Por mais de dez anos, os chips de identificação por radiofrequência (RFID) foram apresentados aos varejistas como uma novidade total no modo de trabalhar. Mas quando tentaram aplicar a tecnologia para monitorar o estoque, cadeias como o Wal-Mart Stores Inc. e a J.C. Penney Co. descobriram que aquilo que parecia bom na teoria nem sempre funcionava tão bem na prática.
A J.C. Penney, por exemplo, começou a colocar os chips RFID nas mercadorias em 2012, mas os sinais de rádio interferiam com os sensores contra roubo já existentes. A Penney retirou os sensores, mas os ladrões ficaram sabendo e os furtos aumentaram. Ela abandonou o projeto.
Agora, a grande fabricante de roupas Inditex S.A., controladora da Zara, afirma que aprendeu com a experiência da concorrência e está implantando a tecnologia RFID em todas as operações da sua marca principal.
Os chips, cerca de duas vezes maiores que o cartão SIM padrão para celulares, ajudam a maior varejista de moda do mundo a controlar melhor seu estoque e recolocar as roupas nas prateleiras rapidamente, segundo Pablo Isla, presidente do conselho e diretor-presidente da Inditex. “[O RFID] é uma ferramenta que me dá uma visibilidade enorme, saber onde está a roupa, se no estoque ou na loja, se está exposta”, diz. “Muda toda a forma de operar das lojas.”
O chip RFID pode armazenar informações sobre qualquer item ao qual estiver preso e, mediante o estímulo correto, enviar esses dados via sinais de rádio para um scanner. A Inditex está embutindo os chips dentro das etiquetas plásticas de segurança das roupas, uma inovação que permite à cadeia de roupas reutilizá-los depois que as etiquetas são removidas no caixa. Até dezembro, mais de mil das 2 mil lojas da Zara terão essa tecnologia, com a implantação concluída até 2016, diz Isla.
A escala e a velocidade do projeto estão atraindo a atenção do setor. A varejista espanhola informa que comprou 500 milhões de chips RFID antes da implementação, um para cada seis chips que os fabricantes de roupas devem usar no mundo todo este ano, segundo a DTechEx, empresa britânica de pesquisa.
A Zara, que está em 88 países, gera perto de 65% das vendas da Inditex. Para seu primeiro semestre fiscal, terminado em julho, a Inditex divulgou, ontem, vendas de 8,09 bilhões de euros (US$ 10,4 bilhões), 5,6% maiores que um ano atrás, e lucro líquido de 928 milhões de euros, 2,4% menor.
A Inditex começou a experimentar a tecnologia RFID em 2007. Isla pediu aos seus engenheiros e especialistas em logística que encontrassem uma maneira de reutilizar os chips — uma solução que reduzisse os custos e garantisse que os dispositivos de rastreamento não acompanhariam os clientes ao sair da loja, uma preocupação para os defensores da privacidade.
A ideia surgiu em um grupo de discussão na sede da Inditex, no noroeste da Espanha, diz Isla. Um funcionário sugeriu colocar o chip dentro das etiquetas de segurança, um pouco maiores que o padrão, que a Zara prende em cada item, uma combinação que os especialistas dizem que não está sendo usada por nenhuma outra grande empresa. O envoltório plástico da etiqueta de segurança protege o chip, permitindo a reutilização, e é removido no caixa.
Uma das vantagens é a agilidade. Para fazer a contagem do estoque de uma das maiores lojas da Zara em Madri, eram necessários 40 funcionários e a tarefa levava cinco horas. Agora, precisa de nove pessoas e leva metade do tempo, segundo a empresa.
Antes da introdução dos chips, os funcionários tinham que ler os códigos de barras, um de cada vez, e essas contagens gerais de estoque eram feitas de seis em seis meses. A Zara agora conta os estoques a cada seis semanas, obtendo uma imagem mais precisa de quais modelos estão vendendo bem e quais estão esquecidos nas prateleiras.
Cada vez que uma peça é vendida, os dados do seu chip disparam uma ordem imediata para que o estoque envie à loja um item idêntico. Se um cliente não consegue encontrar um item, o vendedor pode apontar a câmera de um iPod para o código de barras de um item similar e, com os dados coletados pelos chips, verificar se ele está disponível na loja, numa loja Zara das proximidades ou on-line.
Alguns pioneiros na adoção obtiveram apenas um retorno limitado dos investimentos em RFID. No início da década passada, o Wal-Mart pressionou seus fornecedores para colocar chips em caixas ou pilhas de produtos, não em itens individuais. O projeto foi reduzido depois que os fornecedores reclamaram do alto custo da tecnologia — problema que a Inditex não tem, porque fabrica suas próprias roupas.
Mas a tecnologia aos poucos ganha adeptos. Nos Estados Unidos, a Macy Inc. anunciou que vai ampliar o uso das etiquetas RFID, após testes mostrarem que elas ajudam a melhorar as vendas, as margens e os descontos.
Bill Hardgrave, reitor da Faculdade de Administração Harbert, da Universidade de Auburn, no Alabama, e consultor para RFID, diz que seus clientes tiveram aumento nas vendas entre 2% e 30% depois de instalar os dispositivos de rastreamento. Os varejistas tradicionais geralmente sabem onde se encontram 60% do seu estoque a qualquer momento. Com a tecnologia RFID, o nível de precisão é superior a 95%, diz.
“A Zara pode não ser a primeira, mas quando eles implementam uma nova tecnologia, fazem isso tão bem que alcançam as demais rapidamente”, diz David Frink, diretor de tecnologia da loja de roupas alemã Gerry Weber International AG, uma das varejistas pioneiras no uso de chips RFID em todos os produtos.
(Por The Wall Street Journal) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM