A produção de leite já não se paga no Brasil há dois anos e, nesse ritmo, a venda do produto pode se concentrar nas companhias gigantes, como Nestlé, BRF e Vigor. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), para a grande maioria dos produtores, a receita média está pelo menos 10% abaixo do custo total em Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
“Essa situação tende a se repetir neste ano”, diz Paulo Moraes Ozaki, analista do Cepea. “Os custos, que subiram 20% no ano passado, continuam nesse patamar. E as margens de lucro, que já eram baixas [cerca de 4%], diminuíram ainda mais.”
O problema se agravou a partir de 2004, quando o governo federal isentou o leite fluido (longa vida e pasteurizado) da cobrança de PIS e Cofins. O desconto foi dado no preço ao consumidor. Três anos depois, a desoneração incluiu mais produtos, como o leite em pó e o de caixinha, queijos, entre outros.
Mas a burocracia e a falta de uma legislação específica para a recuperação de créditos tributários praticamente impediram o acesso das empresas aos recursos.
Resultado: seis das oito maiores indústrias do ramo têm endividamento superior a 60% do seu patrimônio.
A LBR, segunda maior captadora de leite do País, tem R$ 500 milhões contingenciados – metade de sua dívida, de cerca de R$ 1 bilhão. A empresa, criada em 2011 a partir da fusão entre a Bom Gosto e a LeitBom, entrou com pedido de recuperação judicial em fevereiro.
A solução da tradicional cooperativa Itambé, também endividada, foi vender metade das ações para a Vigor, em fevereiro, por R$ 410 milhões.
Com margens pequenas, os produtores – fornecedores da indústria –, passaram a receber menos pelo litro produzido e, com menos recursos, não conseguem investir em modernização da produção, e nem no rebanho.
Por isso, embora o Brasil seja o terceiro maior produtor de leite do mundo em volume, é apemas o 11º em produtividade. Por ano, a média de produção por vaca é de 1,69 tonelada de leite. Nos EUA, o campeão, esse índice é de 9,66.
A baixa produtividade resulta em pequena rentabilidade, criando um círculo vicioso que expulsa produtores do campo. Segundo o IBGE, entre 1996 e 2006, o número de produtores caiu 26%, de 1,8 milhão para 1,3 milhão.
Uma análise feita pela consultoria Tendências mostra que, com essa baixa no campo, pelo menos R$ 2,9 bilhões deixaram de ser gerados em receita por ano.
(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo