Ao anunciar ontem a terceira revisão na estimativa de crescimento do setor de supermercados de 1% em 2015 para queda real de 0,3% – o pior índice desde o ano de 2006 – a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) confirma que a resiliência deste segmento (o mais representativo do varejo nacional) rendeu-se à pior crise do mercado de consumo da década.
A associação do setor de supermercados, com vendas anuais de R$ 300 bilhões, para um Produto Interno Bruto de R$ 5,5 trilhões, já havia revisado as estimativas duas vezes – alta de 3% para 2% e depois, para 1%, sempre em patamares positivos. Mas sem sinais claros de reação nas vendas, foi feita a nova projeção – e há sinais de que o fraco ritmo se mantenha nos próximos meses (período de vendas natalinas) já que, de janeiro a julho, o setor já encolheu 0,2%, e a estimativa prevista é de taxa negativa de 0,3%. Na última retração, em 2006, o mercado encolheu 1,65%.
Para 2016, a previsão é de alta real nas vendas de 0,4% – ou seja, magro aumento em cima de uma provável base fraca de 2015. Para o ano que vem, já há efeito na estimativa do pacote fiscal apresentado pelo governo na segunda-feira. “Estamos considerando em 2016 uma inflação mais controlada, mas uma renda afetada por medidas como a decisão de atrasar [de janeiro para agosto de 2016]
o reajuste dos servidores federais, que acaba colocando menos dinheiro na economia”, disse ontem Fernando Yamada, presidente da Abras, durante abertura do congresso anual do setor, a Convenção Abras 2015 em Atibaia (SP).
Ontem, durante o evento, executivos do varejo ouvidos apontam para possível retração maior que a anunciada pela associação. Um diretor de uma rede líder de supermercados acredita que esses cálculos hoje são difíceis de ser feitos. “As redes estão tendo dificuldade de passar qualquer estimativa pela própria insegurança em cravar algo. Há empresários que esperam até queda maior do que 0,3% no ano”, disse a fonte.
Supermercados e hipermercados tendem a ser um dos últimos segmentos do varejo afetados por crises econômicas, mas a rápida mudança nos hábitos de consumo afetou o mercado neste ano. Dados informados ontem pela consultoria Kantar mostram que, de janeiro a junho, o volume médio vendido nas lojas caiu 8,9%, com redução na frequência nas lojas de 6,1%, mas com aumento de total de compradores de 1,5%. O tíquete médio aumentou 5,4%.
Traduzindo: o gasto por cabeça sobe, por causa da inflação, mas não o suficiente para compensar a queda de volume. Como resultado, a receita das redes patina e acaba encolhendo, com possíveis efeitos sobre a rentabilidade, pressionada por aumento de custos com energia (representa 1,5% da receita de uma loja), disse Yamada.
Pelos dados da Kantar, a classe C apurou queda média de 2% no volume comprado de janeiro a junho, versus uma redução de 1% na classe E; 1,4% de queda na classe B; e índice negativo de 1,1% na classe A.
Outra pesquisa, realizada pela Nielsen, e apresentada ontem, confirma expansão mais acelerada na operação de atacado em relação aos outros segmentos – ele cresce 8,5% entre abril e junho de 2015 versus 2014, e supermercados (lojas com 5 a 9 caixas) se expandem 2,2%. Hipermercados tiveram alta de 0,4%, um índice que, apesar de modesto, pode ser celebrado. “Indica que os hipermercados, pelo menos, voltaram a crescer”, disse Maria Fernanda Celidonio, gerente de serviço de varejo da Nielsen.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM, Supermercado