Os brasileiros trouxeram nas malas cerca de R$ 12 bilhões (ou US$ 5 bilhões) em roupas do exterior no ano passado, o equivalente a 60 mil toneladas, conforme levantamento da Abit, associação que reúne a indústria têxtil e de vestuário.

O valor corresponde ao faturamento anual estimado das quatro maiores cadeias do varejo têxtil –Riachuelo, Renner, C&A e Marisa– e ao faturamento mensal de todo o setor têxtil e de confecção.

A entidade fez a estimativa com base no perfil de gastos fornecido pelas empresas de cartão de crédito, e assumiu que a mesma proporção de compras de roupas no cartão valeria também para as compras em dinheiro vivo.

A análise mostra que 20% dos gastos dos viajantes brasileiros –que incluem diárias de hotéis e refeições– é com vestuário. Segundo o Banco Central, os brasileiros deixaram no exterior US$ 25 bilhões em 2013, um recorde.

“Não temos nada contra quem quer comprar roupa lá fora. O problema é não pagar o imposto devido”, diz Fernando Pimentel, superintendente da Abit.

A partir do ano que vem, a Receita Federal vai apertar o cerco contra a entrada irregular de produtos, traçando um perfil dos viajantes. O órgão vai exigir que as companhias aéreas informem origem de voos, número de malas e frequência de viagens.
O objetivo é interceptar o chamado “sacoleiro aéreo” -pessoas de classe média que estão viajando ao exterior para comprar roupas e revender no país, aproveitando o grande diferencial de preços.

Os consumidores estão insatisfeitos com as novas regras da Receita. “Para pegar os sonegadores, vão punir de forma indiscriminada todos os consumidores que compram no exterior. É uma medida extrema”, diz Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste.
ECONOMIZAR

Dolci ressalta que o consumidor recorre às compras no exterior para “economizar”, porque vários produtos, principalmente roupas, custam “quatro a cinco vezes” mais no país do que lá fora.

“O ataque tem que ser no custo Brasil, que encarece demais os produtos, e não contra o consumidor”, afirma ela, que ainda estuda que medidas podem ser tomadas contra a nova norma.

O setor têxtil reclama que está sendo muito prejudicado pelas importações, feitas legal ou ilegalmente. De janeiro a setembro, a importação legal de têxteis e vestuário cresceu 7% sobre o mesmo período de 2013, para 98,6 mil toneladas. Já as vendas do varejo têxtil estão estáveis, e a produção nacional cai 4%.

(Por Folha de S.Paulo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM