O ritmo de expansão mais forte e as perspectivas econômicas relativamente melhores levaram o setor de franquias a registrar um crescimento nominal de 7% no 1º trimestre deste ano, ou seja, um ritmo mais intenso se comparado ao mesmo período de 2018 que foi de 5,1%. O faturamento passou de R$ 38,762 bilhões para 41,464 bilhões. Considerando-se os últimos 12 meses, o crescimento foi de 7,5% (variação de R$ 165,190 bilhões para 177,545 bilhões). Os dados são da Pesquisa Trimestral de Desempenho do setor realizada pela ABF – Associação Brasileira de Franchising.
Analisando-se o quadro macroeconômico nacional, nota-se que, embora as expectativas iniciais do ano fossem mais otimistas, houve o agravamento de alguns indicadores importantes como o desemprego, tímido crescimento do PIB, baixa produção industrial e falta de agilidade no trâmite de reformas importantes para o país. Por outro lado, a inflação se manteve baixa, assim como os juros, e o varejo demonstrou maior vigor em vários ramos, com destaque para e-commerce e serviços.
“O cenário se mantém complexo, mas dois fatores contribuíram para o desempenho do setor. O ritmo mais forte de expansão em 2018 e de janeiro a março de 2019 – associado
à definição do quadro eleitoral e a um mercado de trabalho desaquecido – e alguns movimentos positivos no varejo alavancados por um consumidor menos retraído. O crescimento do setor reflete também os ajustes realizados pelas redes nos últimos três anos, principalmente a busca por mais eficiência, o desenvolvimento de modelos de negócio mais enxutos e a diversificação de canais de venda, linha de produtos e consumidores”, afirmou André Friedheim, presidente da ABF.
Quanto ao movimento de abertura e fechamento de lojas no 1º trimestre de 2019, o estudo apontou uma variação positiva do saldo total de 2,5%, mais do que o dobro do 1º trimestre de 2018, já que foram abertas 3,7% dessas unidades e houve o fechamento de 1,2% delas. São registradas atualmente 156.693 unidades de franquias no país. “Depois de um período de maior conservadorismo, tanto entre as redes, como entre os investidores, temos notado uma disposição maior na área de expansão. A melhoria das perspectivas econômicas certamente ajudou, mas creio também que o franchising tem se consolidado cada vez como uma opção mais segura para empreender. Mais empresas e mais pessoas tem considerado esta opção, o que é muito bom para o setor manter seu processo de reinvenção constante”, declarou Friedheim.
A pesquisa indicou também uma elevação de 2,05% no número de empregos diretos do setor no trimestre em relação ao final de 2018, totalizando 1.325.844 trabalhadores. Para o presidente da ABF, “a conjugação de unidades e empregos mostra mais uma vez o papel fundamental do setor na geração de postos formais. Se as reformas andarem no ritmo necessário e alguns problemas estruturais do estado brasileiro começarem a ser enfrentados, estou seguro que podemos contribuir ainda mais e em todo o país”.
Entre os segmentos que apresentaram maior variação de crescimento nos meses de janeiro a março deste ano, Casa e Construção registrou um crescimento de 12,9% no seu faturamento na comparação com o mesmo trimestre de 2018. O resultado expressivo reflete, além de uma taxa de expansão em unidades de 7,4%, o aquecimento de área de reparos e melhorias nos imóveis.
O segundo melhor desempenho ficou com o segmento de Serviços Automotivos, que cresceu 12,7% no mesmo período. Este resultado foi impulsionado pela recuperação do mercado automotivo de forma geral, que apresentou recordes de vendas de veículos novos na comparação com os anos anteriores. O crescimento da frota repercutiu em toda a cadeia, incluindo os serviços prestados pelas franquias. O ramo de franquias de aluguéis de carros também contribuiu de forma importante com este movimento.
Também apresentaram bons resultados os segmentos de Comunicação, Informática e Eletrônicos e Serviços e Outros Negócios, com crescimentos de 9,7% e 9,6%, respectivamente. No primeiro segmento, o destaque ficou por conta de serviços de manutenção e reparo de eletroeletrônicos e de marketing e design digital. No segundo caso, à exemplo dos trimestres anteriores, foram as franquias de logística e serviços administrativos que alavancaram o resultado.
Saúde, Beleza e Bem Estar voltou ao grupo dos segmentos que mais crescem, com uma taxa de 9,2%, com uma expansão em unidades de 6,7%. O crescimento mais intenso das óticas e dos serviços médicos e odontológicos alavancaram este desempenho.
Depois de alguns anos de queda, cresceu a participação dos shoppings enquanto local do ponto de venda, passando de 21,5% em 2018 para 24,9% em 2019. “Desde o ano passado os shoppings esboçam uma reação que começa a aparecer em nossos números. A vacância e a mudança do mix, com mais lojas de alimentação e entretenimento, criaram boas oportunidades para o franchising”, explica Vanessa Bretas, gerente de inteligência de mercado da ABF. Esse movimento, no entanto, não reverteu outra tendência registrada nos últimos anos, o crescimento dos pontos alternativos, com destaque para o home office, cuja participação passou de 4,9% em 2018 para 6,7% em 2019.
Em termos de modelo de operação, houve um crescimento expressivo dos quiosques (de 6,5% em 2018 para 8,6% em 2019), mas outras modalidades alternativas têm participações relevantes como é o caso de Home-based (6%) e Atendimento à Domicílio (2,1%).
E-commerce e Multifranqueados
Pela primeira vez, a ABF perguntou as redes a respeito de sua estratégia de e-commerce. 61,1% delas afirmaram que utilizam as vendas online como canal (esse montante em 2018 era de 42,3%), sendo que em 48,1% delas os franqueados participam (contra 30,1% em 2018). O formato de participação dos franqueados predominante é a de comissão sobre as vendas (79,2%), seguido de loja virtual do franqueado (9,1%) e app de delivery (7,2%). “Esses dados são bastante reveladores e mostram que o franchising brasileiro está se adaptando a transformação digital. Porém, precisamos ir mais fundo. Por exemplo, a retirada em loja franqueada de produtos adquiridos no e-commerce, uma grande oportunidade, é adota apenas por 0,9% das redes”, afirmou Friedheim.
O fenômeno dos franqueados que gerem mais de uma unidade continua a se aprofundar. Em 2019, o volume de redes que possuem este modelo atingiu 82%, contra 74,5% em 2017. No entanto, com o movimento de expansão mais intenso, a participação percentual de multifranqueados dentro das redes passou de 23% em 2017 para 17% em 2019. Caiu também a participação das unidades administradas por multifranqueados, de 37% em 2017 para 32% em 2019. “Quanto a expansão é mais intensa, é comum que novos empreendedores ingressem no sistema, ainda mais com o mercado de trabalho em ritmo tão lento”, afirma Vanessa Bretas. Os franqueados multimarca (ou seja, que gerem mais de uma unidade de mais de uma marca) apresentaram maior estabilidade, com 40% das redes a firmando que tem franqueados com este perfil em 2019 (contra 43% em 2017), sendo que na quase totalidade dos casos os franqueados trabalham com de 2 a 4 marcas.
(Por Mercado&Consumo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Franquias