>Por Valor Online

Comandada por Tom Rutledge, a Cablevision até agora foi a única companhia de cabo a lançar um aplicativo para ver programas de televisão no tablet
Um grupo de executivos do alto escalão das operadoras de TV por assinatura dos Estados Unidos se reuniu com o diretor-presidente da Apple, Steve Jobs, no Vale do Silício, em abril do ano passado, para discutir como oferecer mais filmes e programas de TV para o computador tipo prancheta tablet iPad.

Essas conversas acabaram gerando os aplicativos para assistir à TV ao vivo no aparelho lançados esta semana pela Cablevision Systems e a Time Warner Cable , que têm o potencial de transformar o modo como as pessoas assistem à TV em casa, mas que também têm recebido críticas das emissoras.

Na reunião de um ano atrás, Jobs queria mais variedade de vídeo para o novo aparelho da Apple, enquanto os executivos do serviço de cabo Brian Roberts, da Comcast; Glenn Britt, da Time Warner Cable; e o diretor operacional da Cablevision, Tom Rutledge, buscavam novas maneiras de alcançar seus clientes. Mas ambas as metas enfrentam, barreiras, um labirinto de diferentes interesses financeiros que sustentam um dos meios de comunicações mais tradicionais dos Estados Unidos e que, no entanto, muitas vezes dificultam a capacidade de inovação do setor.

Jobs sugeriu criar um aparelho que pudesse transmitir o conteúdo da TV armazenado num gravador de vídeo digital do cliente para um iPad.

Mas Rutledge, da Cablevision, disse que as novas tecnologias digitais que as operadoras de cabo instalaram em suas redes, nos últimos anos, poderiam permitir que elas distribuíssem a programação diretamente para o iPad do cliente em casa. Isso transformaria o iPad em outro televisor que poderia ser transportado com facilidade.

A Cablevision fez isso, lançando seu aplicativo de exibição de TV ao vivo no iPad, que permite aos clientes da Cablevision assistir pelo tablet a todos os canais que podem assistir pela TV por meio de suas assinaturas de TV a cabo. A iniciativa surgiu depois de um serviço mais limitado de TV oferecido pela Time Warner Cable.

“Investimos somas gigantescas em nossas centrais de cabo para capacitá-las a fazer isso”, disse Rutledge. “É a conclusão de uma transformação completa da indústria de TV a cabo, que nos permitirá atender a todos os variados eletrônicos que estão sendo lançados.”

Os aplicativos servem como um novo recurso em favor das vendas da Apple e da indústria de TV a cabo, que não tem boa reputação quando se trata de inovação e atendimento ao cliente. A rápida evolução da mídia digital deixou muitos se perguntando se a tradicional indústria de TV a cabo pode continuar competindo com os novos rivais de vídeo on-line.

O aplicativo oferece ao público da TV a cabo, acostumado às volumosas caixas conversoras, uma experiência mais intuitiva. A nova interface oferece recursos que as pessoas passaram a esperar da internet, como busca e personalização. Ela também fornece informações sobre a programação e gerencia as gravações digitais. A Cablevision planeja lançar no meio ano recursos que vão tornar o iPad um controle remoto.

“Essa é a beleza de se navegar num aparelho como o tablet, cujo processador é muito mais poderoso que o da caixa conversora”, disse Rutledge. “A maioria dos clientes terá um tablet futuramente – possivelmente dentro de três a cinco anos.”

A principal desvantagem do aplicativo é que a programação só pode ser acessada na casa do cliente. Para poder oferecer o acesso em outros lugares, Rutledge diz que a indústria de TV a cabo terá de adotar o modelo “TV em qualquer lugar”, que oferece programação na internet, mas apenas para os clientes que puderem confirmar suas assinaturas por meio de uma senha.

“Se os provedores de conteúdo nos derem o direito de fornecer o conteúdo deles a nossos clientes quando eles estiverem em trânsito, isso pode nos tornar mais atraentes”, disse Rutledge.

Enquanto isso, algumas emissoras já questionaram se as operadoras de cabo têm o direito de exibir seu conteúdo no iPad, mesmo na casa dos clientes, gerando a possibilidade de processos contra os aplicativos de TV ao vivo. A Time Warner Cable retirou vários canais populares de seu aplicativo depois de receber queixas de empresas como Fox Cable Network, News Corp., Viacom e Discovery Communications, antes de a Cablevision lançar seu aplicativo, mais completo. A News Corp. também é dona do Wall Street Journal.

Essas empresas e outras envolvidas não quiseram comentar o aplicativo da Cablevision, embora Bob Bowman, diretor-presidente da divisão digital da Major League Baseball, a liga americana de beisebol, juntamente com o porta-voz do canal de TV YES Network, que é controlado pelo time de beisebol Yankees, de Nova York, afirmem que a Cablevision não tem direito de oferecer seus conteúdos no aplicativo.

As operadoras de cabo esperam que uma reação positiva dos clientes suavize as preocupações das emissoras. O aplicativo já é o décimo mais popular na loja App Store, da Apple, apesar de só estar disponível para os assinantes da Cablevision, quinta maior operadora de TV a cabo dos EUA com base no número de assinantes do serviço básico.

“Em geral, a maioria de nossas grandes emissoras está empolgada com isso, embora algumas estejam questionando”, disse Rutledge. “Não tivemos escolha e decidimos seguir adiante para atender a nossos clientes com uma TV a cabo que funciona nos aparelhos que têm em casa, nos aparelhos em que eles assistem à TV.”

Nat Worden | The Wall Street Journal – 07/04/2011