Enquanto o grupo francês Casino tem a imagem  arranhada  por conta das disputas pelo comando do Grupo Pão de Açúcar (GPA), com a saída de um dos maiores empresários brasileiros, Abílio Diniz, do controle acionário a ser assumido pela empresa francesa, que inclusive  tem levado a quedas do valor das ações do GPA, o concorrente  Carrefour parece sair na frente — pelo menos na lembrança de executivos.

Falta expressividade ao Casino no resultado do estudo da Câmara de Comércio França-Brasil, realizado pelo Instituto Deffinity. O levantamento mostra que enquanto a crise sobre a transição do comando segue, o concorrente, também da França, Carrefour é a marca mais admirada pelos executivos brasileiros, para surpresa de boa parte do mercado. Afinal, os critérios avaliados foram  atuação, credibilidade e a experiência satisfatória.

Tudo indica que os anúncios de venda de unidades no Brasil, corte de gastos na França e conflitos criados acerca da venda — que não vingou — de seus negócios no País para o GPA não foram capazes de afetar a imagem da companhia. Na pesquisa foram ouvidos 500 diretores e gerentes,  de quatro capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, a rede de varejo supermercadista alcançou aprovação de 24%. Na segunda e na terceira colocação, há duas montadoras: Renault (23% de aceitação) e Peugeot (14%). Já o Casino nem sequer entrou em alguma posição do ranking, pois recebeu apenas 2% dos votos.

Em entrevista ao DCI, Sueli Lartigue, diretora da Câmara de Comércio França-Brasil de São Paulo, explica que provavelmente o grupo Casino teve o mínimo de lembrança porque as pessoas ainda não conhecem ou associam a empresa. “Hoje existem 570 empresas francesas instaladas no Brasil e o Carrefour foi a marca mais conhecida, diferentemente do Casino talvez por conta de sua forma de comunicação. Eles nem sempre informam que sua origem é francesa. Também acho que o Carrefour saiu muito na imprensa no último ano. Esses executivos estão na faixa de 30 anos ou mais e a rede tem história no varejo brasileiro.”

Segundo declarações de Sueli, o objetivo do estudo, que está em sua oitava edição, é justamente o de entender as necessidades do mercado nacional e analisar quais características são associadas aos produtos e serviços fabricados na França, já que a imagem mais forte do país no Brasil envolve apenas gastronomia e turismo.

“Ao contrário, todos os setores da França estão hoje em dia implantados no Brasil.” Além de serem interpelados sobre a marca francesa que mais admiram, os entrevistados falaram sobre a imagem que têm da França: 70% deles têm uma boa impressão, 18% avaliam como excelente e 1% como ruim ou péssima.

Pão de Açúcar

No caso da troca de controle acionário do maior grupo varejista do Brasil, o Grupo Pão de Açúcar,  o momento é de ânimos mais exaltados dos empresários envolvidos. O resultado vem inclusive de mais um impasse que envolve o nome do grupo e do empresário brasileiro Abílio Diniz, com a ex-proprietária da rede de eletrodomésticos e eletrônicos Ponto Frio —  incorporada em 2009. A briga fez com que as ações da empresa sofressem queda de 8% nos últimos 30 dias, dado  que afeta,  em primeiro  lugar, os acionistas da companhia. É o que afirmou Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, especialista do Núcleo de Estudos e Negócios do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP).

Oliveira acredita que por ser uma negociação de âmbito internacional, ela precisa ser transparente e essas reclamações vindas das famílias Klein (fundadores da Casas Bahia) e da família Safra (Ponto Frio) deveriam ter sido vistas anteriormente. “Ver as famílias Klein e Safra questionando valores neste momento é preocupante”, disse ele.

Quando questionado sobre uma possível manobra a ser feita pelo empresário brasileiro para desestabilizar seu desafeto e sócio, o francês Jean Charles Nouri, presidente do Casino, o especialista da ESPM acredita que seria uma estratégia  realmente mais arriscada, pois envolveria diretamente o nome de Abílio — e isso seria ruim. “De um lado está a parte que contesta, e do outro está o grupo. Ambos acabam por ser prejudicados no final.”

Ainda com a experiência do pesquisador de setor de varejo, neste momento nenhuma atitude de Diniz poderá reverter o caso. “Acredito que após o dia 22 [dia em que ocorre a troca de comando] esse turbilhão vai acabar. Não consigo ver um cenário em que Abílio tente alguma manobra para comprar ações e voltar à liderança do Pão de Açúcar”, como enfatiza Oliveira.

Outro dado explicitado pelo especialista seria uma possível parceria entre os empresários, fato esse que ajudaria a manter a qualidade e a rentabilidade as operações no Brasil. “Mesmo com todos esses impasses, seria bom para o Grupo Pão de Açúcar manter a presença de Abílio, pois ele é um dos fundadores da rede. Existem valores da empresa e dos consumidores que devem ser mantidos pelo empresário francês”, anunciou o especialista.

Uma das provas de que o novo acionista majoritário do grupo estaria preocupado em manter essas características é a indicação de três  nomes brasileiros para ocupar cargos no Conselho Administrativo do GPA: Eleazar de Carvalho Filho, Luiz Augusto de Castro Neves e Roberto Oliveira de Lima. “Os nomes, de peso, escolhidos pelo Casino dão indícios de que existe a preocupação em manter as características brasileiras no grupo”, explica. “Sem isso e se o Casino quiser impor o formato francês aqui, no País, pode fazer com que a rede perca, sim, os seus  atuais consumidores no próximo ano”, conclui.

Ainda segundo Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, este é o momento do Casino de fincar no Brasil um novo marco no setor varejista. “Em 1995 o Walmart deixou sua marca no varejo, agora é a vez de o Casino fazer isso”, argumenta, e completa: “A marca pode ser global, mas ela não deve perder as características, em especial a regional”.

(Por Panorama Brasil) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo