Na contramão do que ocorreu com seus principais concorrentes, a C&A acelerou seu crescimento no Brasil no ano passado. Paulo Correa, vice-presidente comercial da rede de vestuário, define 2013 como um “ótimo ano”. E discorda da ideia de que o varejo de moda passou para um patamar mais baixo de expansão no país.
“Quando você olha um período de tempo maior, há momentos de desaceleração e de recuperação. Isso é natural e não significa que o setor vai crescer menos do que cresceu nos últimos dez anos”, diz o executivo, em uma de suas raras entrevistas.
No caso particular da C&A, garante Correa, não houve freio de curto prazo, fenômeno que pode ser verificado nos resultados de redes com ações negociadas em bolsa, como Renner, Hering e Marisa. “Crescemos a uma velocidade maior do que nos últimos anos em 2013. Nos tornamos mais líderes do que antes”.
Correa credita o bom desempenho ao acerto na questão produtos. A C&A lançou 11 coleções em parceria com estilistas brasileiros e internacionais no Brasil no ano passado. Também lançou linhas de peças inspiradas na cultura local de cada região. “Estamos preparando um arsenal tão ou mais forte que o do ano passado para este ano”, diz.
As várias ações da companhia fizeram a categoria de roupas femininas, que já é a maior da empresa, crescer em velocidade acima dos segmentos masculino e infantil, afirma Correa.
Há 37 anos no Brasil, a multinacional holandesa, de capital fechado, permanece uma caixa-preta quando o assunto é faturamento e taxa de crescimento. Fato concreto é que a varejista é a maior do país em número de lojas. São hoje 261 unidades no total, das quais 28 inauguradas no ano passado. Os mais recentes dados disponíveis mostram a segunda colocada, a Renner, com 200 unidades e a Riachuelo, 196.
Para este ano, a C&A pretende abrir entre 25 e 30 novas unidades, concentradas, principalmente, em São Paulo, Rio e Estados do Nordeste. Além disso, a companhia se prepara para se relançar no comércio virtual, após um experiência não muito frutífera, 12 anos atrás.
Renner, Marisa e Hering têm investido cada vez mais no varejo on-line, que, embora ainda pequeno dentro do faturamento, cresce a passos largos. “Queremos voltar para o e-commerce o quanto antes, se possível ainda este ano”, diz.
O varejo de vestuário no Brasil é extremamente pulverizado e estima-se que as quatro maiores redes (C&A, Renner, Riachuelo e Marisa) concentrem menos de 12% do faturamento do setor. Para Correa, ainda existem muitas oportunidades de negócios com a bandeira C&A no Brasil e, por ora, a companhia não tem foco em aquisições.
Copa do Mundo e câmbio desfavorável para importações também não preocupam o executivo. Alguns analistas e empresários do setor de vestuário comentam que a realização do evento esportivo no país pode prejudicar as vendas, por causa do baixo movimento nos shoppings centers e eventuais fechamentos de lojas durante a competição. “Não acredito em previsões específicas sobre isso. É uma situação que a gente nunca viveu.”
Para alavancar as vendas este ano, a companhia aposta no contrato de licenciamento com a Fifa para venda de 105 tipos de produtos. É a terceira Copa consecutiva em que a C&A tem esse tipo de licença e o investimento no contrato desta edição está sendo 50% superior ao realizado nos últimos dois eventos.
Um terço dos produtos que vende em suas lojas no Brasil, a C&A importa de países da Ásia, América do Sul e Europa. Segundo Correa, o câmbio desfavorável não muda a estratégia de compras da companhia, ainda que as margens de lucro da operação possam ser reduzidas momentaneamente.
O executivo diz que a C&A busca consistência nos contratos com fornecedores. “Não dá para reduzir as compras quando o câmbio fica ruim e aumentar em seguida quando a moeda fica favorável. Temos uma estratégia de longo prazo, não trimestral”, diz.
O faturamento do varejo de moda no Brasil cresceu 8,7% no ano passado, para R$ 172 bilhões. Em volume de peças, a expansão foi de 3,4%, de acordo com levantamento do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi). A estimativa para este ano é de uma alta de 3,2% nas vendas em volume e de 8,1% em valor.