>US$ 500 foi o capital inicial que o empresário Alexandre Tadeu da Costa, então com 17 anos, usou para criar a rede de franquias Cacau Show. O valor foi obtido com o pagamento da primeira encomenda feita ao jovem empreendedor – 2 mil ovos de 50 gramas – na Páscoa de 1988. Hoje, a rede de lojas de chocolates finos tem 20 anos de mercado e mais de 800 franquias em todos os Estados. “Para transformar um negócio pequeno em uma franquia de sucesso é necessário a presença constante do gestor na empresa, oferecer produtos de qualidade e buscar referências em companhias bem-sucedidas”, ensina Costa.
Desde o início da rede, o franqueador também reserva tempo para pesquisar o comportamento do mercado e dos consumidores, investe o lucro no próprio negócio, aposta em inovação e em tecnologias de produção. Com quatro fábricas – em Itapevi (SP), Campos do Jordão (SP), São Paulo (SP) e Curitiba (PR) – e uma produção de mais de dez mil toneladas de chocolate por ano, a Cacau Show diversificou a oferta de produtos e ainda se especializou em trufas. A rede também ganhou fermento.
Em 2003, a partir da loja número 46, o empresário adotou o sistema de franchising. No ano passado, abriu mais de 150 franqueadas e a meta é fechar 2010 com mil lojas no país. Segundo o ranking de empresas da Associação Brasileira de Franchising (ABF), a Cacau Show é, em número de unidades, a 12ª maior rede do Brasil e a número um do segmento de bebidas, cafés, doces e salgados. Está à frente de grandes marcas como Bob’ s e Localiza Rent a Car. “O faturamento médio por unidade é de R$ 45 mil para uma loja de rua e de R$ 60 mil em shopping centers.”

Assim como a Cacau Show, outras redes de franquias, como a CNA, de ensino de idiomas, e a Lavasecco, de lavanderias, também começaram pequenas e hoje pilotam planos de expansão. Para especialistas do mercado, com a arrancada da economia, o franchising deve manter as altas taxas de crescimento registradas nos últimos anos e servir, cada vez mais, como um boa alternativa de empreendedorismo no Brasil.
“A opção pela franquia como negócio minimiza os erros e aumenta a possibilidade de sucesso”, garante Altino Cristofolleti Jr., diretor da ABF. Segundo ele, o segmento não recuou nem diante da recessão mundial e se despediu de 2009 com faturamento de R$ 63 bilhões, cifra 14,7% maior que a obtida no ano anterior – e considerada a maior receita da história do sistema no país. Há, no Brasil, 1,6 mil redes que geram mais de 700 mil empregos diretos em 20 segmentos, como alimentação, hotelaria e vestuário.
Em volume de faturamento, o segmento de franquia que mais cresceu no ano passado foi o de acessórios pessoais e calçados, com 41,2% de aumento diante de 2008. Em relação ao crescimento do número de redes, o destaque foi a área de hotelaria e turismo, com um salto de 33,3%. Já em número de unidades, os empresários do ramo de acessórios e calçados também foram os campeões, com um aumento de 23,5%.
“Em 2009, surgiram 264 novas redes, aumento de 19,1% sobre 2008, totalizando 1,6 mil franqueadoras”, diz Cristofolleti. “Já o número de pontos de venda saltou de 71,9 mil para 79,9 mil, um crescimento de 11%.” Para 2010, a previsão da ABF é que o faturamento do setor cresça até 16%, em comparação ao ano passado. O número de novas marcas deve aumentar 12% e o volume de unidades pode saltar de 8% a 10%. “A área mais procurada pelos franqueados hoje é a de negócios e serviços, seguida do setor de alimentação.”
De acordo com o especialista, o perfil dos empresários que procuram as franquias também mudou nos últimos anos. “Os candidatos ficaram seletivos, estão mais informados sobre o sistema de franchising e a marca escolhida”, afirma. “Ao mesmo tempo, são mais preparados para a gestão, estão capitalizados e contam com um número maior de linhas de crédito.” No Brasil, os Estados de São Paulo (com 39% de participação nas redes), Rio de Janeiro (12%) e Minas Gerais (8%) são os que mais concentram unidades franqueadas e 66 redes já operam no exterior.
Para garantir um lugar ao sol como franqueador, Cristofolleti aconselha avaliar se o empreendedor tem, realmente, um perfil de gerenciador de redes. Depois disso, é importante fazer um estudo da “franqueabilidade” do negócio, documentar todas as rotinas de trabalho em um manual e desenhar um plano de expansão. “Teste o negócio primeiro com unidades próprias e estruture uma equipe para dar suporte à futura rede.”
Foi o que fez a executiva Maria Alzira Linares, fundadora da Lavasecco, do segmento de lavanderias domésticas. Iniciou o franchising da marca em 2006 e hoje tem sete unidades próprias e quatro franqueadas. Antes de ser franqueadora, conheceu o outro lado do balcão. “Tínhamos duas lojas com 20 funcionários de outra marca de franquia, quando percebemos que havia espaço para mais um nicho.”
Com unidades em São Paulo e Santa Catarina, Maria Luiza pretende abrir quatro novos pontos até o final do ano. O plano de expansão prevê unidades nas principais cidades do Brasil, com mais 15 lojas nos próximos dois anos. “É preciso selecionar os franqueados não apenas pelo potencial como investidor, mas como alguém identificado com o negócio.”
O investimento total para a abertura de uma unidade Lavasecco é a partir de R$ 280 mil. O valor cobre a estrutura operacional, com máquinas de lavagem, veículo para entregas e treinamento dos funcionários e franqueados – antes, durante e após a abertura da loja. “O prazo de retorno é de 36 a 48 meses, com um faturamento médio por unidade a partir de R$ 35 mil.” A taxa de franquia é de R$ 40 mil, enquanto o capital de giro fica entre R$ 20 mil e R$ 30 mil.
Segundo Adir Ribeiro, diretor da Praxis Education, consultoria especializada em capacitação para o franchising e varejo, a maioria das franqueadoras do Brasil é de pequenas e médias companhias que começaram seus negócios por conta da boa aceitação dos clientes. “Geralmente, foram procuradas por pessoas interessadas no sistema de franchising”, avalia. “Mas, hoje, as empresas estão, cada vez mais, se iniciando no mercado com planos estruturados e capital suficiente para operar nos primeiros anos de atividade.”
Quando houve o boom do franchising, no início dos anos 1990, a rede de escolas de idiomas CNA, por exemplo, já tinha toda a estrutura necessária para a expansão. “A primeira franquia veio em 1981 com a inauguração de uma unidade em São Bernardo do Campo (SP)”, lembra o diretor Leonardo Cirino. Hoje, são 579 franqueadas.
O presidente da rede, Luiz Gama, iniciou o negócio vendendo livros de inglês, de porta em porta, em Porto Alegre (RS). Chegou a ter uma equipe de 250 vendedores, até que um dia um dos profissionais, para fechar uma entrega, prometeu 12 aulas gratuitas a uma dona de casa. A “promoção” acabou virando ferramenta de venda e as aulas passaram a ser realizadas nas mesmas salas usadas para treinar os vendedores. Em seis meses, a escola que deu origem à rede contava com 2,4 mil alunos.
O projeto de expansão da CNA, que faturou R$ 553 milhões em 2009, prevê a abertura de cem unidades até o final do ano. Dessa meta, mais de 50 franquias já foram negociadas até o início de maio. “Investimos R$ 19 milhões na expansão, 27% a mais que o aplicado no ano passado.” De acordo com Cirino, a realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no Brasil trará boas perspectivas para o segmento de idiomas.
Para Paulo Ancona Lopez, diretor da Vecchi Ancona, consultoria especializada em projetos de formatação de redes, o aumento do poder de consumo das classes B e C e até a recessão contribuíram para a solidez do franchising no Brasil. “Em anos de crise, o segmento cresce em função da segurança que transmite aos empresários em termos de oportunidades de negócio e opção de investimento em shopping centers”, afirma Lopez, que tem clientes como O Boticário, L’Occitane e Mundo Verde.
Segundo Denis Santini, professor de franquias e varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), as estatísticas mostram que, das franquias abertas a cada dia, mais de 95% vão completar três anos de vida. “Isso é bastante se compararmos com as não franquias”, compara. “Apenas 40% dos negócios independentes chegam ao terceiro ano de atividade.
” Lopez afirma que as franqueadoras no Brasil já demonstram alto grau de amadurecimento. “A maioria tem um sistema formatado por meio de manuais de procedimentos e treinamentos, além de supervisão frequente das lojas, convenções anuais e canais de comunicação via intranet ou extranet. Há ainda programas de melhoria de gestão para os franqueados.” Segundo o especialista, nos próximos anos, haverá aumento de contratos nas áreas de hotelaria e turismo, além do setor de acessórios pessoais e calçados. “Deve-se também prestar atenção em alimentação, presentes e decoração.”
Uma boa oportunidade para conhecer melhor esse mercado é a 19ª ABF Franchising Expo, de 9 a 12 de junho, em São Paulo. A exposição conta com mais de 300 expositores, além de 13 marcas americanas. Este ano, uma das apostas dos organizadores do evento são as microfranquias, negócios que exigem investimentos máximos de até R$ 50 mil.

Fonte: Valor Econômico – 31/05/2010