>O crescimento excepcional do varejo em 2010 divulgado pelo IBGE confirma o forte apetite por consumo dos brasileiros num ano em que tiveram mais oferta de trabalho, mais renda e muitos estímulos do governo para conquistar ou renovar seus objetos de desejo.
Mas antes mesmo do ano acabar, a festa foi minguando com as medidas adotadas pelo Banco Central para encarecer o crédito, principal aperitivo do consumo. E em 2011, o comércio não deve esperar o mesmo desfecho, segundo economistas
“Esse patamar de crescimento do comércio não é sustentável. Claramente estávamos muito além da capacidade de oferta da economia para atender à forte demanda. Diante disso as autoridades inciaram ações para remediar os problemas. Ações que corroboram a insustentabilidade dessa trajetória. A questão é saber se o ajuste monetário e fiscal será suficiente para lidar com o tamanho do problema”, avalia Marcelo Fonseca, economista do MSafra.
O problema citado por Marcelo Fonseca é, sobretudo, o aumento da inflação. “A maravilha do sistema (de metas para inflação, adotado pelo BC) é que o termômetro acusa quando o paciente está doente. O que nos espanta é que o paciente tem estado doente há algum tempo”.
Em dezembro as vendas no varejo já começaram a cair, segundo dados do IBGE. O economista José Francisco Gonçalves, do Banco Fator, atribui essa desalereação a dois fatores. “No detalhe dos números, o comportamento das vendas de supermercados e hipermercados, em queda há três meses, sinaliza que inflação mais alta no final do ano já começou a comer um pouco de poder de compra da população. Em segundo, as políticas macroprudenciais adotadas pelo BC afetaram a concessão de crédito com prazos menores e juros maiores”.
A expectativa é que as vendas continuem caindo. “Acredito que, em janeiro, o resultado do comércio possa até vir negativo. E para 2011, o desempenho do setor deve cair pela metade”.
Fonseca, do MSafra, acredita que as medidas que já foram tomadas e as que ainda virão, como alta nos juros e execução dos cortes no orçamento, são factíveis e vão produzir efeitos no controle da inflação. Mas não diminuem o que ele identifica como a atual “inquietação” no país.” O mercado reagiu mal ao anúncio do ajuste fiscal porque há muito ceticismo na viabilidade do plano (de corte de R$ 50 bilhões) . Eu acho que é viável, mas a questão mais importante é se é suficiente. Vamos viver mais tempo de bastante incerteza até as primeiras evidencias aparecerem”.
Thais Heredia – Portal G1 – 15/02/11