O varejo de materiais de acabamento no setor da construção civil deverá ter destaque na próxima década.

Nos Estados Unidos, o segmento é seis vezes maior do que no Brasil, mas a demanda da classe C no País aponta uma mudança de cenário, com um maior poder de compra dos clientes que deverão levar o mercado a uma expansão interessante, inclusive por conta do movimento financeiro a ser gerado. Em 2011, o mercado norte-americano viu o setor representar cerca de US$ 300 bilhões, enquanto no Brasil o volume foi de US$ 48 bilhões, entre as mais de 100 mil revendas em território nacional.

Outro destaque é a pulverização do segmento. Hoje, apenas 7,8% do setor estão nas mãos de cinco varejistas, as líderes Leroy Merlin, Telha Norte, C&C, Dicico e BR Home. Enquanto elas detém essa pequena fatia do mercado, registrada em 2010, em comparação ao varejo de alimentos esse quadro muda, afinal as cinco maiores desse setor registraram, no mesmo ano, 48,7% de participação no País.

Outro termômetro que pode ser considerado frente a perspectiva de expansão do setor vem de apurações de entidades como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que viu incremento de 9,1% no varejo de material de construção no ano passado, sendo que a média do varejo como um todo foi 6,7%. “O mercado vai continuar a crescer muito no nosso setor. Cresce em formalização, profissionalismo e em demanda por produtos mais adequados às necessidades dos clientes”, diz Jorge Letra, co-presidente da Dicico. A marca espera crescer 11% este ano e deve fechar o primeiro trimestre com orçamento acima do previsto.

Para levantar um quadro mais nítido desse setor, o Núcleo de Estudos e Projeções Econômicas (NE&PE), do grupo GS&MD – Gouvêa de Souza, elaborou um estudo aprofundado. A pesquisa da GS&MD aponta que a maior parte dos clientes escolhe a loja em que vai comprar de acordo com a proximidade de casa. Entre a classe C, 56% dos consumidores se utilizam deste critério, índice que cai para 38% na classe A, que também leva em consideração a variedade de produtos oferecida nos estabelecimentos do ramo.

Para Luiz Goes, sócio sênior da GS&MD, o principal fator para o atual crescimento do setor é, sem dúvida, a expansão da massa salarial. Ele analisa que existe mais dinheiro disponível na economia, com mais pessoas trabalhando e recebendo salários crescentes. “O varejo de material de construção traz dois pontos importantes: o desejo de reformar e construir a própria casa move significativamente os impulsos emocionais do consumidor, assim como a demanda reprimida durante muitos anos, quando a capacidade de investimento, por falta de renda, era baixíssima”, explica Goes. “Certamente este segmento será um dos mais beneficiados ao longo deste ano”.

 

Setor pulverizado

 

A área de acabamento é muito pulverizada no País, mas há oportunidades para as empresas que buscam a expansão orgânica e a incorporação de redes regionais. “A penetração que as redes de varejo organizadas têm no setor é muito baixa e isso é uma enorme oportunidade de crescimento. Acreditamos tanto nisso que lançamos no ano passado a nossa rede de franquias. Uma loja que está sozinha pode se juntar a nós e receber todos os benefícios de estar numa rede gigante de lojas”, argumenta o co-presidente da Dicico.

Para Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), quanto mais pulverizado, melhor é o mercado. “O equilíbrio é muito positivo. Temos uma boa oferta de mercado e todos os municípios brasileiros têm lojas de materias de construção. Os home centers são uma exclusividade das grandes cidades”, como indica ele.

Para o presidente da associação, o consumidor pode até pesquisar preço e aproveitar ofertas nas grandes lojas, mas o dia a dia da obra acaba sendo no comércio mais próximo. “É uma tradição brasileira. 95% das vendas de material de construção acontecem a menos de 1,5 km da obra”, diz Conz. O especialista destaca ainda que existem até aqueles casos em que o próprio pedreiro vai até a loja e depois, ao final da semana, o patrão passa para acertar. “Isso é impossível de acontecer em um home center, as lojas de bairro têm essa comodidade”, comenta o presidente da Anamaco.

Já Luiz Goes acredita que as grandes redes varejistas do setor vivem um dilema: buscam um modelo de autosserviço, mais impessoal, para dar mais agilidade operacional , mas têm de conviver com a expectativa do consumidor que requer mais proximidade das marcas de varejo e da indústria em busca de maior confiança para decidir as compras. “Estar próximo da residência evidencia algo que o pequeno varejo faz com maestria: o envolvimento e a proximidade com o consumidor”, conta Goes.

 

Pesquisa

 

A GS&MD, que apresentará amanhã para o mercado o resultado da pesquisa, conseguida com exclusividade pelo DCI, detectou análises que mostram também como 93% dos consumidores não contratam especificadores para trabalhar na obra e o pedreiro continua sendo o mais requisitado. Pintor, azulejista, eletricista e encanador também foram citados, porém em proporções muito menores. Foi constatado também que o principal fator para a escolha de um fornecedor é a flexibilidade de pagamento, na frente de características como preço, força da marca no mercado, qualidade do produto, procura dessa marca pelo cliente, entrega e atendimento. Esse padrão foi verificado tanto em home centers quanto em médias e pequenas lojas. Já para a escolha da categoria de produtos, a qualidade vem em primeiro plano. Tal critério vem seguido pela força da marca, visita frequente de representantes da indústria, solicitação dos clientes, entrega, assistência técnica na região e atendimento do representante.

 

Reunião com Ministério

 

O setor está em franca expansão, mas a indústria da construção vive gargalos, e começa a haver movimentação do mercado em busca de soluções aos entraves. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover, se reúne hoje com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland para abordar dois importantes assuntos: desoneração fiscal e importações. Ano passado, a indústria teria crescido abaixo das expectativas e isso tem preocupado cada vez mais o mercado como um todo.

(Por Gouvêa de Souza) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo