Um feixe vertical branco se desloca em torno de Caitlin Zemla por 15 segundos, enquanto ela, de pé numa cabine transparente de um shopping de Nova Jersey, dispara minúsculas ondas de rádio por meio de suas roupas. O resultado são 200 mil pontos de dados que reforçam um registro sobre o tamanho e o formato do corpo de Caitlin – e que poderão resolver um dos maiores problemas que ela enfrenta ao ir às compras. “As calças nem mesmo me servem”, diz ela. Mas por quê? “Meus quadris.”

Caitlin, que trabalha como técnica na área médica, é uma das 800 mil pessoas que tiveram suas medidas digitalizadas nos Estados Unidos nas máquinas da marca Me-ality, da empresa canadense Unique Solutions.

O equipamento casa os dados do corpo com as medidas das confecções de parceiras varejistas – como Gap, JC Penney e American Eagle -, para recomendar as peças que mais se adaptam a ele, num processo que poderá mudar o ato de comprar roupas.

Entrar em provadores para experimentar roupas que não caem bem é, há muito, uma frustração dos consumidores. Várias tentativas de empresas, no passado, de digitalizar o corpo fracassaram.

Mas a nova tentativa está sendo puxada pelo aprimoramento da tecnologia e pela perspectiva de incentivar consumidores on-line de roupas que, até agora, tinham sido dissuadidos pela incerteza sobre quais peças serviriam.

“Já temos todos os ingredientes. Mas ainda não os misturamos para assumirem toda a força revolucionária que têm”, diz Andy Dunn, principal executivo da Bonobos, uma loja de roupa masculina on-line que está esperando a tecnologia de “scanner” certa.

A precisão continua sendo um problema para muitos. Outros têm de convencer os consumidores de que a privacidade deles será preservada. As medidas também são de uso limitado caso não sejam produzidas confecções para os formatos de corpo mais comuns e caso as preferências de corte das pessoas não sejam conhecidas.

A Unique pede que as pessoas de desloquem para serem “escaneadas” por uma de suas 70 máquinas instaladas em shoppings – que custam não menos que US$ 100 mil cada. O mesmo faz a Acustom, que tem uma máquina em Nova York produzida por uma empresa chamada TC2, que digitaliza com luz branca.

A Upcload, sediada em Berlim, permite que as pessoas digitalizem suas medidas com uma webcam e uma tecnologia de processamento de imagem, também empregada para detectar defeitos em chips de computador. Links para a Upcload aparecerão em breve no site da North Face. Asaf Moses, seu cofundador, diz que a empresa está captando recursos para explorar o uso de câmeras de iPhone para medir pés.

A Styku, de Los Angeles, e a Bodymetrics, do Reino Unido, estão explorando usos dos sensores de infravermelho desenvolvidos por uma empresa chamada PrimeSense, popularizados pela Microsoft nos sensores de movimento Kinect, vendidos com seu console de videogame Xbox.

A Bodymetrics pretende substituir um oneroso equipamento de digitalização a laser, que está na loja de departamentos Selfridges, de Londres, desde 2008, por tecnologia de infravermelho. Ambas as empresas permitem que as pessoas usem scanners de lojas para criar um “avatar” capaz de experimentar roupas exibido numa tela de computador ou de TV.

Essas possibilidades, no entanto, podem esbarrar na insegurança das pessoas. Quando este jornalista se despiu até ficar só de roupa de baixo para se expor ao equipamento de luz da Acustom, e depois reapareceu, novamente vestido, a fim de ver a imagem resultante, a empresa se recusou a mostrá-la. “Nunca ouvi ninguém dizer ‘saí bem’, por isso não mostramos a imagem a ninguém”, disse Jamal Motlagh, fundador da Acustom.

A tecnologia da Acustom é um algoritmo que traduz as medidas corporais em padrões de moldes para roupas que são customizados para mulheres. Mas roupas compradas prontas envolvem vários desafios. Pessoas diferentes, por exemplo, têm preferências diversas por cortes mais justos ou mais folgados, que um equipamento de “escaneamento”, por si só, não consegue deduzir. Quando experimentei um jeans da Gap recomendado pelo scanner da Me-ality, ele serviu perfeitamente na cintura, mas estava folgado demais para o meu gosto nos quadris.

Asaf Moses, da Upload, lembra de um cliente “muito magro” que sempre usava roupas extragrandes para disfarçar as dimensões de seu corpo. “Foi aí que percebemos que nossa função não é dizer que tamanho você deve comprar, e sim, mostrar como a roupa vai ficar em você”, disse. Chegar ao corte desejado é o mais difícil porque muitas fabricantes ainda produzem roupas para formatos pouco realistas.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo