Depois de dois meses de fortes oscilações nos resultados mensais do comércio, provocadas pela Black Friday, o ritmo de queda do setor deve ter voltado à normalidade no primeiro mês de 2016, avaliam economistas. Segundo a estimativa média de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pela reportagem, o volume de vendas no varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, caiu 0,4% entre dezembro e janeiro, feitos os ajustes sazonais.
As projeções para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE, vão de retração de 1,2% até alta de 0,8%. Para o varejo ampliado – que considera, além dos oito segmentos analisados no restrito, os de veículos e materiais de construção – 16 analistas preveem recuo maior no mês, de 1,5%.
Fevereiro também sinaliza um alento para os varejistas. De acordo com Serasa Experian, a atividade do varejo aumentou 0,6% no país em fevereiro sobre janeiro, feitos os ajustes sazonais. O aumento foi puxado pelos segmentos de combustíveis, onde as vendas subiram 0,3%, e materiais de construção, com mais 1,6%. As vendas de supermercados e móveis e eletroeletrônicos ficaram estagnadas, enquanto as de veículos, motos e peças recuaram 4,5%, e as de tecidos, vestuário, calçados e acessórios caíram 2,2% no período. Na comparação com fevereiro do ano passado, o movimento caiu 6,6% e, no acumulado do primeiro bimestre, recuou 8,2%.
No acumulado do primeiro bimestre de 2016, apenas o segmento de combustíveis e lubrificantes, com variação de 5,8%, registrou crescimento em relação ao mesmo período de 2015. Os demais recuam: supermercados, hipermercados, alimentos e bebidas (-5,9%), móveis, eletroeletrônicos e informática (-12,3%), veículos, motos e peças (-19,0%), tecidos, vestuário, calçados e acessórios (-14,5%), material de construção (-2,4%).
Previsões
João Morais, da Tendências Consultoria, estima que as vendas restritas encolheram 0,2% na passagem mensal, mas afirma que a retração mais leve em relação à de dezembro, de 2,7%, não indica estabilização. “Depois dos ruídos dos últimos meses causados por uma mudança estrutural de sazonalidade do comércio, esperamos que a tendência de queda que vinha sendo observada se mantenha”, diz, referindo-se ao “efeito Black Friday”, que impulsionou as vendas em novembro e as derrubou no mês seguinte.
Segundo Morais, não há nenhum indício de retomada. Os principais indicadores que antecedem o comportamento do varejo começaram o ano em queda, observa: o fluxo pedagiado de veículos leves nas estradas, medido pela consultoria em parceria com a Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), diminuiu 1,6% ante dezembro na comparação dessazonalizada, enquanto a expedição de papelão ondulado, calculada com ajuste sazonal pela Tendências a partir de dados da associação do setor, ficou 3,7% menor.
Ainda nos cálculos dessazonalizados pela Tendências, as vendas reais de supermercados tiveram estagnação em janeiro, após terem recuado 1,4% no mês antecedente. “Mesmo considerando que, em janeiro, as vendas de supermercados tenham ficado mais estáveis, o contexto geral para o varejo é negativo, principalmente para os bens duráveis”, afirma o economista.
Já nos cálculos do Bradesco, as vendas de supermercados tiveram aumento no mês, de 1,6%. Mesmo assim, a equipe econômica do banco projeta que o volume vendido pelo comércio restrito ficou 0,5% menor na passagem mensal. “A despeito da elevação em relação ao mês anterior, esperamos continuidade do fraco desempenho do comércio no período”, afirma o Bradesco.
A LCA Consultores tem a mesma percepção, e destaca que as vendas do varejo ampliado devem ter diminuído com maior intensidade em janeiro (-1,8%). A partir de números da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, a consultoria estima que as vendas de automóveis, comerciais leves e motocicletas caíram 0,7% no primeiro mês do ano em relação a dezembro, com ajuste.
“O quadro para o setor automobilístico segue ruim. A demanda muito enfraquecida dificulta o processo de ajuste de estoques e deve continuar penalizando os dados de produção nos próximos meses”, diz a LCA.
Morais, da Tendências, avalia que o primeiro trimestre será o pior do ano para o consumo, tendo em vista a deterioração mais forte do mercado de trabalho, o acirramento da crise política, que aumenta as incertezas, e a inflação mais pressionada, principalmente no setor de alimentos.
Isso não significa, no entanto, que os próximos trimestres devem mostrar uma melhora na atividade do comércio, ressalta o economista. “Essa queda deve se reduzir gradualmente, preparando terreno para uma possível estabilidade em 2017″. Ainda assim, a consultoria espera que as vendas restritas terminem 2016 em nível 4,6% abaixo do de 2015. No varejo ampliado, o tombo deve ser ainda maior, de 7,8%.
(Por Eletrolar.com) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM