A Livraria Cultura entrou com pedido de recuperação judicial, segundo comunicado distribuído na quarta-feira, 24, a editoras e outros credores da empresa, como empresas de shopping center. Mesmo depois de receber, em 2017, uma injeção de cerca de R$ 130 milhões para assumir as operações da rede francesa Fnac no País, a companhia não conseguiu solucionar seus problemas financeiros e teve de recorrer à proteção da Justiça.

Caso a Justiça aprove a recuperação, a empresa ganhará um prazo de seis meses para negociar seus débitos. As dívidas bancárias da livraria seriam de R$ 70 milhões, conforme apurou o jornal O Estado de S. Paulo, além de um valor considerável com outros fornecedores. A companhia foi criada por Eva Herz, em 1947, e atualmente é comandada pela terceira geração da família.

Os problemas da Livraria Cultura começaram a ficar evidentes em 2015. Desde então, o faturamento da companhia teria caído em quase 30%. A receita reportada pela empresa foi de R$ 440 milhões em 2014. Em 2016, o valor recuou para R$ 360 milhões. Desde então, a Cultura, que tem capital fechado, deixou de divulgar o faturamento, embora o setor afirme que os números pioraram e que o negócio opera no vermelho. Nos últimos quatro anos, a rede dispensou cerca de 40% de seus funcionários.

Editoras

Os atrasos nos pagamentos às editoras pela companhia, superam a marca de seis meses, dizem fontes do setor. O problema é agravado pelo fato de a Cultura pegar os livros em consignação. A dívida com editoras se refere, portanto, a títulos efetivamente vendidos, pois a consignação permite o retorno dos exemplares encalhados. O problema do mercado editorial é agravado também por atrasos de pagamentos da Saraiva, que hoje também passa por uma reestruturação.

No comunicado distribuído na quarta-feira, 24, a Cultura afirmou que o pedido de recuperação judicial foi necessário em razão do cenário econômico brasileiro e do mercado editorial – que, segundo a companhia, encolheu 40% desde 2014. Com o pedido de recuperação judicial, a empresa diz pretender “normalizar, em um curto espaço de tempo” os compromissos firmados com os fornecedores.

No comunicado, um dos objetivos da Cultura é se tornar mais digital – segmento que já disputa com a gigante Amazon. “Já somos uma empresa mais enxuta, eficiente e preparada para enfrentar os desafios do varejo na era do e-commerce”, diz a livraria. “Estamos sintonizados à ideia de que nossas lojas não vendem apenas produtos e serviços, mas também experiências que transformam a vida de nossos clientes.”

A Cultura recebeu cerca de R$ 130 milhões da Fnac para assumir a operação da rede francesa no País. Parte desses recursos, segundo fonte próxima à empresa, foi usada para aliviar os problemas financeiros que a empresa enfrentava e para comprar o site de livros usados Estante Virtual. Quinze meses após o negócio com a Fnac, a Cultura fechou todas as lojas que a estrangeira tinha no País.

A empresa vem enxugando a própria operação. Neste mês, anunciou o fechamento de duas unidades no Rio de Janeiro: a do centro da cidade, e a do Fashion Mall, em São Conrado, passando a atender o mercado carioca só pela internet. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 (Por Exame) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Livraria Cultura