>Notícia publicada na edição de 29/06/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A – o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Para alguns economistas, a taxa de juros elevada pode representar um sério problema a ser contemplado no processo de expansão ou não do consumo
Economistas de todos matizes ideológicos, dentro ou fora do governo, são unânimes: o fenômeno da resistência brasileira à crise financeira internacional e seus desdobramentos tem como motivo principal o mercado interno, crescente e revigorado com a atuação de consumidores das diversas faixas de renda: do topo da pirâmide social às emergentes categorias E, D e C. O avanço do consumo nas classes baixas e altas permitiu à indústria programar da simples produção de peças do vestuário aos automóveis com preços na faixa de 60 ou 70 mil reais, com mercado certo e demanda sempre em evolução. Para muitos, esse fenômeno poderia ter um limite nesse ano, face às necessidades do controle inflacionário, impedindo programação de eventuais quedas nas taxas de juros. Com juros altos – mesmo sem evoluir -, as compras poderiam ser reduzidas e frear a produção industrial no médio prazo.
Entretanto, não é esse o cenário que está sendo desenhado para a economia nacional nos próximos meses. A chamada ‘vedete da expansão brasileira’ nos último tempos – o varejo -, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, empreendida pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) – prosseguirá em escala ascendente. Pois o projetado para crescimento neste 2010, para o setor varejista, aponta 11,5%. Essa expansão de dois dígitos é o suficiente para manter as avaliações do salto do Produto Interno Bruto (PIB), do País, numa evolução que, no mundo todo, apenas perde para a China – segundo analistas internacionais.
Detalhe sintomático é que a aferição dos técnicos do IBGE ainda está aquém do esperado pelos pesquisadores da própria Confederação Nacional do Comércio (CNC) – que inclui ainda Bens, Serviços e Turismo. Pois a perspectiva do setor é de um aumento de 13,7% no varejo até dezembro de 2010. Motivo: expansão da massa real de salários da ordem de 5%. Tem mais: a concessão de crédito para o consumidor final (pessoa física) terá alta de 5,7% no ano. Some-se a tudo isso uma constatação que há muito não se repetia meses seguidos: o grau de inadimplência em baixa. No banco de dados da Associação Comercial de São Paulo, em abril do ano passado a taxa dos inadimplentes estava em 8,3% – em abril de 2010 esse índice não passou de 6,7%.
Para alguns economistas, a taxa de juros elevada pode representar um sério problema a ser contemplado no processo de expansão ou não do consumo. Os analistas de varejo concordam, mas lembram que essa questão acaba sendo compensada com o prazo maior para amortização dos débitos. Quem atua diretamente no mercado sabe bem: o prazo tem um impacto muito maior no valor da prestação do que a taxa em si. Para o consumidor final, sobretudo o comprador nascido no Brasil – a questão maior é se ‘a prestação cabe ou não no bolso’. Na verdade, esse é um dado muito mais cultural do que econômico.
Especialistas em macroeconomia consideram que o ajuste da moeda e controle fiscal nos últimos anos (do primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso aos sete anos da gestão de Lula) acabou gerando um ‘clima’ adequado para ampliar a quantidade de empregos no País, tendo ainda consolidado expansão da renda das diversas camadas sociais. Justamente essas ‘ferramentas’ do setor econômico permitiram a expansão dos prazos de compra junto ao melhor acesso ao crédito. O grande desafio – no final da gestão Lula e transição para o próximo governo, independente de quem vá ocupar o cargo de presidente no Palácio do Planalto em 2011 – é dar sustentabilidade ao processo saudável de consumo. Nesse sentido, reduzir a carga tributária e controlar bem os gastos públicos devem figurar na receita de quem vá prosseguir o processo de desenvolvimento equilibrado do País.