O Baidu, segundo maior buscador do mundo e dono do Peixe Urbano, lançou nesta terça-feira (27) um fundo para investir exclusivamente em startups de internet brasileiras.

O Easterly Ventures terá capital inicial de 60 milhões de dólares, mas o volume de recursos poderá dobrar.

O grupo chinês é o principal cotista, mas o fundo é composto também de outros investidores privados que não foram revelados.

O alvo dos aportes são startups promissoras e que já superaram o estágio inicial, ou seja, já têm equipes formadas e produtos sólidos, mas precisam de dinheiro para crescer.

As eleitas também devem apresentar sinergias com os ativos do Baidu, que além dos mercados de antivírus, buscas e sites de compra coletiva, atua com inteligência artificial, big data e tecnologias online-to-offline – aquelas que permitem contratar serviços via mobile.

De acordo com o Baidu, o Easterly Ventures difere de outros fundos de investimentos porque não vai apenas financiar, mas abastecer as companhias investidas com sua tecnologia, tráfego local e expertise. Também vai abrir para elas as portas de outros mercados onde está presente, especialmente a China.

Para isso, a empresa montou um time de “gestão de investimentos” em seu escritório brasileiro, com quatro profissionais das áreas de finanças, business intelligence e marketing.

Ao todo, o grupo tem 20 funcionários no país, excluindo os 400 que trabalham no Peixe Urbano.

“O último dos nossos focos é capital. Vamos agregar valor, é uma força mágica. Isso nos torna únicos”, diz Yan Di, diretor da companhia no Brasil.

Segundo ele, foi graças a esse apoio estratégico que o Peixe Urbano cresceu 100% em vendas no ano seguinte à sua compra pelo chinês. O grupo adquiriu 76% da plataforma em 2014.

“O know-how faz toda a diferença”, afirma Di.

O Baidu atua em 12 países e seu aplicativos são acessados por mais de 300 milhões de pessoas.

No Brasil, são 27 milhões de usuários nos serviços mobile (como os apps DU Battery Saver e DU Speed Booster) e 13 milhões nos de PC (como o tradicional antivírus), sem contar os números do Peixe Urbano.

No último trimestre, a receita global da companhia foi de 2,748 bilhões de dólares.

Para onde vai a grana

O plano do fundo é aplicar recursos em 10 a 15 empresas do país em troca de participações minoritárias nos próximos oito anos.

Os aportes serão de pelo menos 1 milhão de dólares em cada companhia. “Não conseguimos fazer essa etapa de crescimento com menos do que isso”, disse Di.

As duas primeiras startups que receberão investimentos devem ser anunciadas ainda neste ano, mas seus nomes são mantidos em segredo.

“Só posso dizer que são empresas que todo mundo conhece e que temos orgulho de trabalhar com elas”, contou o executivo.

Por que Brasil?

O Easterly Ventures é o único fundo de investimentos do Baidu fora da China. De acordo com Yan Di, a companhia está bastante atenta ao mercado brasileiro.

“Considero as dificuldades [pelas quais o país está passando] temporárias. O Brasil tem uma grande população utilizando um bom serviço de internet. A gente gostaria de acompanhar isso”.

A escolha de investir no país indiretamente, a partir do aporte em outras companhias, se deu porque “nada é melhor que deixar o brasileiro explorar o mercado local, ele consegue entendê-lo melhor do que qualquer investidor estrangeiro”, segundo o executivo.

Para Di, é comum que outros países se espelhem nos Estados Unidos quando se fala de internet, mas o mercado brasileiro tem mais semelhanças com o chinês que com o americano.

“Entre as 10 maiores empresas de internet do mundo, seis são americanas e quatro são chinesas. Além disso, a China tem possibilidade de virar a maior fonte de investimentos em venture capital do mundo no curto prazo”, disse.

Apostando nisso, a empresa já trabalha para aproximar empreendedores brasileiros da potência asiática. No ano passado, encabeçou a abertura da Associação Brasileira de O2O.

A organização conta com 40 membros, entre eles nomes como iFood, 99, Easy Taxis, MercadoPago (do MercadoLivre) e, claro, Peixe Urbano.

Seu objetivo é fomentar o mercado online-to-offline e promover o intercâmbio entre Brasil e China.

Pelo mesmo caminho

Criar fundos para investir em startups não é uma estratégia nova.

Em 2014, por exemplo, a Microsoft Participações, subsidiária brasileira da gigante de tecnologia para investimentos, se uniu à Qualcomm e à Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio) para criar a Brasil Aceleradora de Start-ups Fundo de Investimento em Participações (FIP).

Outras companhias como Intel, Telefônica Vivo e Totvs têm iniciativas parecidas.