A rede norte-americana Target está tentando atrair estudantes universitários. Para alcançá-los, a oitava maior varejista nos EUA está apostando em mini-lojas, que tem cerca de um terço do tamanho de uma unidade típica. De acordo com Jacqueline DeBuse, porta-voz da empresa, o mix foi reduzido e feito com base em uma seleção cuidadosa de produtos, gerando forte alta nas vendas e impulsionando sua expansão.
Nos últimos anos, a Target abriu novas unidades em cerca de 100 campi. Ela planeja abrir aproximadamente 30 dessas lojas de pequeno formato em faculdades anualmente, nos próximos anos, assim como em cidades e outras áreas sem espaço para unidades de tamanho normal.
Como a Target estoca uma grande variedade de itens e sua cadeia de suprimentos permite que o varejista concilie prontamente produtos com base no interesse do consumidor, suas lojas menores são capazes de atender à demanda por itens específicos para seus clientes universitários, como alimentos no formato grab-and-go, eletrônicos e roupa de cama que se encaixa nos colchões do dormitório.
O varejista não está sozinho. Enquanto as faculdades há muito olham para as empresas externas para ajudá-las a incluir recursos como livrarias e restaurantes fast-food no campus, um novo impulso no varejo inclui lojas de departamentos, supermercados e até mesmo lojas de marcas populares de vestuário.
“Os bons varejistas estão sempre procurando uma saída”, disse Steve Niggeman, vice-presidente executivo da Metro Commercial, que faz negócios imobiliários entre faculdades e varejistas, incluindo a Target. Enquanto as faculdades variam em tamanho e cultura, seus alunos, funcionários e, até mesmo os pais visitantes, podem ser clientes “bastante cativos”, acrescentou.
No final do ano passado, a cadeia de supermercados Publix, com sede na Flórida, abriu sua primeira loja em campus, localizada em terras arrendadas da University of South Florida (USF – Universidade do Sul da Flórida), embora já tivesse uma loja a menos de dois quilômetros e meio do campus de Tampa. O local, cerca da metade do tamanho de seu supermercado típico, está localizado próximo à nova vila residencial da escola, que pode abrigar cerca de 2.000 estudantes.
Para Ana Hernandez, vice-presidente assistente de habitação e educação residencial na universidade, estas iniciativas tem sido um sucesso em vários níveis. Os estudantes estão à procura de mais comodidades, ela disse, enquanto a universidade está procurando maneiras de aprofundar as conexões dos alunos com a comunidade do campus. Antes do acordo, acrescentou, o governo estudantil da universidade aprovou uma resolução em favor da adição do supermercado e a Publix concordou em realizar pelo menos duas feiras de empregos a cada ano para oferecer aos estudantes empregos e estágios.
“Não há dúvida de que os varejistas estão tentando gerar lealdade”, disse Nick Egelanian, presidente e fundador da empresa de varejo SiteWorks. Embora haja um grande movimento de faculdades e universidades para construir mais moradias estudantis, os varejistas sabem que estar associado a um dormitório é uma experiência positiva para a marca, acrescentou.
Ainda assim, Niggeman adverte que nem toda escola pode suportar esse tipo de varejo. De fato, a USF tem 50.000 estudantes, incluindo cerca de 6.300 que moram no campus. Ele estima que as faculdades com pelo menos 20.000 estudantes poderiam apoiar o varejo adicional no campus. À medida que mais estudantes escolhem a faculdade com base no tipo de “experiência” que podem ter, as opções de varejo podem se tornar um fator da decisão, disse.
Dada a popularidade das roupas esportivas, por exemplo, Niggeman acredita que cadeias como a Lululemon teriam ótimos resultados em alguns campi. Na verdade, a Lululemon abriu lojas temporárias “sazonais” perto de várias instituições, incluindo uma perto da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, no ano passado.
Egelanian pensa neste crescimento como uma nova variação de um tema antigo. “Sempre existiu varejo em faculdades”, ele disse, acrescentando que algumas, como a Universidade de Harvard, a Universidade de Georgetown e a Universidade da Califórnia, em Los Angeles, estão em bairros bem estabelecidos, repletos de lojas de varejo.
Citando o crescimento da Target, Egelanian argumentou que as novas lojas são mais uma consequência de cadeias de varejo que se deslocam para áreas urbanas. Mas ele afirmou que a capacidade do varejista de se ajustar agilmente para atender à demanda dá uma vantagem a outros varejistas, como o Walmart, nesse tipo de mercado. Por sua vez, o Walmart recuou em uma iniciativa semelhante há alguns anos.
Um dos grandes varejistas das faculdades, a Barnes & Noble, percebeu mudanças nas tendências de varejo nos campi. A rede agora atualiza sua mercadoria de três a quatro vezes por ano, disse Kenneth Wincko, vice-presidente de marketing da Barnes & Noble College. Dentro de suas lojas em campus, a livraria está experimentando o varejo especializado, com curadoria de produtos de saúde e beleza, revistas, roupas esportivas e outros itens relacionados ao bem-estar.
A Barnes & Noble também tenta se integrar à vida no campus de outras maneiras, recebendo até 3.000 eventos por ano e abrindo lojas pop-up perto de estádios esportivos durante grandes torneios. A rede também está aberta ao feedback dos alunos. Por exemplo, quando a Barnes & Noble adicionou um café dentro de sua loja no campus da University of Central Florida (UCF – Universidade do Centro da Flórida), os estudantes pediram para comprar plantas – então a rede agora está testando a inclusão de floriculturas em suas lojas, afirmou Wincko.
A rede atualmente tem cerca de 770 unidades em campus e Wincko disse que há planos para adicionar dezenas a mais a cada ano.
Para ficar em contato com as necessidades dos alunos, a Barnes & Noble pesquisa anualmente 100.000 estudantes, usando endereços de e-mail coletados nas lojas do campus. Resultados recentes da pesquisa mostraram que metade dos alunos que responderam não tem todos os materiais necessários no primeiro dia de aula. Para resolver isso, a empresa está trabalhando com o corpo docente para identificar itens necessários, de livros a equipamentos de laboratório, para que a loja possa adequar seu estoque antes do início do semestre.
Os estudantes de hoje podem estar à vontade para fazer compras online (em alguns casos, mesmo durante as aulas), mas Wincko e outros executivos do setor acreditam que as lojas de tijolo e argamassa, aliadas ao comércio eletrônico, continuam sendo fundamentais.
A Target aumenta a capacidade de alunos, ou seus pais, comprarem itens online e buscá-los em uma loja próxima em uma hora, disse DeBuse. A varejista está apresentando um crescimento nas vendas de dois dígitos nesta modalidade, que é especialmente popular no início do ano acadêmico, acrescentou.
Os pontos de coleta da Amazon nos campi universitários ou próximos a eles têm um objetivo semelhante.
No entanto, o bônus para os varejistas que querem fazer negócios no campus, de acordo com DeBuse, é a capacidade de criar sentimentos positivos sobre a marca, assim como muitos alunos estão começando a tomar suas próprias decisões de compra.
Niggeman não tem certeza de onde essa tendência vai acabar. “Não vamos colocar 1 milhão de pés quadrados” de varejo no campus, afirmou. Mas as faculdades que estão aumentando o número de matrículas devem considerar como o varejo influencia esse crescimento. “À medida que você expande as matrículas, precisa de mais apoio”, disse.
Para Marcos Hirai, sócio-diretor da GS&BGH, esta movimentação dos varejistas norte-americanos é natural e representa a hiperconveniência: “O varejo precisa estar onde o consumidor está. Quanto mais perto dele (o consumidor), maiores as chances de conversão de vendas. Com o advento dos deliveries e do m-commerce, passa a ser uma maneira do varejo físico se fazer presente, trazendo lojas mais perto nos diferentes momentos do consumidor.”
(Por Mercado&Consumo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM