Com um contingente de mais de 100 milhões de consumidores, a classe C está gastando mais com serviços do que com produtos. Pesquisa do instituto Data Popular mostra que, neste ano, para cada R$ 100 de despesas, R$ 65,20 foram para a remuneração de profissionais e empresas prestadoras de serviços, enquanto em 2002, eram gastos R$ 49,50. E para a compra de bens e artigos diversos são R$ 34,80 em 2011, mas em 2002 esse percentual era bem maior, de R$ 50,50, de cada R$ 100. O professor do núcleo de estudos do varejo da ESPM, Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, disse que a era do preço baixo sem valor agregado acabou. “Quase 80% da população da Classe C decidia pelo preço baixo. Agora, o consumidor quer pagar um preço justo pelo produto que confia para a família dele. Produtos com serviços são importantes para esse consumidor”, disse Roberto.
O segurança Rômulo de Jesus é uma prova da mudança de hábitos. Viajou de avião pela primeira vez neste ano, para Porto Seguro, onde ficou sete dias com a família e gastou R$ 3.500. “Agora, quero ir para Cabo Frio”, contou Rômulo, que tem mais confiança no orçamento familiar. Os gastos dele com entretenimento, como ir ao cinema e ao shopping, são de R$ 150, por mês. “Gasto mais fora de casa do que dentro”, disse ele.
A doméstica Diane Rodrigues da Silva, 30, disse que come fora de casa e vai ao salão de beleza nos fins de semana. “Minha vida mudou para melhor neste ano. Saio mais, eu me divirto, vou ao shopping”, contou. Com renda familiar de R$ 1.200, Diane e o marido também viajam nas férias. “Fui para Ipatinga, na casa da minha sogra. Antes, não dava”.

Renda muda o perfil da pessoa

O professor da ESPM Roberto Nascimento disse que a “mudança do DNA” do consumidor em relação aos gastos aconteceu também devido à melhoria de renda do trabalhador. Com emprego garantido, a cozinheira Alessandra dos Santos, 37, disse que consegue fazer unha da mão e do pé toda semana, por R$ 15. Ela conta que tem se deslocado mais de ônibus para economizar porque a família está gastando muito com as despesas do carro recém-comprado, que é usado mais para passeios. (HL)

PRETENSÕES

Enquanto esperava o ônibus, o operador de forno Ronaldo Pereira, 29, contou que pagou à vista R$ 3.000 por uma viagem de uma semana com toda a família para Cabo Frio. Agora, o próximo sonho de Ronaldo é acabar de construir a casa própria da família, em Betim, nas região metropolitana. Tudo isso, com uma renda mensal de R$ 1.500.
Com bolsa, roupas e pulseiras da moda, a doméstica Diane Rodrigues disse que já tem tudo dentro do lar, referindo-se aos eletrodomésticos. O próximo desafio é ter a casa própria.

(Por Jornal O Tempo) Varejo, Núcleo de Estudos do Varejo