A Droga Verde, rede de farmácias que chegou a ter 60 lojas na capital paulista, fecha parte dos pontos e atrasa salários de funcionários. Seu comando tenta, há meses, vender a operação, fundada há 49 anos. O negócio foi oferecido a grandes cadeias do setor, mas não houve interesse até agora.

Álvaro Gomes Júnior, fundador e presidente da companhia, disse ao Valor que não poderia comentar o assunto porque qualquer informação atrapalharia as negociações. “Estamos para fechar algo, mas não quero falar a respeito”, disse. A advogada de Gomes, Patricia da Silva Gomes, não respondeu aos pedidos de entrevista. O diretor comercial Paulo Fernando Pereira saiu da empresa no fim do ano passado.

Uma das redes de varejo sondadas pela Droga Verde disse que esteve em conversas com Gomes há cerca de um ano, quando este buscava uma solução para o negócio, mas não houve acordo em relação aos valores. Elevado passivo fiscal com o governo e dificuldade de renegociar as dívidas teriam afetado a operação, apurou o Valor. Perguntado sobre as razões que levaram a empresa à situação atual, o fundador preferiu não comentar.

Pelo menos 70% das 60 lojas que a Droga Verde tinha estão fechadas. Há pontos em locais com alto tráfego, em bairros de classes A, B e C e, em certos casos, em frente a hospitais públicos, uma das melhores áreas para este tipo de negócio. O nível de estoques da rede teria chegado ao fim do ano passado cobrindo 10 a 15 dias de venda – o normal é estoque de 60 dias.

De acordo com advogados de donos de pontos que abrigam lojas da Droga Verde, as portas foram fechadas, mas não houve a devolução das chaves. Há 26 ações de despejo no Tribunal de Justiça de São Paulo por causa de atrasos no pagamento da locação. “O aluguel continua sendo cobrado, não há pagamento e o proprietário também não consegue mostrar o ponto a outros interessados”, disse o advogado Carlos Alberto Barsotti, que representa um proprietário de ponto. Os atrasos no aluguel começaram a acontecer em janeiro.

Com base apenas em processos que já estão na Justiça de São Paulo a partir de novembro de 2015 – quando o Sindicato dos Farmacêuticos de São Paulo começou a identificar atrasos em pagamentos de salários -, há execuções fiscais e de títulos vencidos (R$ 1,7 milhão), dívidas com aluguéis atrasados (R$ 4,9 milhões) e com trabalhadores (R$ 6 milhões a R$ 7 milhões). A soma atinge R$ 13,6 milhões. Uma fonte próxima à rede disse que a dívida total seria superior a R$ 50 milhões. E apesar de a empresa ter tido crescimento no ano passado, os negócios da família não teriam liquidez necessária para reduzir passivos.

Segundo Fabio Angelini, coordenador jurídico do sindicato, há atrasos no pagamento de salários para 274 farmacêuticos para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, além da segunda parcela do 13º salário. Há atrasos no pagamento de salários a funcionários da área administrativa. “Por meio de um pedido de mediação do Ministério Público, tivemos uma audiência marcada no dia 22 de fevereiro, mas ninguém da empresa apareceu”, disse.

O setor de farmácias sentiu a desaceleração das vendas, como efeito da recessão, mas cresceu 12% em 2015 – após alta de 14% em 2014. Redes pequenas, com difícil acesso a capital, podem ser mais impactadas pela crise, segundo analistas.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM