O mercado de emissões de cartões “private label” — os cartões de crédito próprio de lojas — está passando por uma transformação. Enquanto ganham cada vez mais importância para os varejistas, pequenos emissores independentes registram taxas recordes de crescimento no vácuo do desinteresse dos grandes bancos. Empresas como DM Card e Sorocred viram seu faturamento aumentar 50% e 40% no ano passado, respectivamente, e esperam continuar crescendo a dois dígitos neste ano. “Nos últimos seis meses, vimos aumentar o assédio de varejistas, que nos procuraram depois de desfazer parcerias com bancos”, diz Marcela Vertuan, diretora de cartões da Sorocred.

Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os cartões private label e co-branded (aqueles que, além da marca da loja, carregam uma bandeira como a Visa, por exemplo) devem atingir juntos a marca de R$ 293 bilhões em 2022. Até lá, o número de transações deverá passar dos 3 bilhões. Hoje, o segmento — que teve crescimento médio de 17% nos últimos cinco anos – representa 12% do faturamento total dos cartões de crédito.

Já para as varejistas, a participação dos ganhos com serviços financeiros (juros e tarifas de cartões, seguros e empréstimos pessoais) pode chegar a 57% do faturamento total — caso das Lojas Marisa.Em 2012, esses ganhos representaram 35%. Os dados são de um estudo da Boanerges & Cia. Consultoria em Varejo Financeiro. No caso de outra grande rede, o Pão de Açúcar, a participação dos lucros dos negócios financeiros saiu de 11% para 13,4%. E no da Riachuelo, passou de 21,7% para 23,1%.

O Itaú já cancelou mais de 300 parcerias; o Bradesco continua mais ativo, mas também já desfez alguns acordos; e o Banco do Brasil, que entrou mais tarde, também já está saindo — uma das parcerias desfeitas foi com a rede de lojas de material de construção Di Cico, informa Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia. Consultoria em Varejo Financeiro . Segundo o consultor, há mais de 100 emissoras independentes de cartões — o “mundo das Cards e Creds”, brinca. A maior é a HiperCard, herdada do Unibanco pelo Itaú..

A saída dos grandes bancos de algumas parcerias deve-se, exatamente, ao fato de que o negócio estava dando mais retorno para as lojas do que para eles, bancos. O Itaú, por exemplo, encerrou as atividades da Taí, empresa que havia constituído com a s Lojas Americanas; e saiu da rede de supermercados Sonda, entre outras. O banco continua fechando parcerias mas em outro formato, como fez recentemente com a Azul Linhas Aéreas, segundo informou a assessoria de imprensa.

É na esteira dessas parcerias desfeitas que emissores independentes crescem no mercado. “O que é pequeno para um grande banco é muito interessante para nós”, lembra Marcela. A executiva está otimista também porque ao contrário da maioria dos seus concorrentes diretos, já é uma instituição financeira há três anos – por isso, não vai precisar se adaptar às novas regras do Banco Central para o sistema de pagamentos eletrônicos. “Além disso, estamos focando em novos nichos de negócio, fora do setor varejista propriamente dito”, diz, sem dar mais detalhes da estratégia nem revelar o faturamento da Sorocred.

Já Marcelo Jacinto, gerente de marketing da DM Card, revela que depois de uma alta de 50% no faturamento o ano passado, para cerca de R$ 550 milhões, espera aumentar mais 30% em 2014. A DM Card foi a emissora que entrou no lugar do Itaú na parceria com o Sonda, mudando o modelo para o conhecido como “closed looping”. Como lembra Freire, os cartões desse tipo ficaram fora da nova regulamentação do BC – o que também é uma estratégia da empresa. “Estamos consolidando nossa base de clientes fora da área de interesse dos grandes bancos”, diz. “As emissoras regionais estão ganhando com a saída deles”.

Há 11 anos no mercado, a DM Card começou dentro de uma empresa do ramo de varejo alimentar, mas depois os funcionários compraram a operação. Hoje, 99% dos clientes é de supermercados — são 163 negócios, com presença mais forte da Baixada Fluminense ao Norte do Paraná. “A entrada de um banco de investimentos no capital acelerou o crescimento da DM Card no ano passado”, diz Jacinto.

(Por Brasil Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, espm