O mercado brasileiro de moda íntima, como outros setores da economia, sofre os efeitos da retração do consumo e da renda familiar, mas ainda opera com perspectiva de um pequeno crescimento em 2015. Grupos de marcas mais conhecidas, como Duloren, Marcyn e Hope informaram que esperam resultados acima da média do mercado neste ano, graças ao desempenho de suas redes de lojas.
O Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi) estima que o consumo de moda íntima no país terá um incremento de 0,8% em 2015, em comparação ao ano passado, chegando a 561 milhões de peças. Em 2014, o consumo de moda íntima cresceu 2%.
Para a produção, o Iemi projeta expansão de 1,5% neste ano, para 517,6 milhões de peças, ante um avanço de 2,4% em 2014. A importação, por sua vez, terá queda de 6% neste ano, somando 49,3 milhões de peças. Para o mercado de vestuário como um todo, a previsão para o ano é de crescimento no volume de vendas de 2,5%, chegando a 6,7 bilhões de peças. A receita é estimada em R$ 5,5 bilhões.
“As indústrias que vendem apenas para o atacado sofrem mais o efeito da crise, porque dependem da ida de vendedores a essas lojas. É mais difícil fomentar a venda. Grandes fabricantes que têm rede própria de varejo ou venda por catálogo conseguem desempenho melhor”, afirma Marcelo Prado, diretor do Iemi.
A Hope, fabricante brasileira de roupas íntimas e de banho, informou ter registrado um crescimento em vendas de 13% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa da companhia é manter esse ritmo no segundo semestre. “É um resultado bastante positivo diante do cenário macroeconômico, mas é um desempenho inferior ao que a Hope fez nos últimos anos”, afirmou Sylvio Korytowski, diretor de expansão da Hope. No ano passado, o crescimento da empresa foi de 17%, chegando a uma receita aproximada de R$ 470 milhões.
Korytowski acrescentou que o desempenho mensal tem sido irregular e que a companhia tem feito mais ações de marketing para atrair consumidores às lojas.
A Hope também desenvolveu neste ano um novo modelo de franquia, batizado de franquia 1.0. As lojas são menores, com 25 a 40 metros quadrados, enquanto as tradicionais têm de 35 a 60 metros quadrados. O investimento inicial é 50% menor, de R$ 200 mil, e o retorno também é obtido mais rapidamente, em 24 meses, ante 30 meses de uma loja tradicional.
O executivo disse que o modelo agradou empreendedores e o modelo já tem contrato com 23 lojistas para inaugurar unidades nos próximos 90 dias. A meta para o ano é abrir 50 unidades. A Hope possui atualmente 135 lojas no país. Desse total, 23 são lojas próprias, 17 são franquias do modelo 1.0 e o restante são franquias tradicionais.
A Marcyn, fabricante de lingerie, moda praia e artigos esportivos, também tem conseguido resultados mais favoráveis com operação direta no varejo. A companhia vende seus produtos para 4 mil lojas multimarcas e mantém, desde 2012, uma loja da marca Marcyn na capital paulista e, desde 2013, a rede Casa das Cuecas.
Mauro Zaborowsky, vice-presidente da Marcyn, disse que as vendas totais da companhia tiveram crescimento de 0,7% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado. Já as vendas da loja Marcyn cresceram 56% no mesmo período. As vendas da rede Casa das Cuecas, formada por 23 lojas, apresentou aumento de 19% em vendas no primeiro semestre.
“O desempenho da loja da Marcyn foi uma motivação para investir em lojas próprias”, disse Zaborowsky. De acordo com o executivo, a companhia vai abrir cinco unidades da Marcyn até o fim do ano, em São Paulo e Campinas (SP) e seis lojas Casa das Cuecas, na capital paulista e no Rio de Janeiro. Todas as unidades serão franquias. O vice-presidente da companhia disse que a Marcyn optou por investir na expansão da Casa das Cuecas após sua aquisição, elevando o número de lojas de 14 para 23. Agora, a empresa planeja ampliar a rede Marcyn, mas o crescimento será lento e gradual.
Já a fabricante Duloren mantém a aposta nas vendas para o atacado e vendas para lojistas via internet. Roni Argalji, presidente da Duloren, disse que a companhia teve crescimento de 5% no volume de vendas no primeiro semestre do ano e incremento de 5% em receita no período. A expectativa da companhia é fechar o ano com esse nível de aumento nas vendas.
Argalji observou que, apesar do avanço, a companhia registrou uma perda de vendas de 8%, devido a estoques não balanceados no varejo. “A meta é perder 4% no ano, mas a economia está ruim e os varejistas ficam inseguros em reforçar estoques. Então alguns produtos ficam em falta”, afirmou Argalji. O executivo acrescentou que a Duloren tem lançado de 5 a 6 produtos por mês para atrair mais consumidores. “A maioria das compras de lingerie são emocionais, não são programadas. A oferta de novidades é uma forma de estimular o consumo”, disse.
De acordo com Marcelo Prado, do Iemi, grandes marcas que atendem públicos das classes A e B sofrem menos o efeito da crise econômica e tendem a apresentar um desempenho de consumo mais favorável. De acordo com dados do Iemi, os consumidores da classe B respondem por 50,1% do valor gasto com vestuário, seguidos pela classe C, com 29,8%, classe A (15,8%) e classes D e E (4,3%).
O grupo Rosset, dono das marcas Valisere, Valfrance, Triumph e Cia Marítima não atendeu ao pedido de entrevista.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM