>Presidente mundial do grupo nega venda da operação brasileira para o Walmart. O plano da rede francesa é outro: faturar R$ 60 bilhões no Brasil e somar mil lojas em 2015

Nas últimas semanas, o grupo Carrefour tem sido bombardeado por uma série de especulações sobre a possível venda de suas operações no Brasil. Segundo notícias publicadas pela imprensa europeia, o Walmart teria feito no final do ano passado uma proposta de aquisição dos ativos do Carrefour nos países emergentes. Como é comum nessas ocasiões, a rede francesa negou as afirmações por meio de comunicados. Apesar disso, a boatoria só aumentou. Na semana passada, a reportagem da DINHEIRO conversou com um analista francês que ouviu, do próprio Lars Olofsson, CEO mundial do Carrefour, o que ele pensa sobre o assunto. Olofsson, que já teria se irritado com a insistência no tema, disse o seguinte: “Não vamos deixar o Brasil e a China. Até entendemos que algumas empresas tenham interesse nesses ativos. Mas não vendemos.” Em entrevista à DINHEIRO, Jean Marc Pueyo, presidente do Carrefour no Brasil, enfatizou a posição do grupo. “Não estamos à venda.” Para reforçar o interesse da rede em manter sua marca no Brasil, Pueyo apresentou os planos da corporação para o País. E eles são bastante ambiciosos.


Segundo o presidente da operação brasileira, o Carrefour pretende atingir um faturamento bruto de R$ 60 bilhões em 2015. “Esse é o valor mínimo a que queremos chegar”, diz Pueyo, que apresentou pela primeira vez os detalhes do programa. Para se ter uma ideia do tamanho do desafio que o grupo se impôs, em 2009 suas receitas no Brasil totalizaram R$ 24 bilhões (9,3 bilhões de euros), alta de 4,6% sobre o ano anterior. Trata-se de um crescimento superior ao do Pão de Açúcar, que viu suas receitas subir 4,1% em 2009. O desempenho do Carrefour no Brasil é melhor que nos principais mercados do grupo na Europa. Tomando como base de comparação outro emergente, o Carrefour brasileiro também ganha de lavada. Na China, as vendas caíram 1,8%.


“Até entendemos que algumas empresas tenham interesse na operação brasileira. Mas não venderemos”

A meta de R$ 60 bilhões em faturamento não inclui possíveis aquisições. É apenas crescimento orgânico, por meio de abertura de lojas. De acordo com Pueyo, a varejsta terá 750 pontos de venda no Brasil até o final de 2011 e outros 250 estabelecimentos devem ser inaugurados até 2015, perfazendo um total de mil supermercados. Nessa conta, entram as unidades de todas as quatro bandeiras: Atacadão, Dia%, Carrefour e Carrefour Bairro. Em dois anos, a rede francesa quer estar presente em todos os 26 Estados brasileiros. Hoje, a varejista possui pontos em 20 Estados. Para alcançar a meta, a empresa estuda a criação de um formato inédito de loja, que passará a ser testado no País já em 2010, conforme adiantou Pueyo. “Só posso dizer que será uma evolução de nossos modelos atuais”, diz o executivo. Embora ele não confirme, o projeto é comandado por uma área interna batizada de Carrefour Malls e existe uma sala com funcionários na sede do grupo, na zona sul de São Paulo, destinada apenas a tratar de negócios na área imobiliária e formatos de pontos de venda.

Segundo fontes do mercado, a ideia é ampliar a área de serviços dos pontos para aumentar o tráfego em loja e ainda ganhar com o aluguel desses espaços. “Entre as três maiores cadeias do País, o Carrefour é aquela com menos formatos de lojas. Isso é uma fragilidade”, diz Eugenio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria. Não se pode esquecer que nem sempre a experiência da cadeia foi vitoriosa em seus formatos. A rede precisou fechar as lojas Champion pelos fracos resultados.

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Pueyo afirma ainda que, no primeiro semestre, devem ser abertas no Brasil as primeiras salas de cinema dentro de hipermercados Carrefour que atendem as classes C e D. Para analistas, o Carrefour demorou a definir projetos específicos para essas classes e para regiões como o Nordeste. Cerca de 17% das vendas da cadeia são geradas pelas operações nessa região. No Walmart, estima-se que essa participação chegue a mais de um terço das receitas. O plano do Carrefour é entrar com força no Nordeste por meio do Atacadão e do Dia%, que devem consumir boa parte dos investimentos de R$ 2,5 bilhões no País até 2011.


As mudanças na rede também passam pela inauguração de sua página de compras na internet. O site vai ao ar na primeira quinzena de março.”Não posso antecipar a data, mas está tudo pronto”, afirma Pueyo. É mais uma iniciativa no sentido de reforçar a mensagem de que a companhia está com os pés fincados no Brasil. E o francês Pueyo tem alguma vontade de ir embora? “De jeito nenhum.”

Fonte: Isto É Dinheiro (Adriana Mattos) – Fevereiro/2010