A afirmação é de Lars Olofsson, presidente do Carrefour, cujo projeto para revitalizar os hipermercados do grupo na Europa fracassou. Ele deixa o cargo em junho.
Segundo ele, o grupo francês Carrefour vê pouco espaço para a expansão de hipermercados no Brasil. Como já ocorreu nas economias ricas, o mercado brasileiro atingiu uma “certa maturidade” em relação a esse tipo de loja. “No Brasil, os supermercados, lojas de bairro e até mesmo de descontos avançam muito rápido. Seremos agora muito seletivos em relação aos hipermercados no País, os quais terão uma expansão bem mais lenta”, diz Olofsson, acrescentando que o comércio on-line e as lojas Atacadão são o foco da estratégia do grupo no Brasil.
Prova de que o Carrefour considera o mercado brasileiro saturado de hipermercados, 11 lojas desse tipo, que “não eram rentáveis”, foram fechadas em 2011, sendo que seis delas foram transformadas em Atacadão (quatro deverão ser inauguradas em breve). No total, 13 lojas Atacadão foram abertas em 2011. “Vamos manter em 2012 esse ritmo forte de novas lojas da rede Atacadão”, disse o presidente.
Para Olofsson, o setor de hipermercados também está saturado na Argentina. Por esse motivo, o grupo prevê abrir de 80 a 100 lojas de bairro no país. A situação na China e na Indonésia é bem diferente. Nesses países, o Carrefour considera que ainda “há muito espaço para os hipermercados”.
Nos países emergentes, o faturamento do Carrefour cresceu 8,4% em 2011. As vendas globais da vice-líder mundial do varejo cresceram apenas 0,9% em 2011, totalizando € 81,27 bilhões. Mas sem considerar as vendas de gasolina e levando em conta o mesmo número de lojas existentes no ano anterior, houve queda de 0,6% no faturamento. O lucro do grupo despencou 14,3%, para € 371 milhões.
Na França, maior mercado do Carrefour, o faturamento caiu 1,2%. O presidente demorou para achar os números sobre a fatia de mercado do grupo no país, mas acabou revelando que ela atingiu 21,3% em 2011, com diminuição de 0,5 ponto. Também pudera: até mesmo ao lado da sede do Carrefour, nos arredores de Paris, há um supermercado Franprix, do grupo rival Casino, sócio do brasileiro Pão de Açúcar.
Na Europa, a queda no faturamento foi de 4,3%. A implosão é devida, em boa parte, à redução das vendas de produtos não alimentícios como eletroeletrônicos.
Os números no Brasil são bem diferentes: o faturamento de € 11,1 bilhões, com aumento de 9,3%, faz do Brasil o segundo maior mercado mundial do grupo, ultrapassando a Espanha, cujas vendas totalizaram cerca de € 8 bilhões.
A cisão da rede de descontos Dia, em julho, contribuiu para que a Espanha ficasse atrás do Brasil, mas o desempenho fraquíssimo na Espanha também permitiu ao Brasil avançar no ranking. “O Carrefour dá grande importância para o desenvolvimento de suas atividades no Brasil”, diz Olofsson. Segundo ele, o problema dos prejuízos de € 550 milhões em 2010, decorrente da má gestão da filial, “é uma página que foi virada”. Ele diz que os hipermercados no Brasil registram aumento nas vendas e forte recuperação dos resultados: “O cenário é totalmente outro e tudo vai bem no Brasil”.
O grupo aposta bastante na ampliação das vendas on-line no Brasil. As atividades nessa área começaram há um ano e meio e Olofsson diz que o País é o “mais avançado” do grupo nessa área, sem revelar números a respeito. “Mas temos de nos assegurar que nossa logística poderá seguir o movimento de expansão das vendas”, ressalta.
Olofsson anunciou, ontem, a suspensão do projeto de hipermercados Planet na Europa, lançado com grande pompa em 2010. Quando assumiu o Carrefour em 2009, ele tinha a ambição de “reinventar o hipermercado” para reverter a queda de público. O conceito de modernização das lojas previa estandes de diversos de produtos (têxteis, artigos culturais e de decoração, entre outros), serviços como cabelereiros e creches, e atividades de lazer. O grupo previa transformar 245 hipermercados na nova geração Planet até 2013. Até o fim de 2011, 81 foram inaugurados. Neste ano, o grupo decidiu abrir somente 11.
Nesta última apresentação de resultados, Olofsson fez “mea culpa” e reconheceu que os resultados das lojas Planet, apesar de superiores aos dos hipermercados não transformados, ficaram “abaixo das expectativas”. Ele responsabilizou a crise na Europa pelos números negativos, mas admitiu problemas operacionais na França, como falta de estoque. Na França, por exemplo, as lojas Planet tiveram queda de 3% nas vendas, enquanto nos hipermercados tradicionais a redução foi de 4,6%. A concorrência da internet, sobretudo na área de eletroeletrônicos e de artigos de lazer, atrapalhou.
Olofsson desejou boa sorte ao sucessor, Georges Plassat, do grupo Vivarte, que se tornará diretor-geral em abril e assumirá o comando do grupo em junho com a difícil missão de levantar as contas da segunda maior varejista mundial.
(Por Supermercado Moderno) Varejo, Núcleo de Estudos do Varejo