O desejo das marcas de ampliar os negócios e aumentar o faturamento encontrou no sistema de franchising o casamento perfeito. Com um crescimento de 16,9% em 2011, as franquias estão em expansão no Brasil e, de olho no mercado, os grupos buscam cada vez mais perfis empreendedores para se tornarem uma extensão dos valores das companhias. Para os franqueadores, não basta ter dinheiro para investir, é essencial saber gerir a empresa.
Caminho menos arriscado na hora de abrir um ponto de venda ou oferecer um serviço, o franchising encontra segurança: de cada 10 empresas próprias que abrem sete fecham as portas, já no modelo de franquia, para cada 10 inaugurações apenas três se encerram. A economia estável e o acesso ao crédito são os principais fatores para que o setor esteja tão aquecido.
As facilidades e oportunidades, no entanto, não podem ser vistas de forma generalizada. Boa parte das marcas tem critérios bem definidos na hora de selecionarem um futuro sócio e a maioria acaba negando pedidos. “As marcas mais consolidadas falam mais não do que sim. É preciso estudar a região que um possível franqueado quer atuar e se tem realmente capacidade financeira. Na ansiedade de querer abrir algo, a franquia pode quebrar por não ter fôlego para enfrentar uma crise. Sem dúvida, avaliações criteriosas são fundamentais. Sem planejamento, até banco fecha”, exemplifica Denis Santini, sócio-fundador da MD Comunicação, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Mesmo em setores menos arriscados a análise de perfil do futuro empresário é primordial. Com 701 escolas de idiomas e apenas uma loja própria, a CNA tem como meta de expansão 546 novas unidades até 2016. “A franquia é um casamento, uma sociedade com a marca. Trabalhamos com diversos fatores para avaliar o perfil de um futuro franqueado e levamos em conta, por exemplo, se o negócio será familiar. As franquias que têm dado certo estão nesse perfil. Não exigimos conhecimento pedagógico ou do idioma. Grande parte dos nossos fraqueados, inclusive, não é da área acadêmica”, explica Leonardo Cirino, Diretor de Marketingda CNA, em entrevista ao portal.
No ranking das 25 marcas mais franqueadas elaborado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), as escolas de idioma estão em seis posições. A expansão do negócio pode ser compreendida em uma pesquisa realizada pela Marplan, que indica um índice de 3% de brasileiros frequentando alguma instituição. “É uma revolução. O índice significa que temos um mercado com demanda de 97%. Por tabela, a população tem se preocupado cada vez mais em falar outro idioma e, para isso, os grandes eventos que vamos sediar em 2014 e 2016 aceleram o processo de se comunicar e da gente de se expandir”, avalia Cirino.
Evolução do setor
A expectativa é que o franchising cresça 15% em 2012, segundo a ABF. Em 2011, o Brasil alcançou um índice de 16,9%, o que gerou 60,5 mil novos postos de trabalho. Para este ano, as franquias devem ser responsáveis por 913 mil empregos. Hoje, o país possui 2.031 redes operando nesse tipo de sistema, o que significa 93.098 unidades em 12 segmentos diferentes.
O acesso ao crédito, o aumento da renda da população e o ingresso definitivo das mulheres no mercado de trabalho é o reflexo dos cinco segmentos que mais faturaram no ano passado. Hotelaria e Turismo está em primeiro lugar, com 85,9%, seguido por Móveis, Decoração e Presentes (35%); Esportes, Saúde, Beleza e Lazer (24,3%); Negócios, Serviços e Outros Varejos (14,9%), Alimentação (14,5%) e Acessórios Pessoais e Calçados (13,15%).
Entre as marcas que mais expandiram negócio, O Boticário é disparado o primeiro lugar, com 3.337 lojas, 1.575 a mais que o segundo lugar, ocupado pela Colchões Ortobom, com 1.762 pontos de venda. Presente em 1.650 municípios brasileiros, a marca de perfumaria e cosmética inaugurou em 2011 240 franquias e, para 2012, espera chegar a 250 novas lojas no país.
Com um faturamento de R$ 5,5 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento de 19% em relação a 2010, o plano de expansão da marca é feito em cima de estudos detalhados. Fora os grandes centros, O Boticário prioriza cidades com mais de 30 mil habitantes, onde está em quase 100% delas. O padrão, no entanto, não é único e localidades menores, mas que tiveram o poder aquisitivo aumentado, não são descartadas.
Perfil certo
Mesmo que ocupe o quinto lugar em faturamento, a alimentação ainda é o destaque entre os segmentos mais seguros na hora de investir em um novo negócio. Sem ousadia, o Griletto pretende passar das 104 lojas atuais para 120 até o fim do ano e 150 até 2013. “Quem quer mais segurança acaba indo para a alimentação, o que não significa facilidade. Não adianta o franqueado achar que irá uma vez por semana na loja e ficará de longe, administrando o negócio. Cobramos um perfil pró-ativo e escolhemos alguém que vá entender e vivenciar isso diariamente”, avalia Ricardo José, fundador da marca.
Para a Hope, mais do que um investidor, é necessário um empreendedor. Hoje com 92 lojas, o objetivo é fechar 2012 com 130 e, até 2015, ter 350. “O modelo ideal não é aquela pessoa que tem muito dinheiro, mas que quer irá fazer do negócio algo de fato importante. Não precisa ter experiência, mesmo porque experiência a gente cria”, diz Sylvio Korytowski, Diretor de Expansão da Hope, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Além do empreendedorismo nato, outra característica fundamental do possível sócio é afinidade. “Vivemos um ótimo momento no Turismo, por exemplo, mas isso não significa que é nesse setor que todo mundo deve investir. Não adianta abrir uma franquia voltada para culinária, se não há a mínima vocação para isso. Há pessoas com perfil extremamente comercial que não conseguirão gerir um negócio que precisa de habilidades técnicas. Buscar informação e unir as habilidades pessoais é um passo para ter sucesso. Obviamente sempre alinhado ao crescimento e tendências do mercado”, afirma a economista Christiane Monteiro, da Mais Money.
A segurança da marca na hora de expandir o negócio também é fundamental na relação com o futuro franqueado. Com 30 anos de mercado, a Melissa deve se lançar ao varejo em mais de 150 lojas nos próximos cinco anos, com o nome homônimo ou ainda como a já conhecida Jelly, que está em 42 pontos de venda.
Marca mais rentável da Grendene, o grupo não aponta dificuldades para o plano ousado. “A marca tem personalidade e credibilidade. É apoiada por uma grande empresa com excelente situação financeira, a Grendene. Também tem uma comprovada capacidade de criar produtos de vanguarda. Atrai pessoas competentes e dedicadas. O resto é detalhe, só não expande se os clientes não quiserem”, indica Francisco Schmitt, diretor da companhia.
O calcanhar de Aquiles
Ainda que haja adaptação e definição do perfil do investidor, o grande vilão que pode impedir o crescimento pleno do sistema de franchising é o mercado imobiliário. Citado como o maior empecilho por todos os grupos de diferentes segmentos, segundo a Associação Brasileira de Franchising, o alto custo dos imóveis, incluindo luvas e aluguéis, inibiu a abertura de novos pontos de venda.
Diversas marcas não têm conseguido repassar o custo do aluguel para o preço do produto ou serviço oferecido. No último ano, o valor aumentou entre 2% e 4%, principalmente no primeiro semestre. “O mercado de franquia cresce acima do PIB há mais de 10 anos. São números exponenciais, mas os pontos comerciais têm levado a uma migração, o que acaba alavancando o comércio em outras regiões”, avalia o especialista Denis Santini.
Para os empresários, mais do que supervalorizados alguns imóveis ficaram inviáveis. “Existe uma supervalorização de imóveis, principalmente nos shopping centers. Porém os valores também flutuam muito de acordo com o desejo da marca naquele local. No mercado de moda íntima, que tem crescido muito no país, os shoppings precisam de mais empresas dentro dele e viabilizam a preços melhores. A lição é não permitir uma franquia caso o valor do imóvel seja um empecilho”, indica Korytowski.
(Por Mundo do Marketing) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo