A Via (VVAR3) agora não é mais só nacional. O projeto da empresa, avaliada em quase R$ 25 bilhões na B3, acalentado para o fim de 2021 foi antecipado: o conceito de prateleira infinita global vai estrear já. Agora, ruas, avenidas, casas, prédios, fábricas e lojas dos Estados Unidos, China, Europa foram subitamente conectados ao Brasil por meio de uma parceria com a uruguaia NocNoc, que também tem acordos comerciais — eletrônicos, claro! — com Petz, Mobly e Mercado Livre.
A companhia brasileira já havia deixado claro que acelerar seu marketplace era estratégia vital e continua nessa rota. Agora, porém, ficou claro que a briga não é apenas com a óbvia rival local Magazine Luiza, que vale quase R$ 140 bilhões no pregão paulista. O “war” do e-commerce inclui ninguém menos do que o gigante Amazon, avaliado em pouco menos do que R$ 9 trilhões (mais do que toda a B3 somada).
Quando o presidente da Via, Roberto Fulcherberguer, falou sobre o assunto — rivalizar com a Amazon — pela primeira vez, logo após a oferta de ações que movimentou R$ 4,5 bilhões um ano atrás, poucos entenderam a mensagem. Como disse outro dia Fersen Lambranho, controlador da GP Investimentos e da G2D, o desafio do mundo agora é que mesmo as empresas que fizeram a disrupção dos modelos tradicionais de negócios correm o risco de serem rapidamente disruptadas também, em um ciclo brevíssimo de negócios. No Brasil, a grande briga dos aplicativos de e-commerce está concentrada entre Via, Magazine Luiza e Mercado Livre. Disparado. A Amazon, por enquanto, tem forte presença nas grandes cidades, mas sem a mesma capilaridade Brasil adentro.
Para Fulcherberguer, não é disrupção, é Brasil. São 450 cidades com presença física da companhia e mais de 1.050 lojas. Segundo ele comentou na época, entregar além da “[Avenida Brigadeiro] Faria Lima, e do [bairro] Leblon, é um arte que poucos entendem e sabem fazer, de verdade”.
Helisson Lemos, que assumiu a frente do marketplace e de inovação da Via, não deixa dúvida sobre o ritmo. “Tínhamos pouco mais de 10 mil sellers na nossa plataforma no fim de 2020. Já são mais de 53 mil agora e até o fim do ano, serão 90 mil”, conta, entusiasmado, o executivo que antes de integrar o projeto de reestruturação da antiga Via Varejo, como diretor de digital, passou 17 anos no Mercado Livre. Ao fim de março, a empresa somava 26 mil sellers. Em um trimestre, portanto, mais que dobrou sua lista.
De janeiro a março deste ano, a empresa tinha 24 milhões de unidades de produtos à venda, em termos de variedade. Significa dizer que o total foi multiplicado por dez em 15 meses, uma vez que ao fim de 2019 esse total era de 2,5 milhões. Agora, está em um ritmo de agregar 1,5 milhão de novos itens por mês a sua plataforma, de acordo com o executivo, em entrevista concedida com exclusividade ao EXAME IN.
Nos três primeiros meses de 2021, a companhia registrou um total de R$ 5 bilhões em vendas. Desse volume, pela primeira vez, pouco mais de R$ 1 bilhão foi para terceiros, o que o varejo chama de 3P — 124% mais do que um ano antes.
Mas, o que está deixando Lemos realmente empolgado nos últimos dias é a antecipação do projeto CBT, cross border trade — ou “além das fronteiras”, numa tradução livre —, por meio do contrato com a NocNoc. Nessa largada da parceria, são 70 mil produtos internacionais agregados ao marketplace da Via, mas a expectativa é que esse total de novidades internacionais alcance 500 mil produtos até o fim deste ano, podendo ser milhões nos próximos anos.
“Começamos devagar com eletrônicos, expandimos para produtos dedicados ao conceito de casa inteligente e agora estamos partindo para decoração”, comenta Lemos, em entrevista ao EXAME IN. Mas todo o projeto que o executivo cuida vai muito além.
“Além do varejo, a Via hoje tem três grandes frentes de negócios. Ser, para os parceiros comerciais, uma fintech e uma logtech, além de marketplace. Logo mais, seremos adtech também. Vamos vender publicidade para nossos sellers”, diz Lemos, evocando um dos pilares de receita da Amazon, onde nada, absolutamente nada é por acaso ou de graça, quando um cliente faz uma busca.
Conforme antecipado pelo EXAME IN em maio, a Via vai oferecer o fulfillment, o serviço completo de logística para terceiros — inclusive para além do marketplace da companhia, quando o varejista atendido está plugado em outra plataforma de e-commerce — ainda neste ano. Junto, também serão ofertadas as soluções financeiras, que vão levar o tradicional crediário da casa, um grande trunfo, até outro varejistas.
Nesse esforço, de buscar ser percebida como uma “retailtech”, a internacionalização dos produtos é um caminho importante para a Via. Lemos explica que nem Via nem NocNoc possuem um contrato de exclusividade. Portanto, é possível — e deve ocorrer — que outros se tornem parceiros no futuro.
A NocNoc já cuida desde a precificação, ao câmbio e até aos impostos, além da logística de produtos internacionais. Faz também o porta-a-porta da gringa até o consumidor brasileiro. O acordo prevê que 12% de tudo que for gerado na plataforma da Via fique para a empresa (o famoso take rate). “O front-end para o comprador é muito simples. Parece uma compra local”, diz Lemos.
(Por Exame – Graziella Valenti)
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