Um mês após os supermercados, em comum acordo, terem suspendido a prestação do serviço de embalagem das compras realizadas por seus clientes em suas lojas, já é possível avaliar algumas consequências dessa que foi uma das maiores violências contra o consumidor nos últimos tempos.
Antes, porém, vale lembrar que a medida, como havíamos escrito anteriormente, é irreversível e o preço de tantos equívocos na condução desta questão, coube e caberá aos supermercados. Ficou uma imagem negativa (mais uma) contra o setor, algo como “nós contra eles”. O consumidor guarda isso na memória e na primeira oportunidade vai se vingar contra o opressor. Tudo poderia ter sido diferente; bastava envolver-nos no processo de mudança, pura miopia.
Mas, vamos lá, avaliando os impactos da medida, temos experiências próprias e de terceiros. No meu caso, tenho mais um tipo de sacolas no porta-malas do meu carro, menores, maiores e até com rodízios (dois tipos). Minha mulher ganhou da mãe dela uma que vem num saquinho que cabe no bolso de uma calça ou de um casaco, minúscula, toda dobrada que, ao se abrir, se torna uma sacola enorme, prática.
Quando vou ao supermercado, levo minha sacola, coloco-a dentro do carrinho e saio fazendo minhas compras. Ao perceber que a sacola ficou cheia, vou ao caixa, deixando de comprar parte da minha lista, principalmente aquilo que se compra por impulso:
–    perda para os supermercados!
Cheguei a sair da loja com o carrinho outro dia, quando notei que havia esquecido a sacola no porta-malas. Tirei as compras do carrinho, enchi a sacola e fui embora.
Mas minha principal mudança foi aumentar as compras pela internet. Há apenas duas opções aqui em São Paulo, mas vale a pena experimentar. Em casa, compramos pela internet o básico, o que dá volume e que é chato de transportar. As compras são entregues em nossa cozinha! Não há a necessidade de ir `a loja, pegar carrinho, selecionar produtos, colocá-los no carrinho, ir ao caixa, ficar na fila, tirar tudo do carrinho, passar no caixa, embalar, (ops, agora não tem mais sacolinhas), colocar de volta no carrinho, ir ao estacionamento, tirar do carrinho, colocar no porta-malas, dirigir até em casa, tirar tudo do porta-malas e levar até a cozinha. Os que moram em apartamentos, ainda têm que usar o carrinho da garagem, pegar o elevador, tirar tudo do carrinho e devolver o carrinho na garagem.
Pois é, a compra pela internet evita tudo isso, as compras são muito bem embaladas, tudo em caixas lacradas, que aliás, devem custar muito mais caro que as sacolinhas. A entrega é paga, mas se você planejar bem, vale a pena pois fica diluída no valor final da compra.
Com isso, reduzi as compras em supermercados para minhas cervejinhas, (vinhos compro em sites especializados), meus queijos, conservas, frios especiais. Minha mulher vai uma vez por semana num sacolão devido a qualidade das frutas e verduras e tudo vem com sacolinha, pois os sacolões não aderiram à medida por trabalharem com material reciclado. Sacolão com sacolinha: isso dá uma boa campanha, não é? Rsss..
Aqui em casa, nossa colaboradora disse-nos que a loja em que ela comprava está `as moscas. Ao descer do ônibus, aproveitava para fazer as compras, mas com o fim das sacolinhas, deixa para comprar num mercadinho mais próximo de sua casa que continua fornecendo as sacolinhas ou que entrega em sua casa:
–    mais um ponto negativo para os supermercados!
Outro dia, numa loja localizadas num dos bairros mais nobres da capital paulista, um cliente fez questão de dizer em alta voz:
–    ia levar mais coisas, mas sem sacolinhas, não será possível!”.
É bem verdade que a economia gerada com o fim das sacolinhas nos supermercados é enorme, cerca de 0,5% de todas as vendas realizadas, porém isso não ficou de graça, há muitas perdas registradas. A maior, com certeza, não é quantitativa, é na imagem de todo um setor.
Se você tiver outros exemplos, conte-nos para aumentarmos a experiência com esse assunto que ficou engasgado em nossas gargantas.
Abraços e boas compras!

*Ricardo Pastore
Economista, Doutorando e Mestre em Varejo. Coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios do Varejo da ESPM, professor e consultor.

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