Amanhã, o acordo entre a Apas (Associação Paulista de Supermercados), a Fundação Procon e o Ministério Público, que elimina as sacolinhas dos supermercados, completa um mês. Mas estabelecimentos da região optaram por manter a distribuição das embalagens. Eles temem desagradar os consumidores, já que as opiniões em relação à nova medida se divergem, o que pode levar à perda de clientes. “É preciso ensinar a separar o lixo e não proibir as sacolas. Além disso, os mercados nos acostumaram com a embalagem e esquecemos de trazer de casa. Toda vez que vou no mercado preciso comprar uma nova”, destacou a aposentada Élide Gullini, 78 anos, de São Bernardo.
As três lojas do supermercado Nagumo, localizadas no Grande ABC, mantiveram as sacolinhas mesmo com a orientação da Apas. “Enquanto for apenas um acordo e não virar lei, vamos continuar oferecendo. Faz parte do direito do consumidor”, explicou o subgerente do estabelecimento em Santo André, Cezar Marlon de Andrade. Segundo o funcionário, os clientes estão levando mais embalagens para casa. “Eles embalam mais produtos em menos sacolas. No entanto, pedem para levar um pouco a mais para colocar o lixo”, explicou.
O Dia vai acabar com as sacolinhas de toda a rede gradativamente até junho, com o objetivo de facilitar a adaptação do cliente. Até agora 142 lojas deixaram de distribuir as embalagens – 12 na região.
O Supermercado Primavera, localizado em Santo André, também não acatou ao acordo. “A opção de reciclar e praticar a coleta seletiva tem de partir do consumidor”, explicou o proprietário do estabelecimento, Gilberto Wachtler. O empresário também comentou que, para exterminar as sacolas plásticas, seria necessário criar alternativa para os consumidores embalarem os produtos, mas as opções sustentáveis são caras e, por isso, poderiam onerar os preços dos itens, com o repasse dos custos. “E não é justo não participar da finalização das compras do cliente que é o ato de embalar os produtos”, disse.
O gerente do Joanin, em São Caetano, Sidnei Rodrigues de Oliveira, contou que o estabelecimento voltou a distribuir as sacolas na semana passada.”Os clientes reclamaram muito e, por receio de perder compradores para os concorrentes que mantiveram a distribuição, decidimos voltar a dar a embalagem”, explicou Oliveira.
O funcionário de um supermercado em Santo André, que não quis se identificar, contou que os clientes reclamam por ter de pagar para carregar as compras. “E eles não querem a caixa de papelão por conta da higiene, pois uma hora carrega produtos de limpeza e, outra, alimentos, por exemplo”, comentou.
A Coop divulgou que neste primeiro mês foram poupadas 10 milhões de sacolinhas. A Apas ainda não tem balanço consolidado que aponte a economia de todos os supemermercados neste período. Também não há novidades em relação ao que foi anunciado pelo presidente da Apas, João Galassi, no início de abril. À época informou que a economia de R$ 190 milhões, que as redes paulistas terão nos próximos 12 meses, será repassada ao consumidor, ou seja, assim que a redução dos gastos for sentida a margem de lucro dos produtos poderá ser reduzida.
Câmaras estudam lei para obrigar distribuição
As Câmaras de Mauá e Ribeirão Pires estudam projetos de lei para obrigar supermercados a concederem embalagens para o consumidor carregar suas compras. Desde janeiro, as sacolas plásticas começaram a ser retiradas gradativamente dos caixas. Quem deseja transportar os produtos precisa comprar sacolas biodegradáveis, que custam entre R$ 0,20 e R$ 0,40.
A subseção de Ribeirão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) encaminhou ofício ao Legislativo sugerindo a proposta. O presidente da ordem no município, Patrick Pavan, avalia que a situação atual deixa o cliente à mercê da rede. “É muito fácil para eles (supermercados) suprimirem as sacolas e não darem alternativa para o consumidor. É preciso ter o mínimo possível de bom senso.”
O presidente da Câmara de Ribeirão, Gerson Constantino (PSD), declara que a matéria será elaborada por ele e pelo vereador Edson Savietto, o Banha (PDT). O texto não tem data para ser finalizado e votado. O pessedista ressalta que o custo da sacola sustentável é equivalente aos dos sacos de plásticos. “A biodegradável não fica mais cara. Dessa forma, a ação também deixa de ter a cisma de ser apenas mais uma prática política. Se é para a melhora do meio ambiente, porque não distribuir?”, questiona Gerson.
Banha conta que os munícipes de classe mais baixa são os mais prejudicados. “Temos condição, mas há pessoas que saem com produtos na mão. Já vi gente sair com carne moída (sem utilizar sacolas)”, relata.
Uma das opções adotadas pelas redes é a caixa de papelão, o que também é criticado por Banha. “Não sabemos de onde veio e quais produtos foram carregados ali. É perigoso”, atenta o pedetista.
Em Mauá, a peça apresentada por Edimar da Reciclagem (PSDB) tramita nas comissões, mas também não tem data para passar pelo crivo do plenário. Ela estabelece punições aos supermercados que não se enquadrarem na norma, que vão de notificação à cassação da licença de funcionamento.
Constitucionalidade
Legislação que obriga supermercados a concederem sacolas biodegradáveis foi aprovada em Franca, Mirassol e Itapeva. Em Guarulhos e São José do Rio Preto, os parlamentares aprovaram proposituras semelhantes, mas o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) suspendeu as leis. Para Pavan, o texto é constitucional, portanto não implica problemas jurídicos. “Essa retirada das sacolas é um termo de acordo (da APAS) com o Ministério Público. Não há obrigatoriedade”, sustenta.
(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo