O espírito empreendedor e a confiança no futuro explicam, em parte, a melhora do humor dos empresários do varejo com os negócios. Embora ainda se mantenha no pior nível da série histórica — em 86,48 pontos —, o Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (ICEC), medido pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), subiu 1,7 % na passagem de maio para junho. A esperança de que a inflação inicie, no 2º semestre, um estágio de desaceleração, conforme avaliação de analistas do mercado, está por trás do arrefecimento do pessimismo.

A média mensal das projeções para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo o Boletim Focus do Banco Central, foi de 1,3% no 1º trimestre para 0,7% no 2º trimestre e de 0,4% no 3º trimestre. Ainda que no campo da possibilidade, para o economista da CNC, Fabio Bentes, as projeções do mercado acendem a chama dos empresários que, naturalmente, já tendem a ver o futuro de forma mais otimista do que o presente.

“Mas ainda é cedo para dizer que estejamos próximos de uma recuperação do varejo. A insatisfação com as condições do país e da economia são bastante fortes e fream essa evolução do Índice de Confiança dos Empresários do Comércio, que poderia ter sido maior”, pondera o economista.

A insatisfação a que Bentes se refere está ligada diretamente à inflação, em 8,47% no acumulado dos 12 meses até maio segundo o IPCA, à escalada dos juros — com a Selic a 13,75% ao ano — e ao alto comprometimento da renda dos consumidores com dívidas contraídas no passado. Um conjunto de elementos macroeconômicos que vem freando a demanda no comércio, com retração de 1,5% no varejo restrito, no acumulado de janeiro a abril, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE.

Entre as regiões, o pessimismo dos empresários segue em linha com o resultado das vendas. O Centro-Oeste, cujo o ICEC registrou 99,3 pontos em junho, é o menos pessimista. Na outra ponta está o Norte, com o pior resultado regional, em 84,2 pontos. Lá, parte do descontentamento dos empresários é explicado pela reduzida capacidade de barrar os repasses de custos aos preços.

Assessora econômica da Federação do Comércio do Pará (Fecomércio-PA), Lúcia Cristina Andrade afirma que, por importar grande parte dos itens alimentícios do Centro-Sul do país, os empresários da região acabam sofrendo com o aumento do preço do frete e dos combustíveis.

“O empresário está se virando para reduzir os custos e tornar o preço competitivo. Para isso, tem tentando diversificar a oferta de produtos e marcas, bem como efetuar liquidações e investir em estratégias de venda”, conta Lúcia Cristina, que ressalta que o alto endividamento tem sido um grande desafio para o varejo local.

“Cerca de 75% da população de consumidores do Pará está endividada. São famílias que têm 31% de seus orçamentos comprometidos com dívidas pelos próximos cinco meses. Essa situação provoca uma redução ainda maior do consumo e uma mudança de comportamento dos consumidores”, acrescenta Lúcia Cristina.

Em Pernambuco, a saída das famílias tem sido ir às compras nos mercados tradicionais, também chamados de populares. “Diferente dos hiper e supermercados, onde o preço é tabelado, lá o consumidor tem um maior poder de barganha, o que lhe garante melhores preços”, conta o economista da Fecomércio-PE, Rafael Ramos.

No estado, as vendas de alimentos caíram 4,9% no período de janeiro a abril deste ano. Mas o maior recuo tem sido o dos automóveis, com retração de 6,6% nas vendas no acumulado do ano.

O cenário do varejo de duráveis é ainda mais pessimista para os empresários do Sul. Segundo a Fecomércio do Rio Grande do Sul, em 12 meses, o comércio de veículos, motocicletas, partes, peças e acessórios caiu 12,7%.

“O maior medo dos empresários é o de que a demanda encolha ainda mais nos próximos meses”, diz a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo. Segundo Palermo, os empresários reclamam bastante do aumento de custo com a energia elétrica e da pressão dos salários, que nos últimos anos tiveram sucessivos crescimentos reais e, agora, não encontram respaldo em um aumento nas vendas.

Para a economista, embora historicamente o empresário seja um otimista por natureza, os números do desemprego dão o tom da crise: “Até maio, 7.500 postos já foram fechados aqui. As perspectivas ainda não são boas”.

(Por Brasil Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM