A Leroy Merlin, maior rede de materiais de construção e produtos para casa no país, montou um plano para acelerar a expansão local que deve levar a empresa a abrir uma loja a cada dois meses no Brasil, em média, nos próximos cinco anos. Com base no projeto já aprovado pelos controladores, estão previstos investimentos de R$ 2 bilhões entre 2015 e 2019 (a rede diz que foram desembolsados R$ 1,3 bilhão nos últimos cinco anos) e atingir 100 lojas em 2025 (atualmente são 32 pontos).
Até o fim de 2019, a varejista espera operar cerca de 55 unidades no Brasil – portanto, média de cinco inaugurações ao ano (cada abertura exige desembolsos de cerca de R$ 80 milhões). Em 16 anos de operação no Brasil, a rede abriu 32 pontos – em 2014, foi feita apenas uma abertura, em São José (SC), e uma reinauguração.
Além disso, os sócios controladores do grupo francês Adeo consideram hoje a hipótese de trazer novos formatos de varejo ao país, disse ontem franco-brasileiro Alain Ryckeboer, diretor-geral da Leroy Merlin no país, em entrevista na sede da rede. O grupo Adeo, com € 16 bilhões em vendas em 2013, controla as redes de lojas de vizinhança Aki, Bricocenter e Weldom, além da rede de decoração Zôdio.
Dentro do plano já aprovado, foi decidida também a entrada da empresa no comércio eletrônico. A partir da próxima segunda-feira, a Leroy Merlin começa a vender pela internet, com 2 mil itens na loja virtual. Ao fim de 2015, a previsão é ampliar para 30 mil produtos, até atingir, nos próximos anos, a marca de 60 mil itens (volume médio de uma loja física).
Em termos de receita bruta, a Leroy Merlin espera passar de R$ 3,8 bilhões este ano, um crescimento nominal de 13% sobre 2013. Com 100 lojas em 2025, a expectativa é faturar R$ 21 bilhões no país. Equivale a crescer mais de 40% ao ano, bem acima da média atual. Ryckeboer diz que a abertura de lojas devem ajudar a sustentar a expansão. “A ideia é quintuplicar as vendas e triplicar o número de lojas em dez anos”, afirma o executivo. Os recursos terão que sair, em sua maioria, do caixa da rede. “Não temos enviado nada para a matriz. Grande parte será reinvestimento”.
Para 2015, a estimativa é investir R$ 510 milhões (foram R$ 250 milhões em 2014) em cinco aberturas. A companhia calcula que R$ 340 milhões deste total de R$ 510 milhões serão aplicados na abertura de lojas e na compra de terrenos. Esse cálculo já inclui a inauguração da primeira loja da empresa no Nordeste, em Fortaleza.
A unidade deve ser abastecida, em parte, pelos centros de distribuição do Sudeste, já que a rede não tem áreas de armazenagem no Nordeste. “Mais para frente vamos abrir um novo centro para atender também a operação do Nordeste”, disse, sem precisar o período. A varejista está em sete Estados e no Distrito Federal. O projeto de expansão aprovado prevê operar lojas em 15 Estados em 2020.
Ao contrário de algumas varejistas, que colocaram projetos mais agressivos de investimento de curto prazo em banho-maria, a Leroy Merlin está acelerando a expansão, em seu plano mais arrojado desde que entrou no país, em 1998. A decisão acontece num momento em que há perspectiva de acirramento da concorrência local. Depois da chegada dos chilenos da Sodimac no país em 2013, circulam informações sobre a entrada no país dos americanos da Lowe’s e da Home Depot, além da marca Easy, do grupo Cencosud.
O executivo diz que o plano não tem relação com a provável piora do ambiente competitivo, mas admite que o setor vai enfrentar mudanças. “Em dez anos, o mercado brasileiro será outro, várias marcas vão desaparecer e outras devem chegar. Sabemos que elas [varejistas estrangeiras] estão visitando o país, estudando o mercado. Não decidimos planos pensando nisso, mas não vamos ficar parados.”,
A respeito da decisão de ampliar investimentos num momento de crise de confiança e falta de clareza sobre ambiente de consumo em 2015, Ryckeboer disse que os acionistas do grupo “não veem o Brasil como uma fotografia, mas como um filme”, diz. “Esse filme vai muito bem até agora […]”. Descontada a inflação registrada pela rede, de 4% em 2014, o crescimento da Leroy Merlin previsto para o ano passa de 13% para cerca de 9%. É mais do que o avanço nominal de 2% previsto pelo varejo de material de construção, mas inferior aos 25% que a rede chegou a crescer em 2009. “Era uma outra operação, menos madura, por isso crescíamos mais”, afirma.
“Quem dirige essa empresa não é a bolsa, somos uma companhia de capital fechado, não temos que responder sempre ao mercado. O Brasil passou por altos e baixos e não seria possível comandar uma empresa com o acionista dizendo para acelerarmos ou pararmos de investir a cada momento que o ambiente mudasse”, diz.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM