A desaceleração econômica nos países emergentes, que representam 60% das vendas globais do grupo francês Casino – controlador do Grupo Pão do Açúcar – não diminui o otimismo de seu presidente, Jean-Charles Naouri, em relação à evolução dos negócios nesses mercados. “Eu não vejo sinais de desaceleração do consumo nos próximos trimestres no Brasil. Estou muito confiante em relação ao país”, disse Naouri ontem ao Valor , durante a apresentação dos resultados semestrais do Casino.

Segundo ele, os números do Pão de Açúcar neste segundo trimestre “não são os de um país onde há diminuição do consumo”. Houve aumento nas vendas em relação ao trimestre anterior, observou o empresário.

As vendas do GPA cresceram 10,1% no segundo trimestre, de acordo com o critério do mesmo número de lojas. No segmento não alimentar, a Via Varejo – que reúne Casas Bahia, Ponto Frio e Nova Pontocom – registrou alta de 12% no segundo trimestre. “Estou bastante otimista no curto prazo e, como sempre, acredito muito no Brasil a longo prazo. As perturbações atuais não mudam a visão que tenho, que é a de um país forte e com crescimento durável”, disse Naouri. “As reivindicações da sociedade são pela melhoria do poder de compra da população e não vejo como isso poderia conduzir à desaceleração do consumo”, afirmou.

Mas os números divulgados ontem mostram que o Casino já começou a sentir o impacto da perda de vigor da economia em pelo menos um país emergente: a Colômbia, onde o crescimento de 4,8% nas vendas da filial Exito no primeiro semestre foi marcado, como diz o grupo, por um “contexto de desaceleração econômica”.

“É verdade que há uma desaceleração em relação às previsões de crescimento econômico realizadas há um ano em países como a Colômbia e a Tailândia. Mas os números em relação ao aumento do PIB nesses países permanecem elevados e extremamente satisfatórios”, diz Naouri. Na Colômbia, por exemplo, ele ressalta que economistas preveem crescimento de 3,8% da economia neste ano e de 4,5% em 2014.

Na Tailândia, onde a desaceleração é “imperceptível”, segundo Naouri, o Casino registrou um forte crescimento de 11,4% das vendas no primeiro semestre (o aumento foi de 9% se considerado o mesmo número de lojas).

“A visão não é catastrófica em relação a esses países, como se eles fossem entrar em recessão. É uma desaceleração do ritmo de crescimento”, afirma. No Vietnã, as vendas cresceram 11,4% no primeiro semestre., em relação a igual período de 2012.

As filiais internacionais do Casino (sobretudo o GPA) – que contribuíram fortemente para os bons resultados do grupo apresentados ontem – tiveram aumento de 9,7% nas vendas no segundo trimestre. Na América Latina (há também negócios no Uruguai), o crescimento foi de 10,3% e, na Ásia, houve progressão de 9,9%, superiores aos dos primeiros três meses do ano.

Se o consumo parece não dar sinais de arrefecimento nessas economias, Naouri reconhece, no entanto, que há o risco de inflação, no Brasil, e de pressões no câmbio nos países emergentes. “O risco para nós é o câmbio, mas é um risco que não cobrimos. O Casino é uma empresa global. Somos uma empresa francesa na França, brasileira no Brasil e assim por diante”.

O CEO destaca que até o momento o grupo “não vê riscos significativos de câmbio em relação às performances comerciais e financeiras” das filiais em 2013. As vendas internacionais do grupo sofreram um efeito desfavorável de câmbio de 10% no segundo trimestre, “ligado essencialmente à desvalorização do real”, informa o Casino. O faturamento global do grupo no segundo trimestre, de € 12 bilhões, sofreu um impacto negativo do câmbio na proporção de 4,7%.

Os planos do Casino em relação aos emergentes englobam importantes projetos imobiliários comerciais. Somente no Brasil, serão 35 mil metros quadrados de galerias de lojas nos arredores de supermercados até o final deste ano (já incluindo os 12,5 mil metros quadrados do shopping Conviva Américas, inaugurado em junho, no Rio).

A ideia do Casino, segundo uma fonte, é “exportar” o modelo imobiliário que já vem sendo utilizado na França há anos em relação aos hipermercados (na França, no entanto, as áreas dos hipermercados vêm sendo reduzidas e alugadas para lojas). Ainda não há mais detalhes sobre a localização dessas novas galerias comerciais no Brasil. O Casino informou apenas que irá “renovar e desenvolver centros comerciais existentes”.

“As galerias comerciais em volta dos supermercados permitem gerar aluguéis complementares e que servem também como uma almofada (para amortecer o choque) no caso da desaceleração do varejo”, disse Naouri ao comentar a inauguração do Américas, que ele chamou de “abertura eufórica, como as que ocorriam na França há alguns anos”. No segundo semestre, o Casino deverá abrir “vários projetos imobiliários significativos” na Colômbia. Na Tailândia, também haverá aceleração de projetos de galerias comerciais.

Além do crescimento internacional e da consolidação total dos números do GPA nas contas do grupo francês, os resultados do Casino no primeiro semestre também foram bastante incrementados pela consolidação dos números da rede francesa Monoprix, de supermercados sofisticados de bairro.

Há duas semanas, o Casino recebeu o sinal verde da autoridade francesa da concorrência para controlar 100% do Monoprix, após adquirir a fatia de 50% restante da Galeries Lafayette por € 1,2 bilhão. Implantado com sucesso em Paris, o Monoprix é uma mina de ouro para o grupo, já que atrai clientela com maior poder aquisitivo.

As vendas do Casino na França caíram 3,3% no segundo trimestre, em relação a igual período do ano passado – o Monoprix registrou crescimento de 2,6%. Mas ao consolidar integralmente o Monoprix já no segundo trimestre, o faturamento do grupo cresceu 7,8% no período. Os hipermercados tiveram queda de 7,9% no faturamento e, nos supermercados Casino, a diminuição foi de 5,7%.

Graças ao GPA e ao Monoprix, o faturamento global do Casino cresceu 37% no primeiro semestre, totalizando € 23,7 bilhões. O lucro líquido do Casino no período, de € 594 milhões, quase quintuplicou em relação aos € 125 milhões do primeiro semestre de 2012. Até mesmo em relação à França, Naouri está otimista e confirmou que mantém suas previsões de “retorno a números positivos” em relação ao total de visitantes e de vendas de alimentos nos hipermercados franceses até o fim do ano.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo