As maiores redes de supermercados do Reino Unido estão entrando no setor de lojas de conveniência e supermercados de menor porte. Mas ainda não se sabe se isso representará um sopro de vida para as exauridas ruas centrais das grandes cidades britânicas.
Entre 2010 e 2014, as quatro maiores redes de supermercados do país – Tesco, Asda, J. Sainsbury e Wm Morrison – pretendem abrir ou ampliar lojas com uma área equivalente a cerca de 1,7 milhão de metros quadrados. Isso é mais que o espaço ocupado hoje pela rede Sainsbury.
Grande parte desse espaço novo abrigará pontos de vendas menores. A Sainsbury pretende abrir entre 50 e 100 lojas de conveniência por ano e a Tesco cerca de 150. A Asda está criando mais de 140 lojas menores a partir da aquisição da Netto por 778 milhões de libras no ano passado, enquanto a Wm Morrison estará testando suas primeiras lojas de conveniência em breve. A Waitrose terá 33 lojas de conveniência e supermercados menores até o fim do ano e 53 até o fim de 2012.
“As lojas de conveniência emergiram como uma frente importante na guerra de capital em que as big four [as quatro maiores redes de supermercados britânicas] estão envolvidas”, afirma Dave McCarthy, analista da Evolution Securities. “A Tesco e a Sainsbury em particular estão bastante comprometidas com esse formato, na medida em que brigam por cada palmo de participação de mercado.”
Segundo Justin King, presidente executivo da Sainsbury, das 50 a 100 lojas de conveniência que o grupo vai abrir a cada ano, “quase todas estarão no que você pode chamar de ruas principais ou no centro das cidades”.
No entanto, a Sainsbury ficou aquém da meta estabelecida para as lojas de conveniência no ano passado – ela abriu apenas 47 no ano até março -, em parte por causa da dificuldade para encontrar locais adequados.
A rede diz que muitas lojas de conveniência estão em desenvolvimento. No cenário atual, os incorporadores imobiliários estão relutando em assumir projetos complexos e caros nas regiões centrais das cidades.
Eles ficaram mais difíceis com os chamados acordos Section 106, que exigem que os incorporadores façam investimentos adicionais como a construção de uma nova via ou biblioteca, para a obtenção de uma permissão de planejamento. Essas exigências são sempre bem menores para lojas a serem construídas fora das cidades do que nos centros. “É um imposto sobre o crescimento”, afirma King, que critica a “lógica torcida” das exigências onerosas que tornam a construção de empreendimentos fora das cidades mais fácil do que nas regiões centrais.
Terry Hartwell, que administra as propriedades do grupo Morrison, diz que onde há disponibilidade de espaços nas regiões centrais das cidades, é sempre difícil transformá-los em supermercados. “Pode-se afirmar que há um número crescente de lojas vazias nos centros das cidades”, afirma ele. “É preciso perguntar por que. Elas estão quase sempre nos lugares errados ou os aluguéis são caros demais e desse modo as pessoas não conseguem fazê-las funcionar. Você não pode apenas dizer, ‘bem, como há muitas lojas vazias no centro, as lojas de conveniência são a resposta’.”
As lojas de conveniência normalmente têm cerca de 900 metros quadrados, uma vez que com um tamanho desses elas não são impedidas pelas restrições de funcionamento aos domingos. “Você pode pensar: há muito espaço nos centros das cidades, por que não abrir nesses lugares? Para se ter um formato de conveniência aceitável, você precisa de cerca de 2.700 metros quadrados e isso significa que você vai precisar de duas a três unidades no centro das cidade.”
Nigel Keen, diretor de desenvolvimento da Waitrose, diz que os supermercados querem os melhores locais nos centros das cidades e enfrentam a concorrência de outros negócios, como varejistas de moda e redes de cafés. “Quando você consegue um local excelente, ele é excelente por um motivo”, afirma. “Ele sempre envolverá um aluguel alto. Você não precisa ir muito longe para conseguir uma localização secundária.”
Hartwell diz que outros grupos varejistas como os de roupas e joias estão sempre mais bem colocados para absorver os altos custos dos aluguéis que os supermercados, cujas margens são muito pequenas. “Foi a dinâmica econômica que expulsou os varejistas de alimentos dos centros das cidades nas décadas de 70 e 80”, diz.
As grandes redes de supermercados estão indo além das regiões centrais em sua corrida pela abertura de mais lojas de conveniência. Também estão em busca de centros comerciais locais (com várias lojas contíguas) ou condomínios residenciais, para abrir supermercados menores. Clive Black, analista da Shore Capital, diz que “os supermercados, ao entrar no mercado de conveniência, estão olhando muito para lugares onde as pessoas se reúnem e onde podem parar com facilidade. Em muitos casos isso quer dizer centros distritais, bairros e grandes rodovias”
Andrew Kasoulis, analista do Crédit Suisse, diz: “As lojas de bairro estão onde as pessoas moram, onde podem chegar em poucos minutos. Isso geralmente não ocorre no centro da cidade”. Diante desses fatores, os supermercados precisam ser mais criativos na busca de locais adequados.
Eles estão recorrendo a pubs deteriorados, cinemas e até mesmo igrejas. Mas John Rogers, diretor financeiro da Sainsbury, diz que isso não é uma panaceia. “A suposição é de que trata-se de uma tarefa fácil pegar um velho ponto comercial, como um pub, e transformá-lo em uma loja de conveniência, mas não é”, diz ele. “Esses pontos simplesmente não foram projetados para abrigar uma loja de alimentos.”
Veículo: Valor Econômico – 06/07/2011