joel Anderson, diretor-executivo do Walmart.com nos Estados Unidos, em recente entrevista à Reuters. O grupo tem milhões de clientes que visitam suas lojas semanalmente. Alguns deles podem informar a varejista onde moram e se cadastrar para entregar mercadorias a consumidores on-line que morem nas imediações ou em sua rota para casa, explicou Anderson.

O Walmart oferece um desconto na despesa desses clientes “entregadores”, o que, na prática, significa cobrir o seu custo de combustível em troca da entrega de mercadorias, acrescentou. “[O esquema] está em fase de ampla discussão criativa, mas poderá ficar viável em um ou dois anos”, disse Jeff McAllister, vice-presidente sênior de inovações do Walmart nos EUA.

A probabilidade de isso ser disseminado em sua rede de mais de 4 mil pontos de venda no mercado americano é baixa, segundo Matt Nemer, analista de varejo da Wells Fargo Securities. “Tenho certeza de que será um teste em algumas lojas”, acrescentou. “Mas eles só terão condições de mantê-lo em mercados metropolitanos e no caso de itens mais caros”.

“Startups” como TaskRabbit e Fiverr já permitem que pessoas aluguem seu tempo e conhecimento a empresas que buscam se desincumbir de pequenas missões. Fundada em 2010, a Zipments tem seu modelo de negócios baseado numa rede de terceirização pulverizada, na qual qualquer pessoa com mais de 18 anos, dona de um veículo, de um telefone e de uma conta no PayPal pode competir para oferecer seus serviços de entregas a empresas locais. Esse tipo de casamento de oferta e demanda frequentemente extrapola limites legais – e não seria diferente no modelo de terceirização pulverizada pretendido pelo Walmart, segundo Nemer. Mercadorias adquiridas via internet entregues por clientes podem nunca chegar a seu destino, seja por motivo de roubo ou fraude, disse o analista.

Esse tipo de entrega pode não ser tão confiável quanto os serviços da FedEx ou da UPS, que têm motoristas cobertos por seguros, acrescentou. “As pessoas se sentem muito tranquilas quando um caminhão da FedEx ou da UPS para na entrada de sua casa, mas o que dizer quando um estranho bate à sua porta?”, disse.

Embora a Zipments tenha começado a operar um esquema de terceirização pulverizada, a empresa atualmente empenha-se mais na triagem de motoristas, antes de autorizá-los a fazer parte de sua rede de distribuição, disse Garrick Pohl, principal executivo e cofundador da empresa. A companhia agora atende em grandes cidades, entre elas Nova York e Chicago. Roubo, fraude e entregas atrasadas nunca foram um problema, mas seguros e licenças foram um obstáculo, disse Pohl. Os motoristas muitas vezes necessitam de uma apólice de seguro de responsabilidade civil para cobrir as atividades de entrega de mercadorias.

Seguro de carga também é necessário. A Zipments cobre esses riscos em até US$ 250, mas a empresa incentiva seus “entregadores” a adquirir uma apólice adicional para pacotes de maior valor, afirmou Pohl. Em algumas áreas, como o centro de Chicago, os interessados em participar também precisam de uma licença de “motoboy” para entregar encomendas, acrescentou.

“A Zipments agora ajuda as pessoas a esquematizar todas essas coisas, antes de permitir que elas se envolvam na entrega de mercadorias”, disse Pohl. Ainda assim, ele comenta que os problemas não são insuperáveis, citando as pizzarias, que há anos vêm empregando motoristas autônomos na entrega de seus pedidos. “É uma ótima solução para grandes varejistas como o Walmart”, disse Pohl. “Nós gostaríamos de vê-los progredindo mais rápido [nesse projeto], mas é ótimo que estejam considerando a opção”. A Zipments está tentando fornecer tais serviços a varejistas, embora Pohl tenha se recusado a dizer com quais empresas a startup está discutindo o esquema. (Tradução de Sérgio Blum)

(Por InterJornal) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo