Com a aquisição do grupo Big, o Carrefour Brasil passa a liderar o setor de varejo alimentar físico (sem incluir operações de atacarejo), um mercado que deve movimentar R$ 271,83 bilhões em receitas em 2025, 8,5% a mais do que no ano passado. Os dados são da consultoria de mercado Euromonitor.

Atualmente, o segmento é liderado pelo GPA, com 10,5%. O Carrefour Brasil é o segundo, com 8,6%, seguido justamente do grupo Big, com 7,3%. Assim, se a operação fosse concluída hoje, o Carrefour Brasil teria uma fatia de 15,9%, expressivos 5,4 pontos percentuais a mais do que o principal concorrente. A liderança nacional, porém, não significa hegemonia em mercados regionais, onde algumas empresas locais são muito fortes.

Segundo a analista de varejo da XP, Danniela Eiger, o Carrefour aumenta em 30% o tamanho dele e a competição do setor aumenta, mas não representa uma mudança estrutural do cenário. “A competição do setor aumenta, porque o Big é um player que era grande, mas estava se estruturando ainda”, afirma, explicando que agora a empresa troca uma administração que estava fazendo o trabalho de recuperação por outra que, com a conversão de bandeiras, pode fazer isso de forma mais rápida. “Mas, por outro lado, já existia o competidor ali. Então aumenta, mas não muda estruturalmente”, pondera.

O grupo Big é a principal empresa do varejo alimentar do Nordeste e do Sul do Brasil, com cerca de R$ 20 milhões de vendas líquidas em 2020, estando presente geograficamente em 18 estados e 181 cidades.

A aquisição feita pelo Carrefour Brasil, embora não fosse esperada, foi um movimento coerente, avalia o coordenador do núcleo de varejo da ESPM, Ricardo Pastore, que também já atuou em varejistas como Grupo Pão de Açúcar, Makro Atacadista e Saraiva. Ele destaca que o GPA fez o spin off (cisão) do Assaí, que era seu braço de atacarejo. Com dinheiro em caixa, o grupo poderia ter feito essa aquisição antes do Carrefour, especialmente porque o portfólio de atacarejo do Big é expressivo.

No entanto, Pastore afirma que liderança nacional não significa vida fácil em algumas localidades, já que o varejo brasileiro tem como característica a força de marcas regionais. “Melhora a posição do Carrefour, mas não quer dizer que ele vai ser líder regional. Temos algumas redes regionais muito fortes.”

Ele lembra, inclusive, a própria situação do grupo americano Walmart, que operava a atual rede do Big antes de vender a maior parte das operações para o fundo de investimentos Advent International. “O principal calcanhar de aquiles do Walmart foi a regionalização. Ele fez muitas aquisições, mas nunca conseguiu fazer de tudo uma só plataforma. Era uma operação muito rígida que não encontrava flexibilidade para se adaptar as características regionais”, diz Pastore.

A digitalização recente e em curso das operações do Carrefour, como venda por aplicativos de entrega, deve contar a favor e facilitar a penetração do grupo de origem francesa nos novos mercados, acredita o especialista.

(Por Valor Econômico – Raquel Brandão)