O fraco desempenho do comércio entre janeiro e março deixou uma herança ruim para o 2.º trimestre: estoques altos de itens mais caros e normalmente financiados, como eletroeletrônicos, móveis, computadores e celulares. Como as vendas do Dia das Mães foram fracas, a perspectiva é que o encalhe de produtos atrapalhe o varejo até meados do ano e afete o dinamismo da indústria, que encerrou março com estoques altos na maioria dos setores.

A grande aposta dos comerciantes para reverter esse quadro é a Copa do Mundo, mas o efeito do evento é restrito. A Copa pode impulsionar as vendas de TVs, mas deve limitar a de outros itens. Isso porque junho terá um menor número de dias úteis por causa dos jogos.

O descompasso entre o ritmo de vendas do varejo e de acúmulo de estoques é nítido num estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) a pedido do Estado, com base nas pesquisas de comércio e indústria do IBGE e de importações da Funcex. Entre janeiro e março, o volume de vendas do comércio restrito cresceu 4,5% em relação ao 1º trimestre de 2013. Enquanto isso, os estoques nas lojas subiram 5,5%. O comércio restrito não inclui carros e materiais de construção.

Segundo o economista da CNC responsável pelo estudo, Fabio Bentes, essa diferença de 1 ponto porcentual entre ritmo de alta de estoques e de vendas já foi maior em outros períodos, mas neste ano o quadro é pior. Em 2010 e 2012, os estoques cresciam 1,2 e 1,6 ponto porcentual acima das vendas, respectivamente. “A diferença é que esses dois anos foram os melhores para o varejo e a trajetória de vendas era ascendente. Em 2014, a perspectiva é de desaceleração das vendas, diante do encarecimento do crédito, da redução de prazo de financiamento e do menor ritmo de expansão da economia”, explica.

Fôlego. Os últimos resultados de vendas do varejo restrito apurados pelo IBGE atestaram a perda de fôlego: em 12 meses até março o setor acumula alta de 4,5% e até fevereiro, o avanço tinha sido de 5%. Quando se avalia o desempenho do 1º trimestre em relação ao último de 2013, descontado o comportamento típico do período, o crescimento foi de apenas 0,3%.

“Os dados indicam que teremos um 2.º trimestre com ritmo de crescimento menor do que o 1º trimestre: o Dia das Mães foi fraco e junho terá muitos feriados por causa da Copa”, prevê o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi. Ele observa que, desde o 2.º semestre de 2013, o varejo convive com estoques elevados, vendendo menos itens do que comprou.

O descompasso entre estoques e vendas ficou estampado no mês passado na insatisfação dos comerciantes em relação a esse quesito no Índice de Confiança do Empresário do Comércio da CNC. Em abril, o nível de estoques em relação às vendas atingiu a pior marca (92,6 pontos) desde outubro de 2011 (91,8 pontos).

O estudo da CNC mostra que a maior defasagem entre vendas e estoques ocorre no segmento de informática e comunicação, seguido por móveis, eletrodomésticos e vestuário. Daniela Martins, analista de investimentos da Concórdia Corretora, cita como exemplo, a Via Varejo, dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, que ampliou em R$ 492 milhões os estoques no 1º trimestre deste ano por causa da Copa e do Dia das Mães. No setor de vestuário, a Lojas Marisa aumentou em 1% os estoques no 1º trimestre, reflexo direto de vendas mais fracas.

(Por Estadão) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, EPSM