>“Sussurros do cérebro” trabalham para os anunciantes
O que acontece no cérebro quando assistimos a um comercial de TV que chama nossa atenção?
Para começo de conversa, aumenta a atividade das ondas cerebrais correlacionadas à atenção aumentada, revelam pesquisadores que usaram EEGs, ou eletroencefalogramas, para estudar as frequências elétricas cerebrais. Ao mesmo tempo, as ondas cerebrais que assinalam atenção menos focada tendem a se reduzir.
É o que dizem os neuromarqueteiros, um grupo nascente de pesquisadores que empregam técnicas da neurociência para analisar as reações a produtos.
O cérebro usa apenas 2% de sua energia em atividades conscientes, sendo o restante dedicado em grande medida a processamentos inconscientes. Assim, acreditam os neuromarqueteiros, os métodos tradicionais de pesquisa de mercado, como pesquisas com consumidores e discussões em grupo, são inerentemente imprecisos, já que os participantes nunca conseguem articular as impressões inconscientes que despertam seu interesse por determinados produtos.
Segundo A. K. Pradeep, fundador e executivo-chefe da firma de neuromarketing NeuroFocus, com sede em Berkeley, Califórnia, para os comerciais serem bem-sucedidos, eles precisam atingir o nível subconsciente do cérebro, que é onde os consumidores desenvolvem um interesse inicial por produtos, o desejo de adquiri-los e a fidelidade a marcas.
Os voluntários em testes de marketing da NeuroFocus usam sensores de EEG e um aparelho que rastreia seus movimentos oculares enquanto assistem a um comercial, navegam num site ou assistem a um trailer de filme.
“Medindo ondas cerebrais, podemos medir atenção, emoção e memória”, diz Pradeep. “Quantificamos as respostas subconscientes profundas a estímulos.”
Empresas de neuromarketing, como a EmSense, Sands Research, MindLab International e NeuroSense, se especializam nas técnicas mais recentes de investigação da mente.
Companhias como Google, CBS, Disney, Frito-Lay e A & E Television, além de campanhas políticas, vêm utilizando o processo de neuromarketing para testar impressões dos consumidores. E, em 2008, a Nielsen, empresa de informações sobre consumidores, investiu na NeuroFocus, conferindo credibilidade ao campo.
Defensores dos consumidores descrevem o neuromarketing como “brandwashing”, um neologismo que funde “branding”, ou gestão de marcas, e lavagem cerebral.
“Isso está exercendo sobre os indivíduos um efeito sobre o qual eles não estão informados”, razão pela qual deveria ser regulamentado, afirma Jeff Chester, diretor-executivo do Centro de Democracia Digital, de Washington, que trabalha para proteger a privacidade digital.
Chester diz que os adultos possuem mecanismos de defesa capazes de distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso. “Mas, se a publicidade agora é criada visando passar ao largo dessas defesas racionais, então as defesas tradicionais legais que protegem o discurso publicitário no mercado precisam ser questionadas.”
Proponentes da técnica, porém, dizem que o neuromarketing não passa de um barômetro mais preciso da reação dos consumidores.
“A ideia que se tem é que o neuromarketing será tão poderoso que vai fazer com que todos nós saiamos para comprar determinado sabão, como se fôssemos zumbis”, disse Paul Root Wolpe, especialista em bioética. “Mas isso simplesmente não é realista, no que diz respeito a como o cérebro funciona.”
Por NATASHA SINGER – Folha de São Paulo (The New York Times) – 14/02/2011