Maior rede de farmácias do mundo em número de pontos, a americana Walgreens quer entrar no mercado brasileiro, e o caminho para isso pode ser uma parceria com varejistas brasileiras. A companhia esteve em conversas com cadeias locais nos últimos dois meses, conforme apurou oValor, para colher dados sobre o cenário atual do setor.

Até o momento, a companhia não colocou nenhuma proposta na mesa. Um empresário que esteve em conversas telefônicas com executivos da Walgreens, há duas semanas, conta que para eles, pelas características do segmento no país, iniciar a operação com uma estrutura local já estabelecida poderia fazer mais sentido neste momento. “Eles já têm alguma informação sobre o Brasil, e sabem que o negócio por aqui é bem diferente dos Estados Unidos”, conta uma fonte próxima à rede americana. Por isso, se unir ou adquirir uma operação já estabelecida eliminaria etapas do processo de investimento inicial num mercado com outras regras – tanto tributárias quanto na área sanitária.

Procurada, a Walgreens não se manifestou sobre o assunto até o início da noite de ontem. No último balanço de resultados da Walgreens, empresa de capital aberto, o comando ressaltava o fato de a empresa ter se mostrado “resiliente ao duro momento da economia”. Com 8,1 mil pontos, as vendas da rede somaram US$ 54,2 bilhões de janeiro a setembro. O valor é 7,3% superior ao apurado em relação a 2010. O lucro líquido de quase US$ 2 bilhões no mesmo período está 18,7% acima do apurado no ano passado.

Valor apurou que a BR Pharma, braço do segmento de farmácias do BTG Pactual, foi procurada pelos americanos no mês passado. Trocaram algumas informações e a BR Pharma teria se colocado de forma aberta a eventuais parcerias futuras. A drogaria Onofre também foi sondada informalmente pela Walgreens. A rede nega que tenha existido encontros com investidores estrangeiros nos últimos tempos.

O interesse maior da rede americana hoje está em entender melhor a consolidação do varejo nos últimos meses no país. E por isso tem buscado a opinião de executivos do mercado a respeito desse processo de concentração.

Desde agosto, a DrogaRaia se uniu à Drogasil e a Drogaria São Paulo se fundiu com a Pacheco, do Rio de Janeiro. As cinco maiores companhias do setor detêm uma participação de mercado de 25% no país, e os dois maiores grupos do setor – Raia Drogasil e Pacheco e Sâo Paulo – tem 17% das vendas. O Brasil é o quarto maior mercado de consumo de medicamentos no mundo, segundo o IMS Health. Há mais de 60 mil farmácias e drogarias no Brasil.

Há dois anos, após a crise de 2008, a Walgreens esteve em visitas a drogarias no país. Foi a primeira vez que colocaram, na prática, o país no radar da companhia e a informação chegou a vazar ao mercado na época. A razão do interesse é a mesma que explica a movimentação atual: a Walgreens acha que a manutenção da liderança mundial dependerá do crescimento em novos mercados no mundo. E mais de 95% da receita da rede vêm dos Estados Unidos.

Em 2009, a deterioração do cenário internacional fez a cadeia engavetar a ideia de se estabelecer no Brasil. Novamente, os sinais de crise econômica afetam negócios de varejo no mundo, mas as farmácias americanas não têm sido duramente afetadas, até agora.

“A Walgreens é uma farmácia dentro do formato de loja de conveniência. Eles vendem muito bem, de alimentos e bebidas a equipamentos médicos. No Brasil, as regras são outras, não se pode vender alimentos nas farmácias. Mas seria uma questão simples de se adaptar”, diz Eugenio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria.

(Por Valor Econômico) Varejo, Núcleo de Estudos do Varejo